observador.pt - 8 jul. 14:12
Heliportos hospitalares não estão preparados para helicópteros de grandes dimensões, diz ex-presidente do sindicato dos pilotos
Heliportos hospitalares não estão preparados para helicópteros de grandes dimensões, diz ex-presidente do sindicato dos pilotos
Além do helicóptero Merlin EH101, também o Black Hawk não pode aterrar em heliportos de hospitais, porque é demasiado grande, diz Tiago Faria Lopes. ANAC 'atira' responsabilidade para os pilotos.
O único helicóptero disponível para transporte de emergência durante a noite, um Merlin EH-101 da Força Aérea, não pode aterrar em nenhum heliporto dos hospitais do SNS, porque estas infraestruturas não estão preparadas para receber helicópteros destas dimensões (com cerca de 23 metros de comprimento), garantiu ao Observador o ex-presidente do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil, Tiago Faria Lopes. Também os helicópteros Black Hawk, que estão a ser utilizados no período diurno, são demasiado grandes para aterrarem nos hospitais.
“Os Merlin EH-101 não têm capacidade para aterrar nos heliportos civis, nomeadamente nos dos hospitais, porque são demasiado grandes. Ou seja, temos os meios [da Força Aérea] mas não servem para o efeito. É uma incongruência da ministra da Saúde e do ministro da Defesa”, critica Tiago Faria Lopes. Com quase 23 metros de comprimento e 19 metros de envergadura e mais de 15 toneladas, este helicóptero pode transportar até 20 pessoas em simultâneo e está essencialmente vocacionado para missões de busca e salvamento, nomeadamente na costa portuguesa.
Neste momento, há apenas um helicóptero de transporte de emergência de doentes a operar durante a noite em todo o país: trata-se de um Merlin EH-101 estacionado na Base da Força Aérea do Montijo.
No entanto, o Merlin não é a única aeronave a não poder aterrar nos heliportos hospitalares. Também o helicóptero Black Hawk, estacionado na Base Aérea de Ovar, não pode aterrar nos heliportos, também devido às suas dimensões. Apesar de ser menos volumoso do que o Merlin EH-101, ainda assim tem 16 metros de comprimento e 16 metros de envergadura. Além disso, o Black Hawk não tem ainda “uma sela sanitária” que permita transportar os equipamentos das equipas médicas, alerta Tiago Faria Lopes, o que o impede de operar em cooperação com o INEM.
Pilotos optam por aterrar em aeródromosImpossibilitados de aterrar nos heliportos, os pilotos têm de encontrar outras alternativas, em espaço amplo, como aeródromos, por exemplo. Foi isso que aconteceu no caso do homem de 49 anos que foi transportado na noite de sábado para domingo num Merlin EH-101 do aeródromo de Castelo Branco para o aeródromo do Cernache do Bonjardim, na periferia da cidade de Coimbra, por não poder aterrar nos heliportos dos hospitais da Covilhã e de Coimbra.
De entre os três modelos de helicópteros disponibilizados pela Força Aérea, o Koala EW119 (estacionado em Beja) é o mais pequeno, mas também apresenta limitações, segundo o ex-presidente do SPAC. Trata-se de um helicóptero monomotor, que não pode fazer aproximações a heliportos em zonas densamente povoadas.
“Não podem aproximar-se de heliportos em cidade, porque, só tendo um motor, não existe salvaguarda”, explica Tiago Faria Lopes, acrescentando que, por isso, não pode aterrar em unidades hospitalares diferenciadas, como os hospitais de São João, no Porto, ou de Santa Maria, em Lisboa. A legislação europeia civil exige helicópteros bimotores para emergência médica, realça.
ANAC refere que responsabilidade é dos pilotosQuestionada sobre o tema da capacidade de os heliportos hospitalares acolherem os helicópteros militares da Força Aérea, a Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC) — que tem como função certificar os heliportos — refere apenas que “compete ao operador da aeronave, definir e avaliar a utilização de cada infraestrutura em função das características próprias e performance de cada aeronave que opera, salientando-se que competirá ao piloto comandante a decisão final de utilização da infraestrutura em função do contexto operacional em cada momento (condições de segurança operacional, meteorológicas, etc.)”.
Ao Observador, a ANAC adianta que, neste momento, estão certificados os heliportos dos hospitais de São João, Hospital de Santa Cruz, Hospital Garcia de Orta, Hospital de Braga, Hospital do Lamego e Hospital Santa Maria.
O ex-presidente do SPAC critica ainda a empresa maltesa Gulf Med (que ganhou o concurso para o transporte aéreo de emergência) por não ter colocado em operação os meios contratualizados, conforme definido. “Temos um problema grave, a empresa ganhou o concurso mas não estava preparada para operar. Não conseguiu os meios para o serviço a que se tinha proposto. A empresa não está a cumprir”, sublinha Tiago Faria Lopes, sublinhando que o contrato em vigor entre a empresa e o INEM prevê uma “penalização de 300 mil por cada helicóptero/dia” de incumprimento.
Recorde-se que, neste momento, a Gulf Med só tem operacionais dois dos quatro helicópteros contratados: um em Loulé e outro em Macedo de Cavaleiros. Não se sabe quando começaram a operar as aeronaves nas bases de Viseu e Évora.