Observador - 18 jun. 00:10
Há 72 anos caía a máscara… do marxismo-leninismo
Há 72 anos caía a máscara… do marxismo-leninismo
A repressão do levantamento popular na Alemanha Oriental em 1953 já deixara bem evidente o rosto do totalitarismo estalinista emanado de Moscovo.
Fez 72 anos a 17 de junho que os alemães orientais se revoltaram contra o governo socialista liderado por Walter Ulbricht, secretário-geral do Partido Socialista Unido alemão, e ardente seguidor das políticas estalinistas (deveu a Estaline a sua carreira política).
A revolta popular na Alemanha Oriental, há época sob ocupação soviética, mobilizou quase 1 milhão e meio de pessoas, descontentes com as políticas de sovietização do setor controlado por Moscovo: a obrigatoriedade de aprender russo nos estabelecimentos de ensino, a nacionalização de todos os setores da economia, a proliferação de instituições-irmãs às existentes na URSS, como a infâme polícia política Stasi, fundada em 1950. A soberania alemã estava morta, em terras de onde o responsável pela unificação alemã de 1871 – Otto Von Bismarck – partiu: a Prússia.
A sovietização da economia da RDA provocou, como seria de esperar, fortes ondas de choque entre a população alemã, nomeadamente no que concerne ao estabelecimento de quotas de produtividade: com os vastos programas de nacionalizações e coletivização dos meios de produção, os trabalhadores alemães viram-se alocados para grandes coletividades onde produziriam matéria agrícola ou industrial, em troca de vencimentos, infraestrutura, cuidados de saúdes e familiares, providenciados pelo Estado.
As quotas estabelecidas por Berlim Oriental, contudo, provaram ser irrealistas aos olhos dos trabalhadores alemães – com os olhos postos no rápido e fulgurante crescimento económico da metade ocidental da capital – que, a 16 de junho de 1953, se revoltaram contra a administração soviética da Alemanha Oriental em vários pontos do país, mas com enfoque especial em Berlim Oriental, Potsdam, Jena, e Halle – onde cerca de 100 mil pessoas saíram à rua, desafiando os poderosos tanques soviéticos IS-2 “Iosef Stalin” (que irónico…). Os protestos e as greves depressa se tornaram violentos quando a guarnição do Exército Vermelho incumbida da ocupação da parte oriental alemã, juntamente com a instituição percursora do exército da Alemanha Oriental, a Kasernierte Volkspolizei, e a Stasi, abriram fogo sobre os manifestantes, levando à morte de mais de 120 pessoas.
A forma como os protestos foram reprimidos pelas autoridades soviéticas e alemãs-orientais colocou bem visíveis os telhados de vidro do marxismo-leninismo, bem como serviu de mote para o modus operandi que se seguiria em Budapeste e Praga. Ao contrário da propaganda emanada dos Partidos Comunista Francês e Italiano, os mais poderosos na Europa Ocidental no pós-II Guerra Mundial, sobre as virtudes de uma sociedade igualitária sob a bandeira dos postulados de Marx, Engels, Lenine, e Estaline, livre da devassidão, da ganância, do imperialismo e exploração que caracterizavam as sociedades capitalistas, a repressão do levantamento popular na Alemanha Oriental em 1953 demonstrava a aplicação do totalitarismo estalinista emanado por Moscovo sobre o mais leal dos Estados-satélite.
A total concentração do poder no Estado e, por inerência, no chefe desse mesmo Estado, bem como a brutal repressão exercida por organismos incumbidos de manter a ordem e fazer cumprir as práticas marxistas-leninistas pela força e censura, caracterizaram a resposta das autoridades alemãs-orientais chefiadas por Ulbricht aos protestos daqueles que a teoria comunista mais apregoa proteger: os trabalhadores.
As repercussões dos eventos de 16 e 17 de julho na RDA fizeram-se sentir por todo o Bloco de Leste, mas tiveram especial impacto na Hungria e Checoslováquia, palcos de novos levantamentos populares contra a governação estalinista de Mátyás Rákosi e Antonín Novotný, respetivamente. Se no caso húngaro em 1956, estudantes universitários e, mais tarde, populares, sob comando de Imre Nagy, pretendiam a realização de eleições livres, a retirada do Pacto de Varsóvia e, por conseguinte, o fim do regime comunista, na Checoslováquia, em 1968, a Primavera de Praga foi protagonizada desde o interior do regime, com a tentativa de implementação do socialismo de rosto humano de Alexander Dubcek.
Em ambos os casos, os levantamentos populares foram suprimidos com igual ou maior brutalidade do que a empregue na RDA há exatamente 72 anos demonstrando, não só, a desumana natureza dos regimes comunistas que perfaziam a Europa Central e de Leste, mas também o desejo de liberdade de povos cuja opressão sob a máscara do marxismo-leninismo durou mais de 40 anos.