publico@publico.pt - 27 ago. 14:09
Sem paz, não há progresso
Sem paz, não há progresso
Acreditamos que um mundo mais justo, mais inteligente, mais humano começa pela coragem de escolher a paz. Não uma paz frágil que depende do outro. Mas uma paz forte que começa dentro.
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Entre o caos e o cuidado, o que as mulheres já constroem em silêncio! Vivemos tempos barulhentos. Sirenes, manchetes, algoritmos, ruídos emocionais. Há uma tensão constante entre fronteiras, famílias, empresas e redes sociais. Em nome da eficiência, da razão ou da segurança, atropelamos a escuta, o tempo e o outro. E é aí que a paz começa a desaparecer: quando deixamos de nos conectar.
Do ponto de vista feminino, a paz não é só a ausência de guerra. É a presença de equidade, diálogo e propósito. É o que nos permite respirar fundo, sonhar, crescer e empreender mesmo em tempos difíceis.
Mas não dá para falar de paz sem tocar nas feridas que a tornam impossível para tantas. Não há paz possível onde a desigualdade cresce todos os dias, onde a violência contra mulheres e crianças persiste silenciosa, onde o racismo estrutura acessos, silencia vozes e define quem pode e quem não pode existir plenamente. Esses não são detalhes do cenário. São o centro da nossa luta.
E quem vive essas dores sabe que não dá mais para esperar. Escolhemos agir. Criamos campanhas de acolhimento a mulheres migrantes. Promovemos formações sobre liderança e educação financeira. Reunimos mulheres de diferentes culturas para falar sobre saúde mental, maternidade, trabalho e segurança. Participamos de encontros sobre políticas públicas, equidade racial e justiça social. Fazemos isso porque acreditamos que política também se faz com afeto, presença e ação cotidiana. Essas são práticas de paz.
Porque manter a paz também é garantir acesso. É abrir espaço. É construir redes de apoio reais. É permitir que mulheres racializadas, imigrantes, mães solo e tantas outras que vivem à margem deixem de apenas sobreviver. E possam finalmente viver com dignidade.
Empreender exige coragem. Mas também exige confiança, saúde emocional, rede de suporte e ambiente minimamente estável. Como é possível inovar quando se vive em estado de alerta? Como criar quando o medo dita as regras?
A ausência de paz mina o presente e adia o futuro. O risco é nos acostumarmos ao caos, seguirmos em frente operando no automático. Sem escuta. Sem empatia. Sem pausa. Mas o mundo não muda no automático. E a inovação não nasce do medo.
Paz não é um conceito abstrato. É prática diária. Exige escuta ativa, presença, escolhas conscientes. Exige responsabilidade emocional e compromisso com o outro. E, sim, exige coragem.
Na prática, isso significa investir em educação como ferramenta de transformação. Criar ambientes de trabalho que respeitem o tempo, o corpo e a voz das mulheres. Apoiar redes femininas que transformam comunidades inteiras mesmo sem fazer barulho. E reconhecer que a paz começa quando cada uma de nós escolhe não se calar diante do que nos fere.
A paz não se impõe. Mas pode e precisa ser semeada. E nós sabemos fazer isso. Muitas de nós já construímos pontes no meio do caos. Transformamos a dor em força. Silêncio em potência. Ruído em direção. Porque aprendemos, na pele, que resistir não basta. É preciso criar. Recriar. Inspirar.
E é por isso que seguimos. Porque acreditamos que um mundo mais justo, mais inteligente, mais humano começa pela coragem de escolher a paz. Não uma paz frágil que depende do outro. Mas uma paz forte que começa dentro. Que se espalha pelos gestos, pelas escolhas e pelas vozes que não aceitam mais o que sempre foi.
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