observador.ptObservador - 30 abr. 00:11

Portugal: Quando um apagão é resolvido pelas redundâncias “diabolizadas”

Portugal: Quando um apagão é resolvido pelas redundâncias “diabolizadas”

Os portugueses sentiram o apagão, demagogia e extremismo foram desmentidos, e afinal a central da Tapada do Outeiro e Castelo do Bode, é que permitiram repor a energia.

Caro leitor, esta crónica veio na ressaca do apagão elétrico do passado dia 28 de Abril, que afetou toda a Península Ibérica e parte de França.

Como se enaltecia nos livros do Astérix, a propósito dos gauleses: “Toda? Quase toda…”. Ainda houve alguns (muito poucos) “redutos de gauleses” que resistiram: hospitais e serviços informativos com geradores (a combustíveis fósseis) e transportes, também a gasóleo e gasolina.

As redundâncias que evitaram um caos ainda mais profundo alimentam-se todas de 1 forma, que tem vindo a ser sistematicamente diabolizada pelos ativistas climáticos e, até, por ex-ministros do Ambiente, como Matos Fernandes.

Faço já a minha declaração de interesses: sou a favor da transição energética. Mas, ao contrário dos ativistas, de outros decisores de Bruxelas e do ex-ministro Matos Fernandes, não ponho 2030 como meta… precisamos de mais meios e mais tempo.

Portugal tem uma elevada quota de produção de energias, por via de renováveis (hídrica e eólica). Em 2024, era cerca de 50% do total da energia produzida e fornecida.

Mas, ter energia em potencial vale 0, quando o sistema não a consegue transformar e pôr disponível na corrente. Com este apagão, ficou bem à mostra a fragilidade dos sistemas de produção, transmissão e distribuição elétrica da REN e demais fornecedores de eletricidade doméstica e empresarial.

Os decisores europeus têm posto prazos para tentar acelerar a transição energética em vários pontos da vida, tais como a proibição da venda de automóveis a combustíveis fósseis. A UE pretendia, antes de 2023, proibir a venda de automóveis a combustão, a partir de 2035.

Após ser confrontada com a força de países produtores, como a Itália, que não estão preparados para transição tão radical, bem como com as crises energéticas provocadas pela guerra Ucrânia-Rússia, Bruxelas foi forçada a congelar a proibição, em Março de 2023.

Enquanto os decisores não tiverem uma visão integrada das realidades socioeconómicas das sociedades que pretendem influenciar, vamos ter muitos avanços, recuos e, mais ainda, declarações lapidares que serão relembradas em cada momento de falha.

O ex-ministro do ambiente Matos Fernandes, em 2021, veio para a imprensa nacional, com pompa e circunstância, anunciar a desclassificação da central da Tapada do Outeiro (Grande Porto), até 2024, pois era a combustíveis fósseis. Os únicos que criticaram esta decisão, foram os sindicatos dos trabalhadores, que se aperceberam que a transição energética não seria tão rápida e que Portugal estava vulnerável.

Segundo comunicado de Outubro de 2022, da Fiequimetal (sindicato), em defesa da manutenção da Tapada do Outeiro e da central do Pego (Abrantes): “O País está, todos os dias, em risco de sofrer um apagão (…) “

Menos de 3 anos depois, o sindicato teve razão, os portugueses sentiram o apagão, o ex-ministro foi desmentido nas suas intenções e, no final do dia, a central da Tapada do Outeiro, conjuntamente com Castelo do Bode, é que permitiram repor a energia a Portugal, no dia 28 Abril.

Quanto aos ativistas climáticos, que tanto diabolizaram os combustíveis fósseis, com tantos cartazes e tarjas a dizer: “Fim aos fósseis, já”, bem como vandalizaram o edifício da REN, apraz fazer as seguintes perguntas: Se não fossem os combustíveis fósseis, conseguiam ter chegado a casa, de transportes, no dia 28 de Abril? Deixariam morrer pacientes no Hospital Santa Maria (Lisboa), no CHUC (Coimbra) e no São João (Porto), por não haver gasóleo para os geradores redundantes?

Sinceramente, creio que eu e muitos portugueses gostaríamos de ouvir agora, depois deste acontecimento do apagão, as respostas dos ativistas às seguintes perguntas.

Portugal precisa de repensar a sua rede de transmissão e distribuição elétrica, investindo em sistemas redundantes, capazes de evitar que grandes centros como Lisboa e Porto fiquem tão vulneráveis.

Devia-se criar um incentivo a ter mais edifícios fundamentais com baterias, que funcionem como UPS, usados em data centers, (fornece logo energia de forma ininterrupta) e, enquanto não se conclui a transição energética, a ter geradores a diesel.

28 de Abril de 2025 será um dia para todos recordarmos e aprendermos. Desde as lojas que venderam rádios e pilhas de forma incansável, passando por alguns fenómenos de “açambarcamento” nos hipermercados, até ao momento em que os combustíveis fósseis, tão diabolizados por alguns, foram fundamentais a manter serviços. Tudo demonstrou que Portugal está frágil e a precisar de mais investimento para combater fenómenos extremos.

Para terminar, fica o meu agradecimento a todos os profissionais de segurança, aos profissionais de saúde e aos radialistas que permitiram que Portugal tivesse serviços fundamentais a funcionar e, acima de tudo, que as pessoas ficassem menos isoladas, dando informação a todo o momento!

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