publico.pt - 29 abr. 15:36
França acusa serviços de informação russos de ciberataques repetidos desde 2021
França acusa serviços de informação russos de ciberataques repetidos desde 2021
Ataques russos atingiram campanha do actual Presidente francês, Emmanuel Macron, em 2017.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros francês acusou, esta terça-feira, de forma explícita, a agência de inteligência militar russa GRU de ter conduzido ciberataques contra uma dúzia de entidades — incluindo ministérios, empresas de defesa e think tanks —, desde 2021, numa tentativa de desestabilizar a França.
As acusações dirigidas à unidade APT28 da GRU, que as autoridades dizem estar sediada em Rostov do Don, no sul da Rússia, não são inéditas entre os países ocidentais, mas é a primeira vez que Paris responsabiliza directamente o Estado russo com base nos seus próprios serviços de informação.
Num comunicado, o ministério indicou que os ataques da APT28 contra a França remontam a 2015, quando a estação TV5 Monde foi retirada do ar na sequência de um ataque reivindicado por supostos militantes do Estado Islâmico.
A França afirmou que foi a APT28 quem esteve por detrás desse ataque, bem como de outro, em 2017, durante as eleições presidenciais, quando emails ligados ao partido e à campanha do actual Presidente, Emmanuel Macron, foram divulgados e misturados com campanhas de desinformação.
Segundo um relatório da Agência Nacional para a Segurança dos Sistemas de Informação (ANSSI), a APT28 procurou obter informação estratégica de entidades em toda a Europa e América do Norte.
As autoridades explicaram que o Governo decidiu tornar estas informações públicas para manter a população informada num momento de incerteza política interna e face à guerra da Rússia contra a Ucrânia.
A embaixada da Rússia em Paris não respondeu a um pedido de comentário.
A ANSSI indicou que houve um aumento no ano passado no número de ataques contra ministérios franceses, administrações locais, empresas de defesa, do sector aeroespacial, think tanks e entidades dos sectores financeiro e económico.
Segundo os mesmos dados, o ataque mais recente da APT28 ocorreu em Dezembro, e estima-se que, só em 2024, tenham sido atribuídos cerca de quatro mil ciberataques a actores russos — mais 15% do que em 2023.
“Estas actividades de desestabilização são inaceitáveis e indignas de um membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas”, afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros.
“Juntamente com os seus parceiros, a França está determinada a utilizar todos os meios ao seu dispor para antecipar, dissuadir e responder ao comportamento malicioso da Rússia no ciberespaço.”
Segundo especialistas em cibersegurança, a APT28 está activa a nível global desde, pelo menos, 2004, sobretudo na área do ciberespionagem.
Em Maio de 2024, a Alemanha acusou a APT28 de lançar ciberataques contra empresas de defesa e do sector aeroespacial, contra o partido no poder e ainda contra alvos noutros países.
Na altura, a embaixada da Rússia em Berlim classificou as acusações como “mais um passo hostil destinado a incitar sentimentos anti-russos na Alemanha”.