magalhaes.afonso@newsplex.pt - 29 abr. 00:46
Cidadania ou tribalismo?
Cidadania ou tribalismo?
Basta que os eleitores privilegiem o compromisso com a cidadania em vez de optarem pela obrigação do tribalismo
Só há uma forma saudável de encarar o período difícil que a sociedade portuguesa está a passar, como consequência da irresponsabilidade dos políticos que nos conduziu a eleições legislativas antecipadas.
Essa fórmula passa por um saudável alheamento das campanhas partidárias em curso, traduzido, a ‘contra sensu’, numa enorme e inesperada participação no ato eleitoral.
A baixa drástica dos shares das TV’s e a recusa sistemática do doutrinamento fornecido pelas mesas redondas, bancadas de comentariado e outras parafernálias semelhantes, (as madrassas do Ocidente capturado) talvez ajudem a compreender que não é legítimo que uma elite irresponsável e ignorante se substitua aos cidadãos a quem compete a escolha livre de quem deve dirigir os destinos do país.
Até porque as principais opções já foram, inequivocamente, identificadas e, como tal, percecionadas pelo cidadão comum.
Há quem reconheça que estava em curso um trabalho de governação meritório, que foi interrompido, mas que deve continuar, até porque a instabilidade permanente e o ‘começar de novo’ serão negativos. Esses devem e vão votar, seguramente, na AD.
Haverá os que acham que o Governo atual não resolveu, em 11 meses, problemas de mais de uma década e se sentem capazes de fazer melhor, até porque consideram estar ungidos com uma superioridade ética e moral inatacável. Os que assim pensam votarão provavelmente no PS.
Depois há todos os outros que fazem da instabilidade permanente, da descrença no regime democrático e nos compromissos do país, o seu ‘modo de vida’ e se orientam permanentemente sob o complexo dos sonhos frustrados dos ‘amanhãs que cantam’.
Estes, até porque sabem que jamais serão chamados a mostrar as suas capacidades, votarão nos extremos de direita e de esquerda, suportados por propostas irrealistas e demagógicas ou por ideologias fossilizadas.
Há um ano conhecemos os compromissos de governação das principais forças partidárias para quatro anos, sublinhe-se, quatro anos.
Os eleitores deviam ser desobrigados, portanto, de ouvir sempre os mesmos a dizer sempre as mesmas coisas ainda que, por falta de assunto novo, o debate se oriente, desta vez, para a picardia, a desinformação e o ataque pessoal.
Mas o que é mais grave, é que se foca, também, no combate às Instituições que a República criou em liberdade democrática, total transparência e significativo consenso.
Infelizmente o país não foi poupado a um espetáculo deprimente, interpretado por muitos dos agentes políticos em disputa eleitoral e alavancado pela agenda de uma comunicação social que parece ter desistido, pelo menos temporariamente, do seu poder de moderação.
E só isso justificaria a sua reconhecida e autoproclamada qualificação como 4.° poder em democracia.
O mal está feito e não importa procurar maiores ou menores responsabilidades pois será sempre possível encontrar argumentos ‘quanto baste’, para suportar o interesse de cada um.
Só que o desejo profundo do país é que esta etapa se conclua rapidamente, com a indiferença que merece, mas sem prejuízo da mobilização que se impõe, de forma a que, no fim do processo, se obtenha um cenário político de estabilidade, confiança e esperança no futuro.
A fragilidade governativa e a instabilidade geral seriam sempre um fator negativo, mas, a ocorrerem num cenário de grande incerteza internacional, constituirão uma verdadeira tragédia.
O prémio Nobel da Economia Paul Kruger acaba de fazer uma solene advertência sobre Portugal.
Mas o pior cenário, não é, ainda, inevitável.
, o que significa colocar o interesse do país, acima da sua fidelidade partidária, e votar em conformidade com a sua consciência.