observador.ptobservador.pt - 29 abr. 17:12

Apagão. Oposição critica gestão da crise por parte de Montenegro

Apagão. Oposição critica gestão da crise por parte de Montenegro

O apagão entrou na pré-campanha e, mesmo que alguns partidos recusem usar o tema como arma de arremesso, as críticas ao Governo e a questão da privatização da REN estão de volta à discussão política.

No day after do apagão, os partidos da oposição unem-se nas críticas à gestão feita pelo Governo de Luís Montenegro, principalmente com dedos apontados à forma como decorreu a comunicação durante o dia, quando não havia informações sobre o que estava a acontecer ou até quanto tempo levaria até que fosse reposta a normalidade. Mais do que isso, há também partidos que recuperaram o caso da privatização da REN. É caso para dizer que o apagão entrou na campanha.

Pedro Nuno: “Falha sempre na resposta à crise, nunca falha na propaganda”

Numa comunicação feita na sede do PS, Pedro Nuno Santos referiu que o apagão “afetou comunicações, transportes, serviços públicos e sobretudo segurança”, mas sublinhou que “o mais grave” é que também houve um “apagão no Governo central”.

“O responsável máximo da proteção civil é o primeiro-ministro”, salientou o líder socialista, crente de que “faltou uma voz de comando e de serenidade” durante o dia e que o Governo falhou e devia até ter usado a rádio, de hora a hora, para tranquilizar populações. Além disso, Pedro Nuno acusou ainda o ministro Castro Almeida, que chegou a admitir que o apagão pudesse ser devido a um ciberataque, de ter “validado alguma da desinformação“, enquanto, criticou, as ministras do Ambiente e da Administração Interna “desapareceram”.

Pedro Nuno Santos puxou da memória para comparar a gestão deste momento com aquela que foi feita pelo Governo nos incêndios de 2024 e na crise do INEM e acusou Montenegro de tentar tirar proveito do apagão ao fazer declarações, no fim do dia, à frente de uma maternidade: “Falha sempre na resposta à crise, nunca falha na propaganda.”

Chega critica fecho de centrais a carvão e atira a PS e PSD

André Ventura, durante uma visita à SAGALEXPO, na FIL, em Lisboa, revelou que o Chega vai pedir “uma auditoria urgente“, preferencialmente “conduzida por serviços independentes, para saber o que se passou”. “Precisamos de dizer aos cidadãos que isto não vai voltar a acontecer e precisamos de perceber onde falhámos e onde não podemos voltar a falhar”, alertou. Poucas horas mais tarde, Luís Montenegro avançou que o Governo decidiu pedir aos reguladores da energia europeia uma auditoria independente para “o apuramento cabal das causas desta situação”.

O líder do Chega recordou também que o partido “alertou para o encerramento de centrais termoelétricas” e “apontou o dedo a decisões de PS e PSD”, desde logo pela opção de “fechar as centrais a carvão e de tornar [o país] absolutamente dependente da importação ou consumo espanhol”. “Ontem houve milhões de euros em prejuízos, nas famílias, nas instituições, no Estado, alguém tem de ser responsável por isso porque falhámos“, reforçou. E referindo-se a uma entrevista do ex-ministro Mira Amaral, na SIC Notícias, Ventura considerou que “é conversa para dormir aquela em que nos dizem que somos os líderes da transição energética, que fizemos bem em fechar as centrais”.

Além da responsabilidade atribuída a Montenegro, que tem acusado de ter “deixado o país às escuras” em termos de comunicação, Ventura juntou também Pedro Nuno Santos ao rol de culpados, argumentado que “e este Governo tem responsabilidade, mais têm os governos socialistas, que estiveram oito anos a governar e integraram [o país] num mercado que matou a soberania energética” portuguesa, sublinhando que “nunca devíamos ter permitido o encerramento destas centrais” e que “Espanha mantém as centrais a carvão e nucleares”.

Bloco não usará tema na campanha, mas quer “apurar tudo o que falhou”

Mariana Mortágua também criticou a gestão que o Governo fez da informação no dia do apagão, com uma “comunicação tardia” e, ainda que garanta que não pretende usar o tema em campanha, a líder do Bloco de Esquerda diz que “é muito importante apurar tudo o que aconteceu”.

“Não faremos disto um tema de campanha ou de confronto político, mas é muito importante apurar tudo o que aconteceu na rede elétrica” e saber se “a REN cumpriu todos os protocolos”, disse, alertando que “é preciso apurar tudo o que falhou e tem de ser alterado”. Além disso, enumerou as “falhas em serviços de emergência” e as “comunicações do SIRESP que não funcionaram” no dia do apagão..

Já sobre a REN, Mortágua aproveitou a situação para dizer que foi “um erro fatal” a privatização que colocou a rede elétrica nacional “nas mãos de um Estado estrangeiro”, salientando que o episódio “revelou a suscetibilidade de uma rede elétrica e como ela afeta várias áreas de funcionamento do país”.

Referiu mesmo que “não é por acaso que o relatório de segurança interna tem um parágrafo sobre a privatização de setores essenciais e como é uma ameaça à segurança interna”. Para o Bloco, “mais do que nunca se prova que a soberania de Portugal depende da sua capacidade para gerir e controlar o sistemas de distribuição elétrica e da rede de eletricidade”.

Raimundo: “Exigia-se uma informação mais rápida e desenvolvida”

Também Paulo Raimundo reagi, na Assembleia da República, à “situação muito inesperada” vivida esta segunda-feira e apelou a que se concentrem “esforços” para garantir o funcionamento regular dos bens essenciais e para “recuperar atrasos”, nomeadamente na saúde.

Sobre a atuação do Governo e Estado, atirou: “Exigia-se, face à dimensão do problema, uma informação mais rápida e desenvolvida que permitisse que a população se sentisse mais segura.” E acrescentou que este apagão provou que os meios da proteção civil estão “dependentes de estruturas e empresas, nomeadamente de comunicações, que voltaram a falhar num momento em que não podem falhar“.

Além de sublinhar que “importantes mensagens” chegaram tarde ou nem sequer chegaram, Paulo Raimundo recordou que “o país já teve na sua mão a estrutura e setor energético e, por opções erradas, decidiu segmentar o setor unificado”, defendendo que este foi “privatizado com as consequências que conhecemos” e atirando, no mesmo sentido, à “liberalização” do setor.

Livre considera que há lições a retirar, mas não para usar como “arma de arremesso”

Em nome do Livre, Rui Tavares salientou que “a partir de hoje se inicia uma reflexão” sobre as lições a retirar, que considerem serem “políticas”, mas também as causas, que na visão do porta-voz do partido não devem ser “arma de arremesso política“.

Recordou que houve recentemente um debate parlamentar sobre preparação civil para eventos inesperados, marcado pelo Livre, e que se falou de kits de emergência e víveres, preparando a sociedade civil para isso.

“O primeiro-ministro não esteve presente. Outros ministros, da Defesa à Agricultura e ordenamento do território, não estiveram presentes”, criticou, alertando que “Portugal precisa de ter uma rede de produção e distribuição descentralizada e autónoma, feita de várias fontes de energia”.

Sobre a reunião com o Governo, o Livre garantiu que apresentará sugestões práticas como rever planos de contingência das instituições da República — até para o caso de não ser possível entrar na Assembleia da República, por exemplo.

PAN recusa crítica “populista”, mas enaltece “falhas gritantes”

Inês Sousa Real realçou que “os sucessivos governos têm desinvestido nesta dimensão e na da autonomia energética”, avisando que “um país mais resiliente é autónomo na produção da energia”.

Apesar de se recusar a entrar numa onda de crítica “populista”, a porta-voz do PAN realçou a existência de “falhas gritantes“, desde logo a Assembleia da República ter ficado às escuras e o Governo não ter conseguido falar com todos os partidos. “Temos de ter uma rede capaz” de assegurar infraestruturas essenciais, frisou, mas “os órgãos de soberania também não podem falhar”.

Aos olhos de Sousa Real, este deve ser um “caso de estudo” para se perceber o que não pode falhar, além de se ter de perceber que kits de emergência é preciso ter disponíveis, incluindo para os animais de companhia, “excluídos da resolução do Conselho de Ministros”.

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