publico.pt - 29 ago. 20:58
Serralves: administração contraria ex-presidente e diz que não tem sofrido “pressões”
Serralves: administração contraria ex-presidente e diz que não tem sofrido “pressões”
Fundação do Porto reage a entrevista de Isabel Pires de Lima ao PÚBLICO. Antiga presidente renunciou ao cargo sem poupar críticas a Ana Pinho, que lidera o conselho de fundadores.
Num comunicado que fez chegar às redacções já depois das 19h desta sexta-feira, o conselho de administração da Fundação de Serralves reagiu às declarações feitas pela sua ex-presidente e antiga ministra da Cultura Isabel Pires de Lima, que o retratou como permeável a "pressões", reafirmando a sua isenção.
“O conselho de administração é um órgão colegial, constituído por pessoas com diferentes percursos de vida e profissionais, e não se sujeita, nem nunca se sujeitou, a pressões, internas ou externas, não podendo aceitar que se ponha em causa a sua independência e sentido crítico”, asseguram os administradores, que abrem o documento começando por lamentar “afirmações proferidas à imprensa” por Pires de Lima, que há três dias renunciou ao cargo de presidente de Serralves por “falta de confiança institucional”.
A professora emérita da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, que esteve ligada à fundação nos últimos nove anos, primeiro como representante do Estado no conselho de administração, deixou a liderança de Serralves, “com efeitos imediatos”, na terça-feira, alegando que havia “pressões externas” àquele órgão a condicionar os processos de decisão a ele afectos.
Mais tarde, em entrevista ao PÚBLICO, disponibilizada aos leitores na quinta-feira, a ex-presidente detalhou a origem dessas pressões e deu-lhe um nome – Ana Pinho, sua antecessora no cargo e hoje presidente do conselho de fundadores de Serralves.
“Ana Pinho foi uma presidente muito importante para Serralves, mas não está a saber deixar de o ser”, sublinhou a antiga governante, dando um exemplo concreto da sua ingerência nos processos de decisão, mas sem nunca deixar de afirmar a sua “lealdade” para com a gestora no período em que trabalharam lado a lado (Pires de Lima foi vice-presidente entre 2016 e 2024, quando era Pinho a presidência da fundação).
“Estou a dizer é que há um exercício de influência dela [Ana Pinho] junto de alguns membros do conselho de administração que fazia com que a operação que caberia a mim coordenar estivesse permanentemente a sofrer pressões”, disse Pires de Lima na entrevista já citada. “Criou-se um clima de tensão e de falta de consenso, e transmitia-se que essa tensão imperava entre os fundadores. Muitos colaboradores foram recebendo pressões e queixas da dra. Ana Pinho relativamente a mim.”
O conselho de administração, desde terça-feira presidido interinamente por Fernando da Cunha Guedes (CEO da Sogrape), garante agora que mantém “um excelente relacionamento institucional com o conselho de fundadores e com a sua presidente”, num quadro em que os dois órgãos respeitam os seus “respectivos papéis e níveis de responsabilidade”.
Isabel Pires de Lima, 73 anos, afirmou também ao longo da entrevista feita um dia depois de ter renunciado ao cargo que ocupava há apenas oito meses que reconhece na actual presidente do conselho de fundadores qualidades de gestão e até que não teria sido presidente sem ela, mas garantiu ser incapaz de aceitar uma situação em que dirigiria a fundação apenas no papel.
“(…) A dra. Ana Pinho exige algo que parece ser uma vassalagem num feudo próprio, para a qual não estou disponível”, disse Pires de Lima. “Senti-me sobretudo desautorizada e com pouca capacidade para avançar nas linhas estratégicas [que defini para a fundação].”
O PÚBLICO procurou ao longo do dia ouvir vários elementos do conselho de fundadores e da administração de Serralves, a começar por Ana Pinho, naturalmente, mas todos os contactados optaram por não prestar declarações.