publico.pt - 29 abr. 14:45
Apagão: por que razão falhou a água em algumas zonas do Porto?
Apagão: por que razão falhou a água em algumas zonas do Porto?
Município restringiu consumo em algumas zonas para garantir abastecimento em locais como o Hospital de São João e o IPO. Restantes falhas tiveram origem eléctrica. Situação quase normalizada.
O abastecimento de água no Porto está, desde a madrugada desta terça-feira, “regularizado”. Apenas em algumas zonas mais altas da cidade, como Antas, Marquês ou Constituição, podem ainda sentir-se “falhas momentâneas”, que estão a ser reparadas, avançou ao PÚBLICO o vice-presidente, Filipe Araújo.
Os cidadãos que têm cartão Porto receberam essa mesma garantia através de SMS, ao início da tarde, que acrescentava que poderia haver limitações “devido à recuperação do sistema e utilização simultânea pelos serviços da cidade, com prioridade para a saúde, emergência ou segurança”. Quem abrir a torneira e vir sair água turva não deve ficar preocupado: a situação “ficará ultrapassada rapidamente”.
Apesar disto, alguns cidadãos continuam a queixar-se de falhas de água em casa. Esses casos, explicou Filipe Araújo, estarão relacionados com problemas no sistema predial particular. Prédios onde o abastecimento de água está dependente de bombas eléctricas – e que por isso esta segunda-feira ficaram sem água – podem ter danos que precisam agora de ser corrigidos. Essa gestão não cabe à autarquia.
Além disso, com a reposição do sistema, poderá ocorrer uma sobrecarga do mesmo. Filipe Araújo, também presidente do conselho de administração da empresa municipal Águas do Porto, dá um exemplo: os hospitais, com tanques próprios de abastecimento, usaram-nos durante o apagão e nesta terça-feira estarão a enchê-los novamente. O mesmo acontecerá em alguns prédios.
Água falhou?Voltando ao momento de crise vivido na segunda-feira. O sistema de abastecimento de água do Porto, garantido pela Águas de Douro e Paiva através da ETA de Lever, funciona “quase na sua totalidade de forma gravítica”, explica Filipe Araújo, e isso faz com que “a falha de energia não tenha impacto significativo”. No entanto, houve quem tivesse reportado problemas. Afinal, houve ou não uma falha de água na cidade? “Não houve uma falha de abastecimento de água, houve uma falha do abastecimento eléctrico que pode fazer com que sistemas da rede predial não consigam bombar a água.” Por exemplo, “todos os prédios que não tiverem geradores de assistência e que necessitem de bombar água para chegar às torneiras não tinham água.”
Quando o alarme surgiu, pelas 11h30 desta segunda-feira, a Câmara do Porto montou o seu “sistema de crise” no Centro de Gestão Integrado (CGI), onde se reuniram as entidades fundamentais da cidade, desde as águas à protecção civil, passando pela polícia municipal e PSP, a Porto Ambiente, Porto Digital, STCP e outros. As Águas do Porto activaram o plano de continuidade de negócios.
A certa altura, a empresa Águas do Douro e Paiva, que abastece a cidade através de duas adutoras, teve problemas numa delas, a que abastece a zona norte da cidade, “motivados pela falha de energia”. Ao monitorizar os níveis de água e perceber que estavam a ficar sem água vinda dessa adutora, e sabendo que ela fornece estruturas importantes como o Hospital de São João e o IPO, o município decidiu “restringir o consumo em algumas partes da cidade”, de forma a acautelar que essas estruturas de emergência não ficavam comprometidas. As zonas servidas por essa adutora – sobretudo Aldoar e algumas zonas da Areosa – ficaram, nessa altura, sem água.
Em declarações feitas na segunda-feira à noite à CNN, Rui Moreira lamentou o “açambarcamento” de água feito por alguns cidadãos, culpando essa atitude por algumas falhas. Filipe Araújo – que sublinhou o “trabalho exemplar” e “muitas vezes invisível” das equipas que estiveram no terreno – diz não ter dados para mostrar que houve maior consumo do que o habitual em algumas casas.
Mas não foge à conta fácil de fazer: “Quando temos pessoas a consumir mais água estamos a esgotar as reservas mais rapidamente. E é normal que, ao perceberem que vão ficar sem água, as pessoas encham um balde.” Estas coisas ocorrem “e a verdade é que não ajudam”. Essa água a mais para uns, pode ter motivado falhas para outros.
Para o vice-presidente, este foi um “bom teste” à capacidade de resposta da cidade. Se a falha de energia perdurasse, havia já plano para “parte da noite”, contou, sem esconder que a água poderia mesmo falhar. “Se as adutoras não fornecessem água, chegaríamos a uma altura, já quase de catástrofe, em que teríamos de ir buscar água em autotanques.” Em quanto tempo esse cenário poderia acontecer, Araújo não sabe responder.
De dias como o do apagão, é possível retirar “lições” que conduzem ao aperfeiçoamento de planos de crise. “Vamos fazer esse trabalho nos próximos dias”, diz Filipe Araújo. A cidade, avalia desde já, esteve “à altura do desafio” e não esmoreceu perante o mundo forçadamente analógico que se instalou. “O Porto é extremamente digital. Mas temos a consciência de que, em momentos de crise, temos de funcionar quando o digital vai abaixo.”