Luísa Salgueiro - 18 jun. 12:00
A confiança que vem do território
A confiança que vem do território
Os cidadãos estão prontos para voltar a discutir a regionalização. Agora falta saber se o poder político está à altura do desafio dos cidadãos
Num tempo em que a desconfiança parece contaminar tantas instituições, há uma que resiste: o Poder Local Democrático. É o que confirma o estudo do ISCTE — “O que pensam os portugueses 2025: Descentralização, Desconcentração e Regionalização” — coordenado pelos investigadores Pedro Adão e Silva e Isabel Flores, que nos revela dados claros.
Os portugueses confiam nos autarcas. Mais, compreendem que são as câmaras municipais e as juntas de freguesia que mais se preocupam com as pessoas e o desenvolvimento dos territórios. Que mais conhecem os seus problemas. Que mais agem. E isso não é pouco.
A Associação Nacional de Municípios Portugueses não se surpreendeu com os resultados deste estudo. Desde sempre, os autarcas foram os primeiros a chegar e os últimos a sair — nas cheias, nos incêndios, nas pandemias, nos dias comuns e nas crises extraordinárias. A vida faz-se, cada vez mais, nas decisões locais e os portugueses sabem-no bem.
O estudo vem confirmar o que temos vivido no terreno, em cada um dos nossos municípios — que o Poder Local é reconhecido, pelos cidadãos, como o nível do Estado mais próximo, mais eficaz, mais confiável.
A satisfação dos cidadãos com os serviços prestados ao nível municipal é elevada. Da educação à habitação, da higiene urbana à segurança, é grande o reconhecimento das nossas populações. Isso deve-se à descentralização exigida pela ANMP que, ainda a precisar de aprofundamento e consolidação, já faz a diferença. Os municípios estão a assumir novas competências, com meios e com sentido de missão e os resultados começam a surgir.
Mas este estudo é mais do que um retrato do presente. É um sinal para o futuro. Sete em cada dez portugueses querem voltar a discutir a regionalização. E 75% defendem um novo referendo. A mensagem é clara: os cidadãos estão prontos. Agora falta saber se o poder político está à altura do desafio dos cidadãos. A ANMP acredita que sim e reforça o apelo: É tempo de avançar. Criar as regiões administrativas com órgãos democraticamente eleitos, aprofundar a descentralização, corrigir assimetrias, planear o território com visão e sentido de justiça social.