observador.ptobservador.pt - 29 abr. 19:08

Houve interrupções no fornecimento de água durante (e após) o apagão em várias zonas do país. Porquê?

Houve interrupções no fornecimento de água durante (e após) o apagão em várias zonas do país. Porquê?

Portugal acordou novamente com luz, mas há zonas do país que ainda não têm água. Abastecimento de água teve interrupções durante (e após) o apagão porque é "altamente dependente da energia elétrica".

Depois do apagão, Portugal continental acordou novamente com luz (na Madeira e nos Açores a eletricidade não chegou a falhar). O mesmo não se pode dizer da água, que continua a faltar em algumas zonas do país. Em Mirandela, no distrito de Bragança, continuavam esta terça-feira à tarde a registar-se constrangimentos no abastecimento, com o autarca Vítor Correia a estimar à agência Lusa que água possa regressar por volta da hora de jantar.

De manhã, em Sintra, o segundo maior concelho do país em população, os Serviços Municipalizados de Água e Saneamento (SMAS) também avisaram, desde logo, que continuavam a existir “constrangimentos” e estimaram que a situação estivesse totalmente regularizada até ao início da tarde, não tendo sido possível confirmar a reposição integral da água até ao momento. Numa publicação feita na rede social Facebook, explicaram que “problemas decorrentes do apagão” motivaram “o corte do fornecimento de água da EPAL aos seus clientes”, incluindo alguns municípios ao redor de Lisboa. Desta forma, a “normalização da distribuição de água à população, em todas as zonas do concelho de Sintra, só será possível após o restabelecimento do fornecimento de água por parte da EPAL”, avisaram, dando conta de que esse processo arrancou, de forma gradual, às 8h30.

Com o apagão, o país parou. As telecomunicações registaram problemas e os transportes deixaram de funcionar. Os portugueses saíram à rua, compraram rádios a pilhas e correram aos supermercados para comprar alimentos e água, numa altura em que as fornecedoras alertavam para possíveis interrupções no fornecimento e apelavam a um uso “consciente”. A EPAL, Empresa Portuguesa das Águas Livres, foi uma delas e explica ao Observador que a água falha quando existe um apagão porque o abastecimento é “altamente dependente da energia elétrica, quer no processo de produção, quer para a elevação da água ao longo do sistema e também até à chegada ao consumidor”.

O que leva a água a faltar durante um apagão

Enquanto Portugal continental estava sem luz, começaram a surgir relatos de portugueses em várias zonas do país que também não tinham água em casa. Ao início da tarde desta terça-feira, grande parte dos problemas já estaria resolvida. O primeiro-ministro, Luís Montenegro, fez declarações nesse sentido durante um ponto de situação a partir de São Bento em que afirmou que o abastecimento de água estava “praticamente em pleno”. A EPAL, em resposta ao Observador, afirma que “depois do corte de energia elétrica ocorrido ontem [segunda-feira], já todos os municípios estão a ser devidamente abastecidos e os níveis dos reservatórios estão a ser repostos de forma progressiva”.

A empresa, que também é responsável pelo fornecimento de água na cidade de Lisboa (além de fornecer empresas municipais), explica que em “algumas situações é possível manter o serviço através da ativação de geradores próprios” e garante que, nos últimos anos, tem “feito um enorme investimento no que diz respeito à produção da sua energia, através de fontes renováveis, o que permitirá não só uma maior autonomia e redundância, mas não menos importante, a transição para a neutralidade energética”. Questionada acerca da autonomia dos sistemas em caso de falhas prolongadas de eletricidade, a EPAL responde que “depende de vários fatores, como o consumo e as reservas disponíveis, não sendo possível definir um tempo fixo”.

Já o grupo Águas de Portugal, que é responsável pela gestão integrada do ciclo da água (em todas as fases, desde a captação, o tratamento e a distribuição de água para consumo público) e que também apelou a que o consumo fosse feito de uma forma “muito moderada”, explica que “a energia elétrica é fundamental para os processos de tratamento de água e de transporte através das condutas até aos locais de distribuição e de consumo pelo que as falhas no fornecimento de energia têm diretamente impacto” nas suas operações. Segundo a empresa, “fazer chegar água aos consumidores finais é um processo com muitas etapas”, desde a captação à distribuição, “todas elas requerendo energia”.

Indicando que neste momento os serviços de abastecimento de água das empresas do grupo já “estão a funcionar com normalidade”, a Águas de Portugal afirma que as falhas de eletricidade fornecida pela rede podem ser colmatadas com recurso a geradores “para manter o funcionamento das instalações, nomeadamente estações elevatórias e instalações de tratamento”. “As instalações mais críticas são dotadas destes equipamentos que carecem de combustível para o seu funcionamento. Nas instalações em que já temos produção própria de energia (a partir do biogás, fotovoltaicas ou eólicas, fundamentalmente) podemos recorrer ao autoconsumo”, explica a empresa, em respostas enviadas ao Observador.

Anteriormente, em declarações à agência Lusa, uma fonte oficial da Águas de Portugal tinha lembrado que os reservatórios tinham água, mas que era necessária energia para a conseguir transportar. Também os próprios prédios precisam dessa energia para que a água chegue às torneiras dos portugueses.

A explicação é seguida por Luísa Salgueiro, presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses, que diz que o abastecimento de água pode falhar nas habitações porque existem “sistemas, designadamente de condomínios, que implicam bombear a água por sistemas elétricos”. “Quando a água é abastecida por mera força de gravidade, havendo reservatórios, ela continua a ser abastecida. Mas mesmo havendo água disponível nos reservatórios, quando entra na parte privada dos condomínios precisa, por vezes, de sistemas elétricos para que seja bombeada”, revela, acrescentando que “havia ruas em que algumas casas tinham água e outras não porque algumas dependem de funcionamento de equipamentos elétricos e outras não”.

Por outro lado, segundo Luísa Salgueiro, que também é presidente da Câmara de Matosinhos, no distrito do Porto, “as próprias entidades distribuidoras também tinham equipamentos que precisavam de unidades elétricas para bombear a água”, o que levou a que existisse uma “rotura”. No fundo, mesmo aqueles que tinham água nos reservatórios não estavam a “conseguir retirá-la”.

Questionada acerca da autonomia desses reservatórios, a autarca esclarece que “depende de município para município” e que em Matosinhos existia capacidade para três dias. “Mas, lá está, apesar de haver água suficiente, havia habitações onde a água não conseguia chegar porque dependia do funcionamento de equipamentos elétricos dos motores”, esclarece, reiterando que também as “entidades distribuidoras tiveram nos seus equipamentos falhas de fornecimento de energia, o que implicou que alguns equipamentos tivessem de parar” e que a água disponível não conseguisse “chegar ao destino”.

A água tinha uma tonalidade acastanhada de manhã. Porquê?

Durante a manhã, em algumas regiões portugueses, como por exemplo o bairro de Alvalade, a água que chegava às torneiras tinha uma tonalidade acastanhada. Luísa Salgueiro explica ao Observador que isso está relacionado com o facto de ter “havido partes dos sistemas que ficaram vazias” e levaram a “operações [para] forçar o regresso da água”. “A água sai barrenta em função de todas as operações que tiveram de ser realizadas”, afirma, indicando que se trata de algo “transitório, que acaba por normalizar rapidamente”.

Também a EPAL esclarece que a coloração acastanhada que foi reportada se trata “de um fenómeno momentâneo que pode ocorrer devido a variações de velocidade e pressão na rede”. Já a Águas de Portugal revela que “cada caso pode ter uma causa diferente”, mas admite que “a cor castanha pode resultar da ocorrência de uma rotura na rede“.

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