www.publico.ptpublico.pt - 18 jun. 21:05

Desde 2005 que não se investia tão pouco nos países em desenvolvimento

Desde 2005 que não se investia tão pouco nos países em desenvolvimento

Relatório do Banco Mundial mostra que redução do investimento directo estrangeiro ameaça sustentabilidade das economias em desenvolvimento.

Os fluxos de investimento directo estrangeiro para as economias em desenvolvimento caíram para 435 mil milhões de dólares (cerca de 378 mil milhões de euros) em 2023, o valor mais baixo desde 2005, com apenas 336 mil milhões de dólares a fluírem para as economias avançadas, o valor mais baixo desde 1996.

De acordo com um relatório publicado na segunda-feira pelo Banco Mundial​, as crescentes barreiras ao investimento e ao comércio, a fragmentação e os riscos macroeconómicos e geopolíticos estão a diminuir as perspectivas dos fluxos de investimento directo estrangeiro (IDE) para os países em desenvolvimento, constituindo uma ameaça para os esforços de desenvolvimento.

"A queda acentuada do IDE nas economias em desenvolvimento deveria fazer soar o alarme", afirmou Ayhan Kose, economista-chefe adjunto do Banco Mundial, num comunicado divulgado na segunda-feira. "Inverter este abrandamento não é apenas um imperativo económico − é essencial para a criação de emprego, o crescimento sustentado e a consecução de objectivos de desenvolvimento mais amplos."

O relatório salienta que as recessões mundiais e nacionais estão associadas a uma deterioração significativa do IDE.

Esforços climáticos frustrados

Segundo o Banco Mundial, o declínio do investimento estrangeiro deixa por colmatar "vastas lacunas em termos de infra-estruturas" nos países em desenvolvimento, ao mesmo tempo que prejudica os esforços para acabar com a pobreza global e responder às necessidades urgentes em matéria de alterações climáticas.

Ayhan Kose afirma que são necessárias reformas internas arrojadas para melhorar o ambiente empresarial e alargar a cooperação global, o que poderá estimular o aumento das taxas de investimento transfronteiriço.

O relatório, baseado em dados de 2023 − os mais recentes disponíveis −, recomenda que as economias em desenvolvimento aliviem as restrições que se acumularam nos últimos anos, promovam a integração do comércio e incentivem mais pessoas a participar na economia formal.

O Banco Mundial insta os países a trabalharem em conjunto para garantir que os fluxos de IDE se destinem às economias em desenvolvimento com maiores necessidades de investimento.

Incerteza económica

O banco divulgou o relatório uma semana depois de ter baixado as suas previsões económicas globais para 2025 em quatro décimas de ponto percentual, para 2,3%, alertando para o facto de o aumento das tarifas e a incerteza acrescida representarem um "vento contrário significativo" para quase todas as economias.

O economista-chefe do Banco Mundial, Indermit Gill, afirma que a diminuição do IDE, um dos principais motores do crescimento económico, é o resultado directo de uma política pública que assistiu à proliferação de restrições ao comércio e ao investimento.

"Nos últimos anos, os governos têm estado ocupados a erguer barreiras ao investimento e ao comércio, quando deveriam estar a eliminá-las deliberadamente. Terão de abandonar esse mau hábito", afirmou.

O IDE atingiu, em média, quase dois biliões de dólares (1740 milhões de euros) por ano a nível mundial durante a última década, descreve o Banco Mundial, acrescentando que os dados sugerem que um aumento de 10% nos fluxos de IDE poderia aumentar o PIB de uma economia média em desenvolvimento em 0,3% ao fim de três anos. O impacto poderia ser muito maior − 0,8% − em países com instituições mais fortes, menor informalidade e maior abertura comercial.

China, Índia e Brasil

Em percentagem do PIB, os fluxos de IDE para as economias em desenvolvimento em 2023 foram de apenas 2,3% − cerca de metade do valor registado em 2008, o seu ponto mais alto.

Os fluxos de IDE para os mercados emergentes e para as economias em desenvolvimento cresceram rapidamente durante a década de 2000, atingindo um pico de quase 5% do PIB na economia típica em 2008, mas diminuíram desde então, segundo o relatório do Banco Mundial.

O crescimento do comércio também enfraqueceu significativamente entre 2020 e 2024, caindo para o seu ritmo mais lento desde 2000, enquanto a incerteza económica atingiu o nível mais elevado desde o início do século.

Os três maiores países em desenvolvimento − China, Índia e Brasil − receberam em conjunto quase metade do total dos fluxos de IDE durante o período de 2012-2024. As economias avançadas foram responsáveis por quase 90% do total de IDE nas economias em desenvolvimento durante a última década, sendo cerca de metade proveniente da União Europeia e dos Estados Unidos, descreve o relatório do Banco Mundial.

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