Observador - 30 abr. 00:14
Apagão: a pagar histerias climáticas
Apagão: a pagar histerias climáticas
Um problema para não resolver já a 18 de maio. O voto em qualquer partido garante a caminhada rumo a produzirmos a nossa energia à base de excremento de unicórnio, bafo de dragão e ondas de Kraken.
Então agora que, enfim, ia lançado para me estrear no visionamento de um debate eleitoral, no exacto dia que tinha reservado para desfrutar do enriquecedor confronto de ideias entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos, constatamos que, de Espanha, nem bom vento, nem bom casamento, nem boa electricidade. Não posso dizer que esteja surpreendido. Desde que Pedro “Costa Lover” Sánchez assumiu o governo espanhol que se sente uma certa energia comunista no ar do país vizinho, de facto.
Agora, pode não vir bom vento, nem bom casamento, nem boa electricidade de Espanha, mas pelo menos diz que a luz nos sai mais barata. Pelos vistos o made in Spain está para a electricidade como o made in China está para a quinquilharia plástica sortida. É uma evolução curiosa: há algumas décadas ia-se a Espanha comprar caramelos, agora, passadas várias décadas, vem a electricidade de Espanha recordar-nos como era viver há imensas décadas. Uma coisa é verdade. Pelo menos com a electricidade espanhola uma pessoa está livre de apanhar um esticão. Que é o que realmente aflige, em termos de electricidade.
Entretanto, em nome do governo, o ministro Manuel Pinto Luz afirmou que “em 11 horas pusemos o país a funcionar”. “Funcionar” é força de expressão, claro. Imaginem que Portugal era um automóvel. Alguém desprevenido podia pensar que por “funcionar” o ministro quisesse dizer que Portugal estava pronto para bater o recorde da pista de Nürburgring. Mas não. Por “funcionar” o ministro queria apenas dizer que Portugal, como de costume, querendo ir até Nürburgring, chegaria no máximo a Badajoz. Onde, saudoso, compraria caramelos. Compraria. Não compra, porque precisa do dinheiro para arranjar uma fuga no radiador.
Mas houve, de facto, coisas que correram bem na resposta ao apagão. A primeira foi logo a escolha do porta-voz deste comunicado, o ministro Luz. Muito mais apropriado falar o Luz do que falar o Montenegro. Depois, parece que, apesar do apagão ter prejudicado os sistemas informáticos da Autoridade Tributária e Aduaneira, não comprometeu nenhuma função importante. Ufa! Que alívio. Imaginem que havia por aí um caso qualquer de branqueamento de capitais ligado a redes internacionais de imigração ilegal oriunda de um país do sul da Ásia, ou coisa que o valha. Como é que as autoridade punham fim a isso? Era o punhas.
Portanto, o governo sai por cima nesta situação. Também muito graças à intimidade do líder da oposição com as tecnologias. Como poderia Pedro Nuno Santos criticar a acção do governo durante o apagão, quando todos sabemos que ele só gasta WhatsApp para tomar decisões governativas de peso, tipo volumosas indemnizações a ex-funcionários de empresas públicas? Se calha Pedro Nuno Santos ser primeiro-ministro – Deus (sem dúvida com maiúscula, que neste caso há que acreditar!) nos livre e guarde – quando falha a rede móvel, mais depressa temos notícias da Maddie do que do líder do executivo.
Resta, no entanto, uma questão: afinal, a luz demorou tanto a regressar porquê? Não faço ideia, apesar de ter ouvido, atentamente, o ex-ministro de Indústria e Energia, Mira Amaral. O problema de escutar Mira Amaral é que torna-se impossível não fixar a atenção no excesso de cuspe que, sempre que faz frases mais longas, se vai acumulando no lábio inferior do ex-ministro. E que deixa uma pessoa em suspenso, tentando antecipar o momento em que aquele enorme perdigoto (com aquela corpulência será ainda perdigoto, ou já se considera escarreta?) voará pelo estúdio, sabe-se lá com que destino final, qual míssil balístico norte-coreano.
Depois, mais calmo, voltei às declarações de Mira Amaral, desta feita em formato escrito, e fiquei com a impressão clara que – surpresa! – uma excitaçãozinha parva com as energias renováveis poderá bem ter levado a descurar formas de energia mais fiáveis, no mínimo, como plano de emergência. Um problema para não ser resolvido já dia 18 de maio, quando um voto em basicamente qualquer partido assegurará esta caminhada rumo a produzirmos toda a nossa energia à base de excremento de unicórnio, bafo de dragão e ondas de Kraken.
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