observador.ptObservador - 18 jun. 00:06

A política em formato de TikTok

A política em formato de TikTok

Se os partidos quiserem mobilizar verdadeiramente as novas gerações, terão de equilibrar forma e conteúdo, proximidade e profundidade, inovação e seriedade.

Nos últimos anos, tornou-se evidente que os jovens se estão a afastar dos partidos políticos tradicionais. Muitos não votam, outros votam por impulso ou protesto, e uma grande parte sente que a política não fala para eles, ou pior, que fala com um tom paternalista e superficial.

Em resposta a esta crise de representação, alguns partidos decidiram “falar jovem”. Surgiram TikToks com memes, reels com frases feitas, desafios virais protagonizados por candidatos e slogans que cabem em camisolas ou num tweet. Esta mudança é, por um lado, compreensível, já que vivemos numa era de comunicação instantânea, de disputas de atenção ao segundo, de política feita também por imagem. Mas há uma linha perigosa entre tornar a política acessível e reduzi-la a entretenimento.

As eleições legislativas de 2025 mostraram o que acontece quando se cede completamente à lógica do rapidamente partilhável. O Chega, com uma comunicação emocional, agressiva e profundamente simplificada, foi o partido mais votado entre os jovens, superando partidos com programas mais robustos, mas com estratégias de comunicação menos eficazes ou mais tradicionais. O PS teve o seu pior resultado desde 1987 e perdeu completamente o pulso da juventude. Já o PSD e a Iniciativa Liberal marcaram presença, sim, nas redes — mas com alcance limitado a segmentos muito específicos.

Isto não significa que os jovens estejam “perdidos para o populismo”. Significa que os partidos não estão a conseguir comunicar com autenticidade e substância. Falar com jovens exige mais do que saber usar gírias, emojis ou filtros. Exige ouvir, envolver, partilhar decisões. Exige propostas claras sobre habitação, salários, saúde mental, ensino superior. E exige também não os tratar como consumidores passivos de conteúdos virais, mas como cidadãos críticos com poder de decisão. Tudo aquilo que o Chega tem conseguido fazer com sucesso e os outros partidos têm falhado.

Claro que é sempre mais fácil transmitir mensagens populistas, mas o Chega defende medidas impopulares e não é por isso que perdem eleitorado. Falta, aos partidos mais tradicionais, uma estratégia de comunicação forte e robusta, que ainda não foi alcançada e, infelizmente, não parece ser uma prioridade.

A política em formato TikTok pode funcionar para ganhar likes. Mas os jovens não são algoritmos a conquistar, são cidadãos a respeitar. Porque quando os memes acabam, o que sobra tem de ser democracia e essa não pode ser infantilizada.

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