observador.ptobservador.pt - 29 abr. 17:47

Pedro Nuno Santos atira à gestão de Montenegro no apagão: "Faltou uma voz de comando e de serenidade"

Pedro Nuno Santos atira à gestão de Montenegro no apagão: "Faltou uma voz de comando e de serenidade"

Líder do PS aproveitou apagão para vincar "incapacidade de gestão" do Governo que diz ter "falhado" na coordenação. Mais do que as causas do que aconteceu, Pedro Nuno foca na forma de Montenegro.

O líder do PS quer ligar a crise do apagão à crise de liderança que diz existir no atual Governo e recorre mesmo a exemplos da governação socialista — um deles propositadamente ligado ao seu tempo como ministro — para fazer o contraponto com uma gestão de crises “incompetente” do atual primeiro-ministro. Não poupa Luís Montenegro: “O mais grave é que também tivemos um apagão no Governo central (…) Faltou uma voz de comando e de serenidade.”

“Durante horas, milhões de pessoas ficaram sem acesso a informação fiável, sem orientações claras, quando o que se esperava era uma resposta célere e eficaz”, descreveu o líder socialista numa conferência de imprensa dada na sede nacional do partido, em Lisboa, poucos minutos depois de o primeiro-ministro ter falado. “É nas dificuldades que se avalia a verdadeira liderança e ontem não a tivemos”, concluiu sobre a ação do Governo onde apontou um ministro, o da Coesão, por “validar” desinformação (sobre uma falsa notícia atribuída à CNN internacional sobre um ciberataque) e duas ministras, da Administração Interna e do Ambiente, “desaparecidas”.

Mas o foco maior foi mesmo em Montenegro, com o líder do PS a criticar o primeiro-ministro por não ter dito “nada de relevante” ou que “pudesse serenar as dúvidas e incertezas das pessoas”, quando falou ao país na tarde de segunda-feira, ainda com o país sem luz. E depois, também pela visita que Montenegro fez, já ao fim do dia, à Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa: “O Governo falha sempre na resposta à crise, nunca falha na propaganda”. A gestão, disse, fez lembrar não só a resposta aos incêndios de 2016 como a crise do INEM — em que o PS chegou a pedir a cabeça da ministra da Saúde.

Durante estas declarações, o líder do PS recorreu a duas das crises do seu tempo no Governo para contrapor à “incapacidade” do atual Governo perante contextos de aperto. E acenou mesmo com a “incerteza económica e política” dos próximos anos para sugerir risco de ter um “primeiro-ministro que tem incapacidade de lidar com crises”, ao contrário do PS que, disse, “mostrou estar à altura, nas medidas e na forma como comunicou a ação governativa” — agarrando-se a essa ideia que o costismo também rentabilizou na estrada eleitoral.

Um dos exemplos que deu foi escolhido a dedo, o da greve dos motoristas de matérias perigosas e 2019, altura em que tinha acabado de assumir as funções de ministro do Governo de António Costa, precisamente com aquela tutela. O outro foi o da pandemia e quando questionado sobre se teme que, tal como nessa crise, os portugueses acabem a beneficiar, nas eleições, quem está no poder. Pedro Nuno rejeitou “cálculos” e acusou o Governo de ter gerido “mal a crise”, “coordenou mal, comunicou mal”. “É um padrão, não é a primeira vez perante uma crise que o Governo falha”. “Não tem de beneficiar de uma crise que geriu mal”,  rematou sobre o assunto.

Pedro Nuno Santos, que passou as horas do início do apagão, a escrever tweets sobre o que faria se fosse primeiro-ministro, defendeu na conferência de imprensa que a Proteção Civil deveria ter usado a rádio, “com comunicações de hora em hora”, para dar novas informações sobre o caso e o tempo de resolução do mesmo à população. “Não houve coordenação centralizada dos serviços de proteção civil municipais”, disse ainda descrevendo autarquias “entregues à sua sortes” e garantindo que teria tido uma “informação mais regular dos portugueses” e uma “coordenação diferente dos serviços de proteção civil a nível nacional”.

Para evitar iguais cenários no futuro, defendeu “continuar a reforçar a rede e modernizar a sua gestão” e “garantir a estabilidade do sistema e os padrões de segurança que teriam evitado” um apagão. Não concretizou muito mais, nem deu gás à ideia de Luís Montenegro de uma comissão independente para apurar o que se passou, preferiu concentrar-se unicamente na gestão do Governo até aqui e neste momento muito em concreto.

Tentou, no entanto, afastar-se de extremos, ao não aceitar como explicação para o apagão aquela que vai sendo avançada pela esquerda à esquerda do PS sobre a privatização da REN. Reduziu a tese a “conclusões de política ideológica”, mas “se a REN fosse pública teríamos tido apagão na mesma”. “Não é a propriedade da REN que resolveria o problema que tivemos ontem”, afirmou. “Pode-se discutir a REN, mas não pelo que aconteceu ontem”, acrescentou sobre este ponto concreto. “O Mercado Ibérico permitiu a Portugal poder fornecer às famílias energia mais barata a cada momento, não foi uma questão de soberania energética porque Portugal tinha capacidade energética naquele momento”, especificou.

Também chutou para canto — sem surpresa — quem defende que a solução poderia ter passado pela manutenção das centrais a carvão, do Pego e de Sines, que foram encerradas durante a governação socialista. “A manutenção de centrais a carvão em Portugal não teria evitado apagão”, afirmou na mesma conferência de imprensa.

O único elogio foi para os “milhões de cidadãos que tomaram decisões difíceis e corajosas”, como profissionais de saúde, bombeiros e funcionários de autarquias, bem como das proteções civis municipais “de forma a garantir a ordem pública”. Dirigiu-se muito diretamente a este grupo para afirmar: “Foi o vosso sentido de comunidade, de responsabilidade e de solidariedade que manteve o país de pé enquanto o Governo falhava. Por isso, hoje, quero deixar-vos uma palavra muito simples e muito sentida. Obrigado. É convosco que podemos construir um país mais seguro, mais forte, mais justo.”

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