rr.pt - 29 abr. 17:45
Apagão. Montenegro defende resposta “positiva”, Pedro Nuno Santos fala em “silêncio e desorientação”
Apagão. Montenegro defende resposta “positiva”, Pedro Nuno Santos fala em “silêncio e desorientação”
Apagão mergulhou Portugal numa crise que, para além dos efeitos técnicos, gerou (mais) um confronto político entre o Governo e o PS. Luís Montenegro garante que a resposta foi eficaz e estruturada, Pedro Nuno Santos fala em propaganda, desorientação e falhanço da liderança.
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, defendeu, esta segunda-feira, que “Portugal teve uma reação muito positiva a uma situação que era muito grave, inédita e inesperada”, elogiando o desempenho dos serviços públicos e a rapidez na reposição da energia. E mais: “A comunicação foi feita pelos meios mais eficazes, como a rádio, e os contactos institucionais foram mantidos desde o início”.
Já segue a Informação da Renascença no WhatsApp? É só clicar aqui.
Questionado sobre falhas na atuação da Proteção Civil e eventuais responsabilidades políticas, Montenegro ainda admitiu que “as coisas podiam ter funcionado melhor”, mas sublinhou que o essencial foi garantido.
“As infraestruturas críticas foram protegidas e houve uma resposta articulada entre forças de segurança, bombeiros e serviços de emergência”, disse.
A opinião de Pedro Nuno Santos, líder da oposição e secretário-geral do PS, todavia, é muito diferente. “O mais grave é que também tivemos um apagão no Governo central”, afirmou o secretário-geral do PS, numa conferência de imprensa na sede do partido, já esta tarde. “Faltou uma voz de comando e de serenidade. O país precisava de uma liderança firme e presente e teve silêncio e desorientação”, acusou.
O líder socialista criticou a falta de informação ao longo do dia, considerando que “deveria ter havido comunicações regulares, por exemplo através da rádio, de hora a hora, para tranquilizar os cidadãos”. E apontou diretamente à ausência de figuras-chave do Governo: “As ministras da Administração Interna e do Ambiente desapareceram. Um ministro chegou a validar desinformação. O Governo falhou no essencial”.
Pedro Nuno traçou ainda um paralelo com crises anteriores: “A forma como o Governo agiu nesta crise é idêntica à dos incêndios de 2024 e à crise recente no INEM: desaparece quando o país mais precisa”. E foi mais longe: “Montenegro falha sempre na resposta à crise, nunca falha na propaganda”, disse, referindo-se à visita do primeiro-ministro à Maternidade Alfredo da Costa como um “ato de autopromoção”.
A REN da questãoApesar da pressão sobre a empresa responsável pela gestão da rede elétrica, Pedro Nuno Santos afastou culpas diretas da REN e da sua privatização. “Há quem aproveite logo para tirar conclusões ideológicas. Mas se a REN fosse pública, teríamos tido apagão na mesma”, afirmou, rejeitando o argumento da soberania energética.
“Portugal tinha capacidade de produção energética naquele momento. O problema não foi de produção, nem de dependência externa. Estávamos a importar energia de Espanha porque era mais barata — se tivéssemos as centrais a carvão ativas, elas estariam paradas”, explicou.
Montenegro, por sua vez, foi cauteloso ao comentar o tema. “Não é agora, de repente, que vamos fazer renascer esse assunto. Estarei disponível para discutir, mas não a quente”, afirmou, referindo-se às dúvidas que levantou em 2023 sobre a privatização da REN.
Medidas de respostaNa sequência do apagão, o Governo anunciou um conjunto de medidas para reforçar a capacidade de resposta do sistema elétrico nacional.
A central da Tapada do Outeiro manterá até 2030 a sua função de ‘black start’, ou seja, de reinício autónomo da rede. Esta decisão prolonga o prazo anteriormente fixado em março de 2026.
Além disso, o Executivo vai alargar esta função às centrais do Baixo Sabor e do Alqueva, aumentando a capacidade de reação do país em caso de falha total.
“Percebemos que Tapada do Outeiro e Castelo de Bode são insuficientes para garantir uma reposição célere da energia”, afirmou Montenegro.
Foi também anunciada uma comissão técnica independente para avaliar o sucedido, composta por sete elementos, três dos quais indicados pela Assembleia da República.
O Governo solicitará ainda uma auditoria à Agência de Cooperação dos Reguladores de Energia da UE, para apurar as causas do apagão.
Entre as medidas extraordinárias estão: o fim da declaração de crise energética às 23h59 desta terça-feira; a prorrogação de prazos fiscais e eleitorais, incluindo o voto antecipado para reclusos e doentes internados; a autorização de circulação de pesados para abastecimentos durante o feriado e fim de semana.