Opinião de Convidado - 19 jun. 08:45
"Diante de muitas heresias, a Igreja teve necessidade defender a presença de Cristo na Eucaristia"
"Diante de muitas heresias, a Igreja teve necessidade defender a presença de Cristo na Eucaristia"
Jesus Cristo é o Pão vivo, aquele pão necessário que desce do Céu e se oferece como verdadeiro Corpo dado e sangue derramado, como o alimento da nossa vida de peregrinos até à comunhão plena com Deus e com os outros, para que Deus seja tudo em todos.
A história desta festa está ligada às revelações da Beata Juliana de Liege, Bélgica (ela via, a partir de 1208, uma lua cheia incompleta, o que interpretou como ausência de uma festa especial para honrar a Eucaristia), e ao milagre eucarístico de Bolsena, Itália (Pedro de Praga, um sacerdote, dirigindo-se para Roma, celebrou a Eucaristia junto do lago de Bolsena, perto de Orvieto, e duvidando da presença real da Eucaristia, viu cair da Hóstia gotas de sangue). Mais tarde, o Papa Urbano IV promulgou esta festa em honra do ‘Santíssimo Sacramento do Altar’, com a Bula Transiturus de 11 de Agosto de 1264.
A referida Bula dava a seguinte motivação: «Apesar deste sacramento sagrado ser celebrado todos os dias no solene rito da Misa, no entanto, julgámos útil e digno que se celebre, ao menos uma vez por ano, uma festa mais solene, em especial, para confundir e refutar a hostilidade dos heréges». O centro desta festividade, por vontade do Papa, é, sobretudo, no âmbito do culto popular, onde ganhará relevo, a partir do final do século XIII, a procissão eucarística.
As razões da promulgação desta solenidade foram de vária ordem. Porém, poderemos mencionar algumas: a disciplina da penitência, ao tempo, era muito severa e muitos cristãos não comungavam facilmente, nascendo o desejo de contemplar a Hóstia; diante de muitas heresias, a Igreja teve necessidade de defender a realidade da presença de Cristo na Eucaristia; até chegar à criação de Congregações religiosas dedicadas ao culto e à adoração do Santíssimo Sacramento.
Uma festa eucarística fora do Tempo Pascal, onde nasce a Eucaristia, pode favorecer uma certa desarticulação da unidade própria do Ano Litúrgico. O que levaria a pensar numa duplicação da Quinta-feira Santa. Hoje, a solenidade do Corpus Domini, tal como aparece nos livros litúrgicos, adquiriu um profundo sentido eucarístico.
A Antífona do Magnificat das segundas Vésperas sintetiza de modo admirável o motivo desta celebração: «Ó sagrado banquete, em que se recebe Cristo e se comemora a sua paixão, em que a alma se enche de graça e nos é dado o penhor da futura glória. Aleluia». Este texto evidencia bem as três dimensões fundamentais da Eucaristia: memorial, sacrifício e banquete.
Hoje existe uma consciência unitária da Eucaristia (memória, sacrifício, banquete e presença permanente), vista como uma ação participativa da Igreja. Simultaneamente, sentimos a necessidade de recentrar a Eucaristia e o Domingo na experiência da fé pessoal, familiar e comunitária, para melhorar o cuidado das celebrações e da adoração eucarística e da caridade para com os necessitados, que parte da Eucaristia.
Podemos até dizer que a Igreja acredita, conforme a Igreja celebra a Eucaristia no seu caminho sinodal de Páscoa. A Eucaristia é para todos, dependendo de nós que seja cada vez mais de todos.
José Manuel Cordeiro, Arcebispo Metropolita de Braga e Presidente da Comissão Episcopal de Liturgia e Espiritualidade