observador.pt - 29 abr. 21:52
"Não existiu" aumento de ciberataques em Portugal devido ao apagão. "Não estavam reunidas as condições", dizem especialistas
"Não existiu" aumento de ciberataques em Portugal devido ao apagão. "Não estavam reunidas as condições", dizem especialistas
Especialistas ouvidos pelo Observador dizem não ter detetado "qualquer situação anómala" a nível cibernético face ao apagão. "Não estavam reunidas as condições ideias para realização de ciberataques."
Quando já circulavam rumores falsos online a propósito do apagão que afetou Portugal e Espanha, como uma not��cia que alegadamente teria sido publicada pela CNN a avançar que teria sido causado por ciberataques russos, o Centro Nacional de Cibersegurança disse que não tinham sido identificados “indícios” que apontassem para um ataque informático. Apesar de a causa da falha na rede elétrica ainda não ter sido identificada, os especialistas ouvidos pelo Observador consideram que não terá deixado o país mais exposto a nível de possíveis ciberataques.
De acordo com a Check Point Software, especialista em soluções de cibersegurança, “não existiu um aumento de atividade cibernética em Portugal ou contra Portugal” face ao apagão, sendo que, “aliás, durante o presente mês de abril tem-se registado uma diminuição no número de ataques”. A empresa defende ainda que, tendo em conta a falha de energia geral e a instabilidade nas telecomunicações, “não houve oportunidades para um aproveitamento das circunstâncias”. “No fundo, não estavam reunidas as condições ideias para a realização de ciberataques.”
A empresa portuguesa de cibersegurança Visionware também diz, em resposta a questões do Observador sobre um possível aumento da atividade cibernética contra Portugal ou os seus serviços, não ter detetado “qualquer situação anómala ou digna de registo/rastreamento”. “A hipótese de ciberataque está aparentemente excluída e fica assim evidente e exposta para todo o mundo, a nossa elevada (ou demasiada) dependência de Espanha ao nível do cobre e do impacto do clima”, afirma Bruno Castro, CEO da firma e especialista em cibersegurança, fazendo uma análise ao apagão. “Fica também notória a nossa dependência do digital, pelo que, nesta fase, todas as hipóteses, seja sabotagem, ciberespionagem ou questões de cyberwarfare [ataques cibernéticos estratégicos], devem ou deverão estar em cima da mesa”, considera.
Para Bruno Castro, a falha energética colocou à prova a capacidade de Portugal para resistir a eventos que tenham este impacto, “sem qualquer redundância nos nossos sistemas”. “Será crítico extrairmos rapidamente algumas lições deste dia e, principalmente, apurar factos, motivações e causas para o ocorrido, com total rigor e exatidão para que medidas preventivas sejam tomadas com urgência e seja garantido que tal apagão não voltará a acontecer, que planos de contingência ao mais elevado nível serão concretizados, exigindo as devidas responsabilidades e consequências para todas as entidades e operadores envolvidos”, defende o responsável pela Visionware.
Ao Observador, Lino Santos, coordenador do Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS), disse, desde logo, que não existia “qualquer suspeita” de que o apagão tivesse sido provocado por um ataque informático. Um comunicado divulgado pelo centro pouco tempo depois reafirmava essa posição e pedia à população para ter atenção à “circulação de desinformação”. Contactado pelo Observador, no sentido de perceber se existia alguma atualização que pudesse ser partilhada, o CNCS remeteu para essa nota, indicando que a informação será atualizada sempre que se justificar.
Entretanto, esta terça-feira, também a empresa espanhola Red Eletrica descartou publicamente, pelo menos para já e com base em “informações preliminares”, que o apagão que afetou Espanha e Portugal tenha sido provocado por um ciberataque.