publico.pt - 18 jun. 19:02
Um Curtas Vila do Conde “sem tempo para desespero”
Um Curtas Vila do Conde “sem tempo para desespero”
A iraniana Maryam Tafakory e o palestiniano Mahdi Fleifel dão o tom para a edição 2025 do festival, a correr de 12 a 21 de Julho. Ainda com Maureen Fazendeiro, David Lynch ou Whit Stillman.
"Este é precisamente o momento no qual os artistas vão trabalhar. Não há tempo para desespero, não há espaço para medo" — é assim, citando a escritora Toni Morrison, que a cineasta iraniana Maryam Tafakory dá o mote para a sua exposição Which Pain Does Film Cure? — Qual é a Dor que o Cinema Cura?, que estará patente na galeria Solar entre 12 de Julho e 30 de Agosto. Seis obras realizadas entre 2019 e 2025, em simultâneo com uma carta-branca de filmes no Curtas Vila do Conde (que inclui obras das lendárias cineastas Forrough Farrokhzad ou Jocelyne Saab).
A 33.ª edição do festival, que corre de 12 a 21 de Julho, foi apresentada esta quarta-feira, com a revelação das secções competitivas deste ano, mas também com o mergulho a fundo num programa que reivindica a sua atenção ao mundo que nos rodeia.
Para além de Maryam Tafakory, também Mahdi Fleifel, cineasta palestiniano nascido no Dubai, formado em Londres e trabalhando entre a Grécia e a Escandinávia, estará em Vila do Conde com sete curtas-metragens e as suas duas longas: o documentário de 2012 A World Not Ours, filmado num campo de refugiados no Líbano, e a ficção To a Land Unknown, que teve estreia na Quinzena dos Cineastas de Cannes 2024 e chegará às salas portuguesas depois do festival, no final de Julho.
Na competição nacional, são 16 as curtas a concurso, das quais apenas sete são estreias mundiais: as ficções Calhau, de Paulo Abreu; A Emancipação de Mimi, de Marcelo Pereira; Noites Mais Fáceis, de João Pedro Mamede; Ofélia, de Carlos Lobo; Rui Carlos, de Margarida Paias; Sol Menor, de André Silva Santos; e a animação Porque Hoje é Sábado, de Alice Eça Guimarães.
Já mostrados em festivais internacionais foram Vultosos Cumes, de Diogo Salgado (Roterdão 2025), Arguments in Favor of Love, de Gabriel Abrantes (Cannes 2025), Atom & Void, de Gonçalo Almeida (que já esteve presente numa dúzia de festivais, tendo ganho o Méliès d’Argent no festival de cinema fantástico de Haapsalu, na Estónia, e sido nomeado para o Sophia de curta-metragem), e Icebergs, de Carlos Pereira (Locarno 2024).
A selecção completa-se com as animações Amarelo Banana, de Alexandre Sousa, e Cão Sozinho, de Marta Reis Andrade; e as ficções Neko, de Inês Oliveira; Praia de Pedra, de Sofia Bost; e Tapete Voador, de Justin Amorim. Juntam-se-lhe, nos concursos paralelos, as co-produções Beli Dani, de Nevena Desivojevic (Competição internacional), Da Insolência do Natural, de João Pedro Amorim, Mirage: Eigenstate, de Riar Rizaldi, e Skinflicker, de Helena Gouveia Monteiro (todos na competição experimental).
Na competição internacional, merecem destaque novos documentários do russo exilado Vitaly Mansky (Iron) e do bielorrusso Sergei Loznitsa (Paleontology Lesson), bem como Se Posso Permettermi Capitolo II, do mestre italiano Marco Bellocchio.
Já anunciados anteriormente tinham sido os programas In Focus e New Voices. Este último destaca este ano Maureen Fazendeiro, com a exibição da longa que co-dirigiu com Miguel Gomes Diários de Otsoga e das suas curtas Motu Maeva, Sol Negro e Les Habitants (esta última em estreia nacional depois de ter sido revelada no festival parisiense Cinema du Réel).
O programa In Focus será dedicado, para lá de Mahdi Fleifel, ao independente americano Whit Stillman, que virá ao festival apresentar as suas cinco longas-metragens (depois de uma passagem pelo IndieLisboa em 2016 como Herói Independente).
David Lynch, falecido em Janeiro, será homenageado com a exibição em grande ecrã de Got a Light?, o estarrecedor episódio 8 de Twin Peaks: The Return, na secção de repertório Cinema Revisitado. Que propõe "revisitar" a "Geração Curtas", revelada precisamente há 25 anos, com uma sessão intitulada Geração Curtas, 25 Anos Depois, com quatro filmes rodados entre 1998 e 2001 por Jeanne Waltz, Ivo Ferreira, João Carrilho e Miguel Seabra Lopes. A mesma secção inclui ainda o programa The Last Film, onde serão exibidas 15 curtas-metragens que correspondem aos derradeiros filmes realizados por Jean-Luc Godard, Michael Powell, Buster Keaton, Roberto Rossellini, Danièle Huillet e Jean-Marie Straub, ou os portugueses António Campos e Manoel de Oliveira.
Entre as novidades anunciadas esta semana estão também a exibição de três filmes musicais integrados no programa Stereo, ao lado dos cine-concertos de Lee Ranaldo (Quick Billy, sobre Bruce Baillie, no dia 12), Felicia Atkinson (Les Yeux sans Visage, de Georges Franju, no dia 17) e John Carroll Kirby (Traces, no dia 18). São eles os documentários Monk in Pieces, de Billy Shebar e David Roberts, sobre Meredith Monk (já exibido no IndieLisboa), e Ritas, de Oswaldo Santana e Karen Harley, sobre Rita Lee; e a ficção Köln 75, de Ido Fluk, que reconstrói o percurso do "concerto de Colónia" de Keith Jarrett.
Como habitualmente, o festival propõe também o programa infantil Curtinhas, as competições de vídeos musicais e de filmes de escola Take One!, sessões com os nomeados para o Prémio Europeu de Cinema de Melhor Curta-Metragem (entre os quais 2720, de Basil da Cunha) e para o Prémio do Público Europeu, e o programa Radical Intimacy, composto por três sessões de curtas seleccionadas a convite do festival austríaco Vienna Shorts por Vila do Conde e pelo festival de Cinema de Reiquejavique, na Islândia.