publico.pt - 29 ago. 12:01
Paquistão retira mais de um milhão de pessoas de casa após inundações devastadoras
Paquistão retira mais de um milhão de pessoas de casa após inundações devastadoras
As monções destruidoras, que são o “novo normal” no Paquistão, e a libertação de água das barragens indianas obrigou à retirada de milhões de pessoas no Punjab.
As autoridades do Paquistão evacuaram as casas de mais de um milhão de pessoas na província de Punjab, nesta semana, informaram na quinta-feira, 28 de Agosto, após as piores inundações das últimas quatro décadas terem causado estragos em centenas de aldeias, inundado culturas de cereais essenciais para alimentar as populações.
As chuvas torrenciais e a libertação do excesso de água das barragens da Índia fizeram transbordar três rios que desaguam naquela província oriental e causaram a inundação de mais de 1400 vilas, acrescentaram as Autoridades de Gestão de Desastres de Punjab.
Os moradores de aldeias como Qadirabad faziam travessias com água até ao peito, na passada quinta-feira, depois de o rio Chenab ter transbordado.
“Passámos a noite inteira acordados e assustados”, disse à Reuters Nadeem Iqbal, um trabalhador de 26 anos, enquanto atravessava a água com um dos seus filhos. “Toda a gente estava assustada. As crianças choravam, as mulheres estavam preocupadas. Ficámos impotentes”, contou.
As autoridades afirmaram que as inundações pioraram no Punjab — zona de grande produção de trigo, arroz e algodão e casa para metade da população paquistanesa — depois da libertação de água dos rios Ravi, Sutlej e Chenab, a partir de barragens indianas que ficaram cheias.
A Índia, que, de forma recorrente, liberta água das barragens quando elas enchem, emitiu três alertas de cheias para o Paquistão nesta semana, chamando-lhes “medidas humanitárias”.
Ambos os países estão a enfrentar uma devastadora época de monções que tem provocado inundações repentinas. Pelo menos 60 pessoas morreram neste mês na região indiana de Kashmir, que foi particularmente afectada. O Paquistão regista 819 mortes.
Morreram pelo menos 12 pessoas, nesta semana, na província de Punjab, disse Marriyum Aurangzeb, um dos ministros daquele governo provincial.
Um desastre evitadoNa quinta-feira de manhã, as águas do rio Chenab ameaçavam fazer colapsar uma barragem de betão com 1000 metros de comprimento em Qadirabad, que regula o caudal, desviando parte da água para uma rede de canais de irrigação. O colapso da barragem teria inundado duas cidades próximas.
Para evitar o perigo, as autoridades explodiram deliberadamente parte da margem do rio, em dois locais, para dispersar a libertação da água para as terras próximas antes de esta chegar à barragem, informou a autoridade provincial de Gestão de Desastres.
Na quinta-feira à tarde, o nível baixou para 21.376 metros cúbicos por segundo, tendo atingido quase 28.316 metros cúbicos por segundo durante a noite – bem acima da sua capacidade de 22.653 metros cúbicos por segundo. Um metro cúbico por segundo equivale a mil litros cúbicos por segundo.
“Evitámos um desastre”, confirmou um porta-voz da autoridade mencionada anteriormente. A mesma fonte afirmou que a mudança nos padrões climáticos é a grande responsável pelas inundações no Paquistão, que tem sido um problema maior nos últimos anos.
Em 2022, as inundações causadas por monções históricas destruíram estradas, plantações e diversas infra-estruturas. Morreram pelo menos 1000 pessoas.
O chefe da Agência Nacional de Gestão de Desastres do Paquistão, Inam Haider Malik, disse que, pela primeira vez, convergiram, naquele país e nesta época de monções, eventos meteorológicos provenientes do leste, sul e oeste. O ministro do Planeamento, Ahsan Iqbal, disse que estas alterações climáticas são “o novo normal”. “Mas são geríveis”, acrescentou.
Do outro lado da fronteira, os níveis dos rios dos Himalaias começaram a retroceder depois de dias de chuvas torrenciais.