Gonçalo Morais - 27 abr. 19:00
O Papa Francisco morreu novo
O Papa Francisco morreu novo
O Papa Francisco apelou aos jovens que não tenham medo de assumirem a sua fé, de se aventurarem para fora das suas zonas de conforto entre as paredes das igrejas e que sejam tolerantes, mantendo-se fiéis e coerentes. Ter filhos mais católicos do que os pais é uma realidade nova no mundo Ocidental e o Papa Francisco foi e será o Papa dos nossos filhos - porque foi sempre mais novo do que nós.
De há uns anos a esta parte os movimentos de jovens católicos conservadores multiplicaram-se. É um fenómeno recente que cresceu rapidamente. Tudo mudou e muito depressa. Com a pandemia foi bastante visível e as discussões sobre religião entre os mais novos rapidamente passou a versar mais sobre temas como comunhão da boca ou na mão e a missa antiga do que sobre os evangelhos. Nos últimos anos, no mundo Ocidental o catolicismo perdeu a batalha contra a cultura woke e as águas separam os jovens como raramente se tinha visto nas anteriores gerações. Na altura dos pais de hoje ser católico era um hábito, nos dias de hoje há muitos que acham que um genuíno padre católico deve usar o hábito. O Vaticano II, que abriu as portas da Igreja ao mundo e convidou os leigos a serem parte ativa e força viva nas paróquias, movimentos e nas várias dimensões da igreja católica, foi revisitado. Alguns dos temas debatidos na altura, como o excesso de clericalismo ou um papel mais ativo das mulheres na vida da igreja, foram alguns dos motes do Papa Francisco e novamente discutidos. O todos, todos, todos do Papa Francisco foi um apelo a isso mesmo: a uma igreja de acordo com o Vaticano II.
No mundo dos mais novos vive-se a fé dos pés à cabeça, uma novidade para os pais que cresceram numa sociedade e numa época em que ir à missa era apenas uma obrigação de rotina que vinha do tempo dos avós e em que o catolicismo era uma coletânea de preceitos morais. Mas os atuais jovens católicos não ficam a meio caminho. Aderem aos campos de férias católicos como uma porta de entrada para o mundo da Fé e de encontro com a Igreja, e chegam renovados a casa com novas rotinas, novo ânimo e um olhar diferente. Aderem às vigílias de adoração e aos serões em noites de oração sem hesitar, inscrevem-se em missões de voluntariado por iniciativa própria e são eles hoje que arrastam os pais para caminhos de fé. Os nossos filhos não se vão confessar porque os pais mandam, vão-se confessar apesar dos pais não irem; participam na missa porque sentem necessidade e não por serem obrigados e recebem os sacramentos por opção e não porque é suposto. Quando escolhem o caminho da fé é em plena liberdade e sem cedências. Querem saber tudo, questionam tudo e não se deixam ficar com respostas simples como “é assim porque sempre foi” nem acreditam no deus castigador do tempo dos avós que manda para o inferno quem falta à missa na terra. Não têm vergonha em demonstrarem a sua fé, benzem-se e rezam em público sem hesitação e assumem como designo a coerência entre o que pregam e fazem.
Do outro lado estão os jovens que nunca puseram os pés numa igreja, que não sabem rezar o Pai Nosso e que acham um mistério maior do que Ressurreição o sacramento da Reconciliação. São ainda a esmagadora maioria e a tendência para que a minoria se acantona, se afaste de quem não partilha dos mesmos hábitos, crenças e vivências, é cada vez mais visível.
É a este novo mundo dos jovens que o Papa Francisco falou. Apelando a que os jovens não tenham medo de assumirem a sua fé, de se aventurarem para fora das suas zonas de conforto entre as paredes das igrejas e que sejam tolerantes mantendo-se fiéis e coerentes. Ter filhos mais católicos do que os pais é uma realidade nova no mundo Ocidental e o Papa Francisco foi e será o Papa dos nossos filhos – sempre mais novo do que nós.