publico@publico.pt - 18 jun. 07:37
Gastronomia sustentável: onde nutrição, cultura e sustentabilidade se encontram
Gastronomia sustentável: onde nutrição, cultura e sustentabilidade se encontram
O dia 18 de junho marca o Dia Mundial da Gastronomia Sustentável, uma data que convida à reflexão sobre como produzimos, escolhemos, transformamos e consumimos os alimentos.
No calendário das causas globais, o dia 18 de junho marca o Dia Mundial da Gastronomia Sustentável, uma data que convida à reflexão sobre como produzimos, escolhemos, transformamos e consumimos os alimentos. A gastronomia, além de arte e tradição, é também ciência e consciência cultural e social. Em países como Portugal, onde cada região conta a sua história através de sabores, aromas e técnicas únicas, a gastronomia é espelho vivo da diversidade geográfica e cultural. Aliada à sustentabilidade, é um instrumento essencial onde nutrição, inovação e cultura se entrelaçam para promover a saúde humana e a preservação do planeta, convocando todos os atores da cadeia alimentar, dos agricultores aos chefs, dos cientistas aos consumidores.
A gastronomia sustentável promove práticas agrícolas regenerativas, valoriza ingredientes locais e sazonais, respeita os ciclos naturais e reduz o desperdício. Mas é também um território fértil para a ciência e a inovação. A biotecnologia alimentar tem vindo a transformar o que comemos e como o fazemos, desde culturas mais resistentes que reduzem a necessidade de pesticidas, até enzimas na panificação que melhoram textura e conservação sem aditivos artificiais. Em Portugal, empresas em colaboração com centros de investigação (como os das agendas VIIAFOOD e Bioeconomia Azul) resgatam técnicas ancestrais como a fermentação potenciando alimentos probióticos que favorecem a saúde intestinal, cultivam novas fontes de proteína, como algas e insetos, com elevado valor nutricional, ou valorizam subprodutos agroalimentares para a produção de alimentos mais sustentáveis numa lógica de economia circular, reduzindo emissões, desperdício e dependência de recursos naturais.
No contexto do pilar da economia a integração de ingredientes locais e sazonais, reforçada por cadeias curtas e sistemas agrícolas regenerativos, fortalece economias locais e estimula a criatividade culinária. Iniciativas como a da Herdade do Freixo do Meio, no Alentejo, que pratica uma agricultura agroflorestal regenerativa e cria pontes diretas com chefs e consumidores, devolvem ao território a centralidade devida. A ciência agronómica alia-se à gastronomia para criar alimentos bons para o prato e para o planeta.
O pilar social manifesta-se na valorização de práticas tradicionais e na formação dos profissionais do futuro com temas como a sustentabilidade dos sistemas alimentares, desperdício zero, nutrição funcionalizada e ecogastronomia nos planos de estudos. Afinal, gastronomia é também saber de onde vem o alimento, como foi produzido e que futuro se está a alimentar. Hortas comunitárias, mercados locais e restaurantes comprometidos com o “desperdício zero” mostram que é possível conjugar inovação, ética e sabor.
Celebrar a gastronomia sustentável é mais do que homenagear a diversidade culinária. É uma visão transformadora que integra ciência nas práticas alimentares, valoriza a biodiversidade e constrói um futuro alimentar dentro dos limites ecológicos do planeta. Cada refeição é uma escolha, e uma oportunidade. Quando um prato conta uma história de biodiversidade protegida, de inovação circular ou de regeneração do solo, estamos perante muito mais do que alimentos, estamos perante mudança. A ciência, bem temperada, pode ser o ingrediente-chave para o futuro.
A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990