observador.ptobservador.pt - 29 abr. 21:19

Ministra da Energia diz que "foi muito difícil comunicar com a população" e pede reflexão sobre "sistema fiável" para órgãos de soberania

Ministra da Energia diz que "foi muito difícil comunicar com a população" e pede reflexão sobre "sistema fiável" para órgãos de soberania

Maria da Graça Carvalho anunciou que as duas centrais hídricas que vão reforçar a reposição autónoma do sistema elétrico vão custar oito milhões por ano. E quer "sistema fiável" de comunicações.

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A ministra da Energia, Maria da Graça Carvalho, reconheceu esta terça-feira as dificuldades do Governo na comunicação com a população e até entre os próprios órgãos de soberania com o apagão elétrico da véspera, ao apelar a uma reflexão sobre a necessidade de um “sistema fiável” de comunicações entre estas entidades.

Foi muito difícil comunicar com a população, mas estivemos em contacto constante com os operadores [de combustíveis]. Pediram-nos auxílio para se deslocar mais rapidamente e tivemos o auxilio das forças armadas, da GNR, até da PJ, para ajudar a transportar os combustíveis e que chegavam onde eram necessários”, afirmou a governante.

Em entrevista à Rádio Observador, Maria da Graça Carvalho destacou que “há muito a fazer nas comunicações”, face à indisponibilidade das redes de telecomunicações durante várias horas ao longo de segunda-feira. “Temos de pensar nas telecomunicações e num sistema fiável para comunicar entre os órgãos de soberania”, observou, reforçando ser importante também trabalhar para uma “maior resiliência no sistema de geradores”.

Ministra da Energia: “Não falei porque estou a trabalhar sem parar”

Nas suas primeiras declarações públicas após o apagão, detendo a pasta do setor afetado pela crise que começou na rede elétrica espanhola e que acabou por se alastrar a Portugal, a ministra da Energia garantiu estar “a trabalhar sem parar” desde a manhã de segunda-feira na resolução do problema. Notou também que o Governo apenas se sentiu mais confortável com a situação no conselho de ministros realizado esta terça-feira, depois de a eletricidade ter sido reposta em todo o território nacional na noite anterior.

“Ontem, às 11h33, que foi quando isto aconteceu, não sabíamos a origem e até meio da tarde foi muito difícil antever como é que tudo iria decorrer“, explicou, sem deixar de frisar que o executivo esteve sempre em contacto com a REN e a E-Redes.

Central de Castelo de Bode só arrancou à sexta tentativa

De acordo com Maria da Graça Carvalho, viveu-se uma “luta contra o tempo”, quer no corte das interligações com Espanha, quer no arranque das duas centrais termoelétricas que permitiam a reposição do sistema elétrico nacional: Tapada do Outeiro e Castelo de Bode.

“As duas centrais que podem arrancar sozinhas demoraram algum tempo, mas conseguimos arrancar. Castelo de Bode só na sexta tentativa é que conseguimos que arrancasse… É geralmente assim”, descreveu a ministra, continuando: “O nosso problema ontem era começar com a primeira. A partir do momento que começasse, iria começar a dar energia às outras centrais”.

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Sublinhando que estas centrais com a função de ‘black start’ — arranque autónomo para reposição da rede — vão ser reforçadas, por decisão do Governo, com o acréscimo das centrais hídricas do Baixo Sabor e do Alqueva, Maria da Graça Carvalho indicou que o país ficará “com quatro centrais e espalhadas pelo território”, enfatizando que Portugal se saiu melhor em comparação com Espanha.

“Espanha também tem centrais de ‘black start’ e não conseguiu que nenhuma começasse. É difícil, porque é começar do nada e a rede está sem carga. Espanha não conseguiu nenhuma, mas Espanha foi alimentada por França e Marrocos e conseguiu começar assim… Nós não tínhamos isso, porque a nossa interligação é com Espanha”, esclareceu.

Duas novas centrais com função ‘black start’ custam quase oito milhões por ano

A decisão anunciada esta terça-feira pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, de adicionar as centrais hídricas do Baixo Sabor e do Alqueva ao lote de centrais com a função ‘black start’ vai ter um impacto de cerca de 7,9 milhões de euros anuais.

“Foi feito uma consulta pela REN e temos o Baixo Sabor, que é 2,9 milhões de euros por ano e o Alqueva é mais, são cerca de cinco milhões por ano. Na Tapada do Outeiro [cuja utilização como central ‘black start’ foi prorrogada até 2030], por ser térmica, vamos pagar mais do que nas hídricas”, observou, continuando: “São duas centrais hídricas com muita capacidade e que nos vão dar um conforto grande. Cobrimos geograficamente o país”.

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Para a governante, esta decisão é vista como “um seguro” para o futuro. No entanto, sinalizou que é preciso também aumentar a capacidade de armazenamento da produção energética e que haverá um grupo de trabalho para analisar o sistema elétrico nacional, abrindo a porta à utilização de energia renovável em centrais para reposição do sistema.

“Vamos ter também um grupo que vai refletir sobre o desenho do sistema de energia e, por exemplo, a intervenção das renováveis… neste momento, nenhuma está a fazer estes serviços de sistema e podem também funcionar como ‘black start’, não só para produzir eletricidade, mas também para contribuir para estes sistemas e garantir segurança no abastecimento”, declarou.

Averiguação nacional, espanhola e europeia

Maria da Graça Carvalho lembrou também que o país já pediu a Bruxelas para “fazer um estudo daquilo que se passou” com o apagão.

“Pedimos à agência dos reguladores europeus para fazer um estudo daquilo que se passou. Tudo nos leva a crer que tenha sido uma diferença de tensões que provocou um desequilíbrio na rede em Espanha e que em poucos segundos se alastrou a Portugal”, indicou.

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“Pode ser uma questão do controlo da rede. O controlo de uma rede elétrica é algo muito delicado… Tem de se averiguar o que aconteceu. No princípio deste ano aconteceu um apagão deste género no Chile, que demorou mais de 24 horas, tinha havido um em 2013 em Itália, que também demorou mais de 24 horas, e nós conseguimos recuperar em 10 horas. E nós nunca perdemos o controlo do sistema”, continuou.

A ministra da Energia referiu ainda que a eletricidade consumida esta terça-feira no país é “eletricidade produzida em Portugal” e que, apesar da ligação à rede elétrica espanhola se manter, “não há trocas de energia” com o país vizinho.

“Agora temos de avaliar o que se passou para ter a certeza de que há remédios para que não volte a acontecer, e isto também do lado de Espanha”, disse, concluindo: “Do ponto de vista da energia, dos combustíveis, do gás e da água, fazendo um balanço, penso que correu bem, fizemos tudo o que tínhamos a fazer e queria agradecer a todos os profissionais envolvidos”.

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