observador.ptObservador - 19 jun. 00:04

Chega: recordar e defender a civilização

Chega: recordar e defender a civilização

O Chega é, de facto, o partido “civilizacionista” de que Portugal precisa.

Há sete anos, uma série de jornalistas e académicos portugueses afirmava, com grande convicção, que o nosso país era imune à fundação e à ascensão eleitoral de um partido abertamente contrário ao multiculturalismo e à imigração em níveis considerados desproporcionais. No entanto, parece que, nos últimos cinco anos, reuniram-se as condições para que um partido com esse perfil obtivesse sucesso nas urnas: o Chega alcançou 22,76% dos votos nas eleições legislativas de 2025, elegendo 60 deputados para a Assembleia da República.

Neste artigo, o meu objetivo não é fazer um diagnóstico dos fatores que levaram o Chega a tornar-se o segundo maior partido português, rompendo decisivamente com o bipartidarismo que há décadas marcava a política nacional. O que me proponho a fazer é esclarecer por que razão este partido, classificado como de “direita radical” ou “extrema-direita”, se orgulha de integrar o grupo de forças políticas cada vez mais influentes na Europa, que afirmam defender uma determinada ideia de civilização contra a desordem e a barbárie.

Esse esclarecimento torna-se, a meu ver, especialmente urgente quando, no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, um chefe de Estado declara que “não existem portugueses mais puros do que outros”. Aproveito também para mencionar uma das decisões mais recentes e significativas do partido Chega, tomada com o intuito de remediar os efeitos que considera ser um ataque à civilização ocidental.

A “de-civilização”: nos EUA e em casa 

No ensaio “The Decivilizing of America”, do professor Victor Davis Hanson, publicado a 12 de maio de 2025 no blog The Blade of Perseus, o historiador militar norte-americano elenca algumas características essenciais de uma civilização: fronteiras seguras e populações estáveis; a criação e manutenção de grandes cidades; um poder judicial “imune a ideologias, vieses, subornos e vinganças pessoais”; a existência de universidades ou centros de investigação e transmissão de conhecimento, responsáveis pelo “avanço das ciências, da medicina, do direito, da política e das humanidades”; meritocracia nas instituições; e a presença de infraestruturas icónicas e funcionais.

Sem nunca omitir o facto de que este ensaio se refere aos Estados Unidos da América (EUA), acredito que o afastamento em relação aos pilares da civilização, denunciado por um dos mais importantes académicos da Universidade de Stanford (e do Instituto Hoover), também é observável em Portugal. Já nem menciono outros países da Europa, como o Reino Unido, a Alemanha, a França ou a Suécia.

Se a administração Biden se comprometeu com a erosão das fronteiras e passou a priorizar imigrantes ilegais — tanto na aplicação da lei como no acesso a serviços públicos — em detrimento dos cidadãos norte-americanos, algo muito semelhante ocorreu durante quase uma década de governação socialista e social-democrata em Portugal. Do outro lado do Atlântico, cidadãos norte-americanos ressentem-se ao testemunhar a condescendência com que a justiça tratou o caso de Abrego Garcia, membro do gangue criminoso Mara Salvatrucha (MS-13), fundado em Los Angeles. Segundo relatos de dois juízes, há provas claras de sua ligação ao grupo. Ainda assim, causou choque público a confirmação, em Abril de 2025, pela polícia do Condado de Prince George (Maryland), de que o salvadorenho nunca foi detido, mesmo após ter sido mandado parar pela Polícia Rodoviária do Tennessee.

Por sua vez, em Portugal, o sociólogo Pedro Góis foi nomeado, em Julho de 2024, diretor científico do Observatório das Migrações. O cientista social, que já admitira que Portugal necessitará de “reconstruir os serviços públicos para lidar com uma população que agora é 16% estrangeira” (percentagem já ultrapassada), defendeu que o facto de os jovens estarem a sair cada vez mais tarde de casa (“a população portuguesa pode ficar em casa dos pais mais uns anos”) deve ser aproveitado para priorizar o acesso à habitação por parte dos imigrantes (“quem chega [os imigrantes] necessita de um espaço para habitar”).

O facto de muitos de nós sabermos o quanto os nossos antepassados da Antiguidade e da Idade Média se esforçavam por manter os espaços urbanos limpos, para prevenir a disseminação de doenças, não impede que, nos EUA, vários presidentes de câmara tenham “destruído séculos” de “protocolos de saúde” ao permitirem que “dezenas de milhões de sem-abrigo se injectassem, urinassem, defecassem e fornicassem dentro ou sobre vitrines, ruas, sarjetas, parques e calçadas”. Já em Portugal, os habitantes das nossas cidades assistem a uma sobre-representação de determinados grupos étnicos que nunca autorizaram, com consequências negativas para os níveis de coesão social nesses mesmos espaços.

Neste contexto, é relevante destacar o que afirmou Ana Cavalieri, comentadora da SIC com formação em Direito e Ciência Política, no dia 4 de Janeiro deste ano: “Em Portugal não existem números para comprovar ou negar qualquer ligação entre imigração e estado social ou criminalidade.” Para a professora universitária, a falta de dados sobre a origem étnica dos criminosos e a ausência de distinção quanto à naturalização impedem que se faça qualquer avaliação rigorosa com base nos dados divulgados pelas entidades governamentais portuguesas.

Autores como Bruce Thornton, professor de Humanidades na Universidade da Califórnia (Fresno) e investigador associado do Instituto Hoover, sediado em Stanford, já alertavam, ainda na primeira década deste século, para o suicídio da Europa por meio da imigração. Por exemplo, no terceiro capítulo da sua obra “Decline and Fall: Europe’s Slow-Motion Suicide”, demonstra, de forma documentada, que, em vários países europeus, os imigrantes oriundos de países de maioria muçulmana estavam sobre-representados entre os que cometem crimes e cumprem penas de prisão. Segundo a edição de junho de 2006 da revista The Economist, os prisioneiros em França tinham nove vezes mais probabilidade de serem filhos de norte-africanos do que de franceses.

Chega: um partido “civilizacionista” 

Para o historiador e jornalista norte-americano Daniel Pipes, e referindo-me, mais especificamente, ao seu artigo “Europe’s Civilizationist Parties”, um partido “civilizacionista” reúne três características principais: é populista, anti-imigração e anti-islamização. Antes de mais, estes partidos são considerados “civilizacionistas” porque se concentram em prioridades culturais e mostram-se empáticos e disponíveis para canalizar a frustração provocada pelo desaparecimento (ou risco de desaparecimento) de um modo de vida ao qual os seus eleitores se sentem profundamente apegados. Nas palavras do presidente do Middle East Forum, um think tank sediado em Filadélfia, no estado da Pensilvânia -, estes partidos “valorizam a cultura tradicional da Europa e do Ocidente e querem defendê-la do ataque de imigrantes, auxiliado pela esquerda”.

O seu populismo assenta na manifestação de “queixas contra o sistema” e na desconfiança em relação a uma “elite que ignora ou desdenha certas preocupações”. Os alvos habituais dessas críticas são: os polícias, os políticos, a imprensa, os clérigos, os professores e os juízes.

Estes partidos são anti-imigração porque, seja na oposição ou no exercício do poder, procuram controlar, reduzir ou mesmo reverter os fluxos migratórios das últimas décadas, especialmente de muçulmanos e africanos. Os partidos “civilizacionistas” defendem a assimilação cultural e os seus membros e apoiantes acreditam que os imigrantes provenientes de certas regiões geográficas e/ou contextos culturais enfrentam especiais dificuldades nesse processo — que implica a adopção de comportamentos e o respeito pelas tradições do país de acolhimento.

Os problemas mais frequentemente apontados por esses partidos, como resultado de uma imigração descontrolada, são: o desemprego, a inatividade económica, a criminalidade e a imposição de costumes alheios, oriundos de civilizações percebidas como concorrentes da ocidental em solo europeu.

Por fim, estes partidos são também anti-islamização, refletindo uma crescente preocupação dos europeus em relação à sharia (lei islâmica), sobretudo no que toca à forma como esta determina o papel da mulher na sociedade. De facto, parece-me quase impossível ignorar, principalmente na Europa Ocidental, fenómenos como o uso de niqabs e burqas nas ruas, a poligamia e até o assédio sexual em grupo (“taharrush”). Uma outra das suas preocupações, indissociável da denúncia destas práticas em território europeu, diz respeito ao comportamento de alguns muçulmanos perante os não-muçulmanos (ou “infiéis”), sendo frequente a acusação de que o Islão goza de estatuto privilegiado em comparação com o Cristianismo, o Judaísmo e outras religiões.

Alguns poderão considerar desnecessário indicar qual é o partido que, em Portugal, corresponde à descrição e caracterização que acabei de apresentar.

Petição para a Revogação da Lei que Permite o Reagrupamento Familiar em Portugal 

No dia 11 de Junho, deu entrada, na Assembleia da República, o projecto de resolução do Chega que urge o governo da Aliança Democrática (AD) a adoptar as “medidas adequadas à imediata suspensão do reagrupamento familiar pedida por imigrantes com residência legal em Portugal”, o que será importantíssimo, se for levada a sério pelo primeiro-ministro Luís Montenegro e pelo restante governo, para prevenir a “legalização de milhares de imigrantes” no nosso país. Espero que haja um consenso em torno de, pelo menos, o seguinte: a prioridade deve ser que os pedidos de legalização pendentes de apreciação tenham uma decisão final e que se averigue a capacidade de integração dos que solicitam esses mesmos pedidos. Depois é que deveríamos preocupar-nos com os restantes que foram atraídos pelo efeito de chamada que foi lançado pelo executivo do Partido Socialista (PS).

Se eu sou solidário com o argumento segundo o qual a proximidade dos filhos, que podem passar a frequentar as escolas portuguesas, e dos cônjuges contribui positivamente para a integração dos imigrantes regularizados, também respeito a vontade dos meus compatriotas em partilhar o seu país apenas com um número limitado de imigrantes, e segundo critérios muito bem delineados e que respeitem o vínculo que os nacionais têm com a sua terra. Não faltam evidências da pressão que a chegada e a fixação de imigrantes sobre o Estado-providência, que engloba, no nosso caso, a Segurança Social, o Serviço Nacional de Saúde e outros serviços públicos.

Conclusão 

É manifesto que o Chega se preocupa em assegurar que Portugal beneficie de fronteiras seguras, que não seja vítima dos efeitos de uma deslocação maciça de pessoas (especialmente provenientes de países que representam culturas completamente diferentes da portuguesa) e que as cidades portuguesas se mantenham reconhecíveis face a quaisquer tentativas de reconfiguração demográfica encorajadas, por acção ou por negligências, pelas elites políticas (que podem ser de esquerda ou de direita). É, de facto, o partido “civilizacionista” de que Portugal precisa.

NewsItem [
pubDate=2025-06-19 01:04:36.0
, url=https://observador.pt/opiniao/chega-recordar-e-defender-a-civilizacao/
, host=observador.pt
, wordCount=1655
, contentCount=1
, socialActionCount=0
, slug=2025_06_18_251367926_chega-recordar-e-defender-a-civilizacao
, topics=[partido chega, estados unidos da américa, opinião, mundo, política, américa, imigração]
, sections=[opiniao, actualidade]
, score=0.000037]