observador.ptObservador - 19 jun. 00:01

O risco de não ser capaz de se adaptar às entidades financeiras

O risco de não ser capaz de se adaptar às entidades financeiras

A incapacidade de combater eficazmente a fraude não só compromete o lucro do setor, mas também a confiança do consumidor e, por extensão, a estabilidade do sistema financeiro como um todo.

Depois de viver uma pandemia mundial, vários conflitos bélicos, uma guerra de taxas internacionais e, ainda, um apagão que chegou a afetar toda a Península Ibérica, não podemos negar que o nosso contexto atual está marcado pela incerteza. E, se olharmos atentamente para o mercado financeiro, essa situação também repercute no aumento da inadimplência e na proliferação de padrões de fraude. Fica claro, então, que as instituições financeiras enfrentam um desafio muito crítico: adaptar os sistemas de avaliação de risco às situações em constante mudança, minuto a minuto.

No entanto, de acordo com um estudo da Provenir, 70% dos executivos do setor financeiro admitem não ter plena confiança em sua capacidade de modificar rapidamente os processos de avaliação de risco, conhecidos como tomada de decisão de risco, em resposta a mudanças no comportamento do consumidor ou no ambiente económico. Este número destaca a crescente tensão entre a necessidade de tomar decisões mais ágeis e precisas e as limitações estruturais que muitas organizações enfrentam ao fazê-lo.

O relatório também observa que 43% dos entrevistados identificam a detecção de fraudes como um dos principais desafios atuais. No entanto, apenas 7% dizem que suas medidas antifraude são completamente eficazes. Esse desequilíbrio mostra-se especialmente preocupante considerando que, de acordo com dados de outro estudo da TransUnion, as tentativas de suspeita de fraude digital em serviços financeiros cresceram significativamente nos últimos anos.

E ao que tudo indica a situação vai piorar ainda mais nos próximos anos, já que estima-se que o roubo de identidade e as identidades sintéticas serão responsáveis ​​por aproximadamente metade de todos os casos de fraude financeira até 2025.

Uma das conclusões mais reveladoras do relatório da Provenir é que 49% dos inquiridos apontam a gestão do risco ao longo de todo o ciclo de vida do cliente como um dos principais desafios. Paralelamente, 48% considera que o desenvolvimento e a implementação de processos de tomada de decisão de risco continua a ser uma tarefa complexa. A nível global, mais de metade das entidades financeiras afirma que o seu principal objetivo nos últimos seis meses foi precisamente a gestão do cliente após o início da relação.

Existe, por isso, uma necessidade urgente de reforçar os mecanismos de monitorização e avaliação do risco após a concessão de um crédito ou a abertura de uma conta. Num contexto de políticas de crédito mais restritivas, manter uma supervisão contínua torna-se indispensável para reduzir a taxa de incumprimento e antecipar comportamentos anómalos.

Apesar do crescimento de tecnologias avançadas como o machine learning e os modelos preditivos, apenas 10% das organizações considera prioritária a expansão da relação com os clientes atuais através de técnicas de venda cruzada ou aumento de produtos contratados (cross/upsell). Este dado contrasta com o discurso dominante de um sector orientado para a personalização de serviços e experiências.

Por isso, é fundamental compreender quais são as dificuldades mais prementes na integração e execução de decisões em tempo real, essenciais para alcançar a tão desejada hiperpersonalização: a fragmentação dos dados, a falta de coordenação entre as equipas de risco de crédito e de fraude, e a rigidez dos modelos actuais impedem a criação de estratégias adaptativas que respondam aos comportamentos individuais de cada cliente.

Um novo modelo integrado: essencial face às ameaças do futuro

Perante este cenário, é urgente promover uma transformação profunda na forma como são tomadas as decisões relacionadas com o risco. Uma plataforma de avaliação de risco baseada em inteligência artificial, capaz de integrar múltiplas fontes de dados, criar fluxos de trabalho personalizados e ajustar modelos em tempo real para responder a novas ameaças, pode ser a chave para enfrentar os desafios que se avizinham.

Com uma plataforma integrada, é possível orquestrar dados e incorporar validações de identidade, pontuações de risco de fraude e verificações de dispositivos num único fluxo de trabalho. Esta abordagem permite detetar ameaças como o fraude sintético, a usurpação de identidade e a atividade de contas-mula utilizadas para movimentações ilícitas de dinheiro, tudo isto com uma visão completa do cliente ao longo de todo o seu ciclo de vida.

Num sector onde a confiança é o principal ativo, a capacidade de adaptação rápida às mudanças, de proteção do cliente e de antecipação ao risco de fraude será o fator diferenciador entre líderes e restantes operadores. A transformação dos processos de tomada de decisão em matéria de risco deixou de ser uma opção estratégica para se tornar numa urgência operacional.

Com ferramentas cada vez mais sofisticadas e um cenário de ameaças em constante evolução, o futuro dos serviços financeiros dependerá da sua capacidade para tomar decisões mais rápidas, mais inteligentes e, acima de tudo, mais humanas.

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