observador.pt - 18 jun. 17:54
Prisão preventiva para quatro membros do Movimento Armilar Lusitano, entre eles o chefe da PSP. Outros dois com apresentações periódicas
Prisão preventiva para quatro membros do Movimento Armilar Lusitano, entre eles o chefe da PSP. Outros dois com apresentações periódicas
Seis neonazis detidos em operação da PJ já conhecem medidas de coação: quatro, entre os quais o chefe da PSP, ficam em preventiva e os restantes com apresentações periódicas.
Quatro dos seis membros do Movimento Armilar Lusitano detidos pela Polícia Judiciária ficaram em prisão preventiva esta quarta-feira por decisão do tribunal após primeiro interrogatório judicial. Os outros dois homens ficam obrigados a apresentações periódicas às autoridades.
Entre os quatro detidos com medidas mais gravosas está, segundo o Expresso, o chefe da PSP que estava ao serviço da Polícia Municipal de Lisboa — a quem já foi aplicado um procedimento disciplinar.
A operação divulgada na terça-feira foi levada a cabo, através de 15 mandados de busca e apreensão, depois de vários anos de monitorização do grupo, que está na mira das autoridades pelo menos desde 2019. Os detidos estão “fortemente indiciadas pela prática dos crimes de infrações relacionadas com grupo e atividades terroristas, discriminação e incitamento ao ódio e à violência e detenção de arma proibida”.
“Em resultado das buscas, foi possível proceder às detenções em flagrante delito e à apreensão de material explosivo de vários tipos, de várias armas de fogo, algumas das quais produzidas através de tecnologia 3D, várias impressoras 3D, várias dezenas de munições, várias armas brancas, material informático, entre outros elementos de prova”, descreveu a PJ. Esta apreensão “inédita” de armas 3D foi a “maior” em Portugal.
De acordo com a diretora da Unidade Nacional Contra-Terrorismo da PJ, os membros do grupo “estavam a armar-se, a recrutar pessoas e a desenvolver ações”, já com “capacidade de treino tática para fazerem uma ação (…) que provavelmente estaria no seu horizonte”, apesar de não existir ainda um “plano concreto de atuação”.
“Não deixou de ser surpreendente a qualidade e a diversidade daquilo que apreendemos (…) [e a] capacidade de fazer algo com alguma projeção, com os meios que dispunham. Estavam a armar-se, a recrutar pessoas e a desenvolver ações”, disse Manuela Santos.
O objetivo atual do grupo seria constituir-se como “um movimento político, apoiado numa milícia armada”, refere a PJ, que encontrou indícios da “prática de factos enquadráveis nos crimes de infrações terroristas, alteração violenta do Estado de direito e de detenção de armas proibidas. Essa ligação política, segundo a CMTV, poderia surgir por intermédio de Manuel Matias, pai de Rita Matias e ex-assessor do Chega, que será membro de um grupo de Facebook dos neonazis, no qual chegou a fazer publicações. Ao Observador, o político disse que não fazia “a mínima ideia” se estava nesse grupo, alegando que integra “milhares de grupos”.
Os mandados de apreensão visaram a casa de um Chefe da PSP, afeto à Polícia Municipal de Lisboa, que integrava este movimento, avançou o Correio da Manhã e confirmou o Observador junto de fonte policial. O mesmo agente, segundo o jornal, já tinha sido envolvido num assunto mediático quando em 2012 foi considerado suspeito da morte a tiro de um assaltante; o caso acabaria arquivado, tanto pela Inspeção Geral da Administração Interna (IGAI) como pelo Ministério Público (MP).
Após a apreensão de armamento variado — desde material explosivo a armas de fogo — o órgão responsável pela operação garante que foram abertas “novas linhas de investigação” a estes neonazis que, mesmo sendo provavelmente o grupo com maior expressão na área da extrema-direita, poderiam “contar com a ajuda de outros grupos satélites com as mesmas motivações”; contudo, não foram encontradas ligações a grupos relacionados com futebol, uma das preocupações das autoridades.
O Diretor Nacional da PSP, Luís Carrilho, reagiu à detenção de um chefe ligado à PSP e defendeu que a lei “é para ser cumprida”, mesmo quando envolve polícias. “Cumpra-se a lei — ‘dura lex, sed lex’ — a lei é dura, mas é para ser cumprida. Faça-se justiça. Temos o melhor relacionamento institucional com a Polícia Judiciária e com o Ministério Público. Há um processo em curso, como é natural todos são inocentes até prova em contrário e esperemos que seja feita justiça nesse caso”, afirmou à Lusa, a propósito do agente da PSP que foi detido nesta operação.