Observador - 19 jun. 00:12
Sobre os ombros de gigantes
Sobre os ombros de gigantes
Todos temos as nossas próprias percepções, crenças e emoções. Não obstante, reconhecer que temos estes filtros não significa ficarmos reféns deles.
Qual é a proporção da população do seu país com 65 ou mais anos? Qual é a percentagem de imigrantes na população do seu país? Estas são algumas das inúmeras perguntas que constam do livro “Os Perigos da percepção” de Bobby Duffy. E quais são as respostas aos inquéritos?
No caso das perguntas acima a maioria dos cidadãos sobrestima os dados. Por exemplo os italianos acham que existe 48 % de idosos no seu país quando a realidade é 21 %. E os cidadãos neerlandeses julgam que existe 25 % de imigrantes quando na verdade são apenas 12%.
O sociólogo e director do Policy Institute do Kings College de Londres salienta que nem sempre a causa para termos percepções erradas são a disseminação de notícias falsas, basta que o foco do que lemos e vemos seja intensamente num sentido, sem contraditório. Muitos vivem numa bolha (presencial e virtual) que reforça uma visão única do mundo e dos outros.
Perante este cenário de pós-verdade existe esperança?
Julgo que o primeiro passo é reconhecermos que todos temos as nossas próprias percepções, crenças e emoções.
Não obstante, reconhecer que temos estes filtros não significa ficarmos reféns deles. Caso contrário ainda acreditaríamos, só para dar um exemplo, que o nosso planeta é o centro do universo. Os nossos sentidos informam-nos todos os dias que parece que o Sol gira à volta da Terra e não o contrário. Mas através da observação e da matemática Keppler e outros astrónomos provaram que a teoria de Copérnico era mais próxima do movimento real dos astros no nosso sistema solar.
Este é uma das características mais importantes da Ciência.
Depois de um momento de criatividade em que surge uma hipótese segue-se o processo moroso mas muito importante de apresentação de provas e escrutínio pelos pares. Como descreve Joana Sá no seu pequeno mas excelente livro “Uma ideia de Ciência” devemos a Karl Popper a ideia de falsificabilidade de hipóteses. Isto é “ para que uma hipótese seja cientifica devemos poder imaginar uma forma de estar se é ou não coerente coma a realidade. (…) como cientista o que devo fazer é tentar provar que a minha hipótese esta errada. Só se falhar neste processo é que posso dizer que talvez (e o talvez pode ser bastante grande) esteja certa”.
Portanto os investigadores fomentam a dúvida metódica e resistem às percepções fáceis.
As mentes mais brilhantes têm frequentemente dúvidas e perguntas por resolver.
Tal não significa colocar em causa todo o conhecimento prévio. Nós já sabemos que a Terra não é plana e já está provado que o nosso planeta orbita à volta do Sol.
A ciência avança movida pela curiosidade e pela forma estruturada de procurar respostas.
Mas não parte do vazio. Está alicerçada no conhecimento de várias mulheres e homens que nos deixaram um legado riquíssimo.
Como afirmou Newton : “Se eu vi mais longe, foi porque estava sobre os ombros de gigantes”.