www.sabado.ptFrancisco Paupério - 18 jun. 08:19

O mundo que deixamos para os nossos filhos

O mundo que deixamos para os nossos filhos

Opinião de Francisco Paupério

Desde quando é que o próprio mundo se tornou uma rede social? Na medida em que o ritmo é avassalador, guerras começam em questões de horas, viralizam-se vídeos de ataques de drones e rockets, contam-se os amigos e os inimigos, troca-se de aliados do dia para a noite, colocam-se todos os dramas emocionais a cru para todo o mundo saber. O número de mortos diários deixa de ser novidade, crianças passam a ser um número. Pessoas passam apenas a ser rostos sem identidade e são apenas mais um indiferenciado. Num dia o drama é mais a Este noutro é mais a Oeste. Até na escala espacial conseguimos perceber que nada parece estar bem a nível local ou nacional. Tudo parece ser notícia sobre o precipício no qual estamos a caminhar e ninguém parece olhar para a frente para parar a marcha. Separar o feed de uma rede social ou uma página de jornal torna-se cada vez mais difícil. Separar a verdade da verdade de cada um é o exercício radical dos nossos dias. Toda a gente perdeu o contexto, a mentira generalizou-se e o fact checking perdeu o valor, por também esse estar enviesado. Cada vez mais, até em termos diplomáticos, valem "as nossas verdades". E se perdermos estes pontos de contacto, como manter uma sociedade sã e saudável para os que vêm a seguir? Que veem diariamente as guerras culturais, físicas e de valores praticadas pelos seus pais, pares e no seu espaço digital. Como podemos desistir de forma tão violenta das próximas gerações?

Se o tema associado à sustentabilidade das próximas gerações sempre teve como prioridade o aspecto ambiental do planeta, cada vez mais parece ser apenas a ponta do iceberg. Passamos a falar de segurança social e do sistema de pensões, alavancado pela falta de crescimento da população, falamos de sistemas económicos baseados no trabalho e como a inteligência artificial irá mudar esse paradigma. Mas nunca foi, em território europeu, abordado ou pressentido que a guerra física, a perda de qualidade de vida, a revolta, o ódio, a violência, o racismo voltasse em força neste século, especialmente enquanto ainda existem pessoas que experienciaram na sua pele todas as consequências de um mundo desequilibrado e desfeito. Olhando para o nosso país, com a detenção de pessoas pertencentes a uma organização de extrema-direita com planos para invadir as nossas instituições; passando para a violência generalizada que estes grupos estão a causar na via pública a atacar pessoas, passando pelas vítimas de violência doméstica que continuam a aumentar e ver a total normalização do discurso de ódio e violento para com outra pessoa, não podemos aceitar que já somos a minoria. Pelo contrário, somos a maioria silenciosa (ou não) que nunca baixará os braços para devolver a esperança. E que se não seja pelas próximas gerações que seja pelas que cá estão. Pelo que merecem viver, com a sua liberdade e felicidade.

Infelizmente os tempos não apontam para esta direcção. Numa semana, e para constatarem ao ritmo alucinante em que se encontram as nossas lideranças, tivemos o surgimento de mais um conflito armado entre Israel e o Irão com os Estados Unidos da América a ameaçar invadir o país, tivemos o maior ataque em Kyiv desde o início da invasão russa, temos os Estados Unidos da América numa proto guerra civil em certos estados, com tentativas de deportação em massa a serem contestadas pelos americanos, tivemos a informação da existência activa de grupos de extrema-direita e terroristas em portugal, com presença de elementos da Polícia; a luta de galos entre Trump e Musk; tivemos o G7 ou o G6+1 reunido dependendo da personalidade de Trump, onde António Costa em representação da União Europeia oferece uma t-shirt do Cristiano Ronaldo e de Portugal assinada com "Play for peace. As a team". Se o surreal e o aleatório das redes sociais passassem para a vida real, era mais ao menos isto que esperava. Se calhar não há coincidências.

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