www.publico.pt - 19 jun. 05:20
Cartas ao director
Cartas ao director
Não pôr todos os ovos na mesma cesta
Há dias, Vítor Gonçalves, jornalista da RTP, entrevistou Carlos Tavares, empresário português, ex-administrador em várias empresas do ramo automóvel, fora do país. Durante a referida entrevista, Carlos Tavares alvitrou que “não devemos ser apenas um parque de férias de outros povos” e que temos de "procurar outros recursos de valor que levem à riqueza, através de outros termos”. E mais afirmou “que a energia, as telecomunicações, o turismo não devem estar em mãos estrangeiras”.
Nós, sem grandes estudos e de mais erudição, já isso pensávamos, pois sempre percebemos o adágio popular de que “não devemos pôr todos os ovos na mesma cesta”, para não ficarmos dependentes de uma só situação financeira, que pode ser um desastre total, pois "os ovos podem partir-se todos".
José Amaral, Vila Nova de Gaia
Às Savitris Devis lusitanas
Da corja sinistra que se vem fortalecendo nos últimos tempos em Portugal, sobressai uma característica que me parece sobremaneira interessante: a ignorância sobre a própria matriz ideológica a que se reportam. Culturalmente, o nacional-socialismo baseava-se no encontro de várias tendências desenvolvidas ao longo do século XIX no contexto da recentíssima formação da Alemanha enquanto país independente. Uma das suas características é a visão de superioridade, não apenas da raça ariana, mas das suas sub-raças nórdica e germânica, não apenas em relação às outras raças inferiores, eslavos e judeus, mas aos povos mediterrânicos como raça incompleta.
Como lidam os nossos ultramontanos com a inspiração que tomam do delírio racial hitleriano? Como não conheço nenhum grande ideólogo neonazi alentejano ou minhoto, deixo a dúvida: ignoram estas passagens da sua obra, passam-nas à frente? Ou vêem-se orgulhosamente como uma raça medíocre que deve ser subordinada ao além-homem do centro da Europa?
Miguel Luís, Abrantes
Factos inquietantes
A extrema-direita tem vindo a ganhar destaque na Europa nos últimos anos. Um contexto em que o epicentro reside no descontentamento popular, sendo uma grande ameaça à democracia. E, aqui, Portugal não é excepção. Até porque, inicialmente, a narrativa dos nossos conceituados governantes, mediante a temática em causa, não hesitava em dizer que a sua expressão política era irrelevante e não constituía qualquer problema para o sistema democrático. Talvez por isso, estou em crer, também não deram a devida atenção ao aumento das assimetrias socioeconómicas, à falta de igualdade de oportunidades, à pobreza entre as demais situações na sociedade. Um comportamento que, na minha modesta opinião, requer de uma urgente mudança. E tudo isto, lamentavelmente, contribuiu para a ascensão das ditas forças partidárias. Por conseguinte, e para o bem de todos, é preciso uma avaliação profunda e jamais podemos menosprezar a proactividade que terá impacto positivo no rumo, no progresso e no desenvolvimento do país.
Manuel Vargas, Aljustrel
Fiscalizar os partidos?
Como bom fiscalizador que é, como é possível o Estado não ter meios para fiscalizar especialmente os partidos políticos e verificar a falta de controlo do destino dado às subvenções públicas? Ou será meramente uma estratégia, para que os partidos políticos se “mexam” a seu bel-prazer, quando todos nós sabemos que tão rigoroso é o Estado na questão de vigiar, aliás, fiscalizar os impostos dos "Zés" deste país?
Mário da Silva Jesus, Codivel
“Que o Irão não nos faça esquecer Gaza”
Já escrevi contra o horror do que se passa em Gaza, mas tudo quanto se diga é pouco face à continuada acção de genocídio do povo palestiniano por parte de Israel. Se as autoridades israelitas prosseguem friamente no seu plano de extermínio, é porque o mundo não tem sido suficientemente forte para obstar à devastação e morte que o seu Exército semeia naquele território, apesar das acusações e condenações de várias instâncias internacionais, judiciais e não judiciais. <_o3a_p>
Um dos reconhecidos objectivos do ataque que Israel agora desferiu contra o Irão é justamente o de atrair a atenção sobre esse facto, ocultando o que se passa em Gaza, onde até tem sido perfidamente alvejada a população faminta que acorre aos pontos de ajuda humanitária. Como Amílcar Correia escreveu ontem no PÚBLICO, “que o Irão não nos faça esquecer Gaza”. Que se acabe com esta quase-indiferença em que se tem amolecido a reacção europeia, incluindo Portugal. Se a Europa carrega a culpa do Holocausto, mais tarde poderá carregar a culpa de um outro genocídio cometido sob a sua complacência.
<_o3a_p>António Costa, Porto