publico.pt - 18 jun. 19:38
“Quanto vale o azul? é o Rio de Janeiro da beleza e do caos”, diz documentarista
“Quanto vale o azul? é o Rio de Janeiro da beleza e do caos”, diz documentarista
O biólogo marinho e documentarista Ricardo Gomes mostra pela primeira vez o documentário Quanto vale o azul?, em Portugal. Filme foi exibido na Conferência dos Oceanos da ONU, na França.
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Após a estreia mundial na Conferência dos Oceanos da ONU, no início deste mês, em Nice, na França, o documentário Quanto vale o azul? será exibido nesta quinta-feira (19/06), às 17h, no Museu do Mar Dom Carlos I, em Cascais. Dirigida pelo biólogo marinho Ricardo Gomes, 57 anos, a produção foi filmada no Rio de Janeiro e aborda o conceito de economia azul sustentável, que une “crescimento econômico à conservação dos oceanos”.
O carioca, que também é presidente do Instituto Mar Urbano, conversou com o PÚBLICO Brasil sobre o trabalho que realiza para a preservação da natureza, inclusive em Portugal. De 2018 a 2021, ele filmou Rios Urbanos, após descobrir uma comunidade de cavalos-marinhos amarelos, nos estuários do Tejo e do Sado. A história fez parte da programação da Conferência dos Oceanos da ONU, em Lisboa, em 2022.
Como foi a recepção do documentário na conferência deste ano?
Olha, foi a melhor possível. Eu estava até meio assim, porque passaram produções da Netflix de US$ 50 milhões. Quanto vale o azul? é um documentário de guerrilha. A gente hoje tem uma equipe, mas é pequena, de apenas sete pessoas. E vimos equipes com 500 pessoas. É uma diferença muito grande. Mas temos uma receita muito nossa de fazer documentários: a gente faz de uma maneira mais humana.
Como isso funciona na prática?
Quando temos o componente humano, quando temos histórias de vida misturadas com a biodiversidade, e ainda com a sorte de ter o Pedro Luís, que está com a gente há 11 anos, compondo as músicas, de ter o Léo Saad, que tocou no Monobloco, aí a gente pega, né? O nosso filme é mais frenético, é bem o Rio de Janeiro, da beleza e do caos. É batucada, ação, brilho no olho. Eu acho que envolvemos as pessoas de uma maneira única. E remete ao que estamos fazendo no Brasil também, de sensibilização, de aproximar a sociedade do oceano. Temos uma receita muito feliz.
Vocês convidam o público a refletir sobre os valores do oceano.
Sim. E quando você se identifica com o que está sendo mostrado, quando se identifica com a Branca, que é uma das personagens do filme, você entende tudo. Ela é uma pescadora, que mora numa favela, mas vive praticamente em um acampamento na praia. Quando vai pescar, ela dorme em uma barraca na praia, lá na Ilha do Fundão, perto da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). No documentário, também temos três grandes economistas: o Sérgio Besserman Vianna, que é presidente de Jardim Botânico; o Carlos Eduardo Young, professor do Instituto de Economia da UFRJ, que escreveu o livro Quanto vale o verde?, daí veio o nome Quanto vale o azul?; e o belga Gunter Pauli, que, lá atrás, em 1992, lançou esse conceito de economia azul.
Qual é a principal mensagem do documentário?
Temos que encontrar maneiras de ressignificar a nossa relação com o oceano, porque precisamos dele hoje.
Temos que encontrar maneiras de ressignificar a nossa relação com o oceano, porque precisamos dele hoje. Precisamos para o transporte de mercadorias, para a alimentação. Atualmente, há 1 bilhão de pessoas no mundo que dependem do oceano para sua segurança alimentar. Aquele cara, lá da Indonésia, se ele não comer o peixinho dele, vai passar fome. E a economia azul é aquela de uso sustentável, que não agride a natureza. Pode ser um projeto de manguezal replantado, que vira berçário da vida marinha, ou de cultivo de algas. Há vários exemplos. E todo o ecossistema se beneficia. O empresário tem lucro, o pescador tem lucro. Isso ajuda no combate às mudanças climáticas também. É o que estamos tentando mostrar, e estamos com a agenda muito atrasada ainda nessa área.
Como surgiu a ideia de criar o Instituto Mar Urbano?
Eu me formei em biologia marinha, em 1991, na UFRJ, mas não consegui emprego como biólogo. Por força das circunstâncias, passei um tempo trabalhando como fotógrafo de um jornal carioca, mas sempre filmando e registrando a biodiversidade marinha. Em 2017, quando fundei a ONG, fiz o Baía Urbana, sobre a Baía de Guanabara, para ser exibido na primeira Conferência dos Oceanos da ONU, em Nova York. E vi que dava para trabalhar só com isso. No congresso em Nice, uma das resoluções que foram tomadas é dar apoio a formação de 100 mil cientistas e técnicos, em países em desenvolvimento, até 2030. Nós precisamos disso. Precisamos ter mais gente filmando e aproximando a sociedade dos oceanos. Só assim vamos tocar o coração das pessoas e formar uma geração de jovens que vão se interessar, amar e respeitar os oceanos.
Além do documentário Rios Urbanos, qual é a sua relação com Portugal?
Eu conheci Portugal em 2017, quando trouxe o Baía Urbana para ser exibido no Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela, que é o mais antigo de Portugal. Lá, nós ganhamos o prêmio principal de filmes de língua portuguesa, o Camacho Costa. E o pessoal brincou comigo e me perguntou: ‘Por que você não vem filmar o fundo dos rios de Portugal?’. E aquilo ficou na minha cabeça. No outro ano, eu comecei o projeto Rios Urbanos. Temos que olhar para os nossos rios para entender os oceanos, para entender que 80% da poluição marinha têm origem em terra firme. E, desde que eu cheguei em Lisboa, no último dia 14, para apresentar o Quanto vale o azul?, eu já fiz vários mergulhos em Cascais. Eu vou voltar para o Brasil cheio de ideias para novos documentários. Eu me sinto aqui como eu me sinto na Baía de Guanabara.
Quanto vale o azul?Local: Museu do Mar Dom Carlos I,
Endereço: Rua Júlio Pereira de Mello, 2750-319, Cascais
Data: 19/06
Horário: 17h
Entrada livre
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