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Sobre a “falta de educação”

Sobre a “falta de educação”

No PÚBLICO, a 26 de abril, Nuno Crato alerta para o declínio recente dos resultados dos jovens portugueses nos principais testes internacionais de competências. Tem razão quando nota que a educação, uma &aacu

No PÚBLICO, a 26 de abril, Nuno Crato alerta para o declínio recente dos resultados dos jovens portugueses nos principais testes internacionais de competências. Tem razão quando nota que a educação, uma área decisiva para o nosso presente e futuro coletivos, tem estado ausente do debate político. Contudo, de um matemático com ampla experiência na governação seria de esperar maior rigor analítico.

Segundo o ex-ministro, “entre 2002 e 2015 o nosso país conseguiu melhorar de forma espetacular” e, daí para cá, entrou num “declínio educativo”. Daí, conclui que devemos voltar às metas curriculares e sistemas de avaliação que vigoravam em 2015.

Ora, tal como os próprios organismos que desenvolvem estes testes têm advertido, não podemos extrair conclusões imediatistas dos seus resultados. Por um lado, as políticas educativas, sobretudo, aquelas que são estruturantes (como as reformas curriculares e os sistemas de avaliação) demoram vários anos entre o desenho, a discussão, a pilotagem, a aprovação e a implementação nas escolas. Por outro lado, as aprendizagens que estes testes aferem são desenvolvidas ao longo da escolaridade (não esquecendo o papel do pré-escolar). Assim, as competências de leitura, matemática e ciências que revelam os jovens aos 15 anos, no PISA, não dependem tanto do que estão a aprender nesse ano letivo, quanto daquilo que aprenderam no 1.º e 2.º ciclos de ensino.

Assim sendo, a estabelecer alguma relação com as políticas educativas, teremos de associar o “espetacular” progresso dos resultados dos jovens portugueses, entre 2002 e 2015, a políticas que se desenvolveram, desde o final do século XX, as quais eram, à época, fortemente atacadas por Nuno Crato que já via nelas o prenúncio do “declínio educativo” resultante do “facilitismo” e do “eduquês”.

Entre 2011 e 2015, o então ministro da Educação coloca, por fim, em prática a sua agenda pela “exigência”, rompendo com as políticas que vinham sendo desenvolvidas nos vintes anos anteriores. O tempo de desenvolvimento das políticas, somado ao necessário percurso de aprendizagem dos estudantes aponta para que os principais impactos dessa agenda seriam observáveis no período entre 2015 e 2025. E o que tivemos, então?

Não é com pensamentos maniqueístas como o de Nuno Crato que podemos esperar melhorias

Não se pretende, com isto, isentar de responsabilidades os governos subsequentes. Efetivamente, a educação depende de muitos fatores e, mesmo cingindo-nos aos impactos das políticas educativas nos resultados dos alunos, é necessário reconhecer que estes ocorrem em diferentes temporalidades. Há, portanto, muito para refletir, discutir e investigar. Mas não é com pensamentos maniqueístas como o de Nuno Crato que podemos esperar melhorias.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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