eco.sapo.pteco.sapo.pt - 8 jul. 12:57

CMVM volta a desafiar empresas a provar que têm lugar na bolsa

CMVM volta a desafiar empresas a provar que têm lugar na bolsa

Num mercado de capitais onde as empresas fogem mais do que entram, a CMVM avança com a segunda edição do Sandbox Market4Growth, com o intuito de atrair mais do que 16 empresas da primeira experiência

A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) prepara-se para lançar a segunda edição do programa Sandbox Market4Growth, numa altura em que os números da primeira experiência revelam tanto o potencial como os desafios de aproximar as empresas portuguesas ao mercado de capitais.

De 25 empresas inscritas inicialmente, apenas 16 conseguiram cumprir os requisitos de seleção e participar efetivamente no programa da primeira edição, como a Fapajal Papermaking, uma das mais antigas fábricas de papel do país fundada em 1755, e a reconhecida Lanidor, que realizou a primeira emissão obrigacionista de 2 milhões de euros no final do ano passado através da plataforma Raize, no seguimento da sua participação no programa da CMVM.

Segundo Luís Laginha, presidente do regulador, a primeira edição da Sandbox Market4Growth reuniu empresas de diferentes dimensões e setores, desde startups até negócios com mais de 50 milhões de euros de faturação.

Para a Fapajal, uma empresa centenária especializada na produção de papel tissue, a Sandbox permitiu “aprender mais sobre o mercado de capitais para, num futuro próximo, entrar no mercado”, refere Nuno Mourão, CFO da empresa.

Este programa foi lançado em novembro de 2023 para permitir às empresas simular o acesso ao mercado de capitais português sem custos e com o acompanhamento especializado da CMVM e de mais de 20 parceiros. “A principal função da Sandbox passa por ajudar a ultrapassar os receios, as preocupações que possam afastar as empresas do mercado, que possam estar relacionadas com o desconhecimento ou mitos relacionados com o mercado”, explica Luís Laginha, no seguimento da sua intervenção do lançamento da segunda edição do programa, esta terça-feira, na sede da CMVM, em Lisboa.

A iniciativa funciona em três fases distintas: diagnóstico personalizado do nível de preparação da empresa, simulação do processo de acesso ao financiamento através do mercado de capitais, e experiência de permanência em mercado, incluindo a prestação de informação à CMVM. “A Sandbox tem o benefício muito grande de trazer mais empresas para o mercado e para criar uma mentalidade de mercado que permita criar mais liquidez”, referiu João Duque, presidente e professor do ISEG, na sua intervenção como keynote speaker do evento.

Entre os casos de maior destaque da primeira edição da Sandbox está a Lanidor, uma empresa têxtil que enfrentou dificuldades durante a crise económica entre 2011 e 2013, quando perdeu cerca de 40% do volume de negócios. “Tem-se a ideia que o mercado é um ‘bico-de-sete cabeças’, que é só para os grandes”, refere José Nogueira, responsável da Lanidor, sublinhando que a participação no programa da CMVM permitiu à empresa “olhar para o mercado como fonte alternativa para financiar a nossa operação.”

O propósito da Sandbox não é tornar o mercado mais atrativo, porque não intervimos no valor acrescentado do mercado, mas facilitar o caminho que dá acesso a esse mercado.

Luís Laginha

Presidente da CMVM

A Fapajal Papermaking, por sua vez, representa outro perfil de participante. Nuno Mourão, CFO da empresa, explica que “qualquer empresa industrial precisa de estar a investir”, desde logo porque “a tecnologia vai evoluindo, sendo preciso estar continuamente a investir”, o que obriga a estar atento a alternativas de financiamento da operação.

Para a Fapajal, uma empresa centenária especializada na produção de papel tissue, a Sandbox permitiu “aprender mais sobre o mercado de capitais para, num futuro próximo, entrar no mercado”, estando convencido de que “a médio prazo a Fapajal entrará no mercado, primeiro através de uma emissão de obrigações”.

Mercado de capitais em transformação

O lançamento da segunda edição da Sandbox Market4Growth surge num contexto desafiante para o mercado de capitais nacional, com a bolsa a enfrentar dificuldades em atrair novas empresas cotadas, como fica espelhado pelo maior “êxodo” de empresas da bolsa em 2024 desde 2018, e com PSI, índice de referência da bolsa portuguesa outrora constituído por 20 títulos, a contar atualmente com apenas 15 cotadas.

Para combater esta fuga da bolsa nacional e com o propósito de atrair novas empresas ao mercado, também a Euronext tem promovido programas semelhantes ao da CMVM, com o intuito de mudar este ambiente de “costas voltadas” das empresas para a bolsa, mas com poucos resultados.

Porém, a experiência da Lanidor ilustra o papel crescente das plataformas de crowdfunding como alternativa ao financiamento tradicional. A empresa utilizou a Raize, uma plataforma portuguesa de financiamento colaborativo que foi a primeira a ser autorizada pela CMVM em 2018 e que, no ano passado, obteve licença para operar em toda a União Europeia. A Raize é detida em 33,10% pela Flexdeal, uma sociedade de investimento para o fomento da economia que tem como objetivo reforçar o financiamento às pequenas e médias empresas portuguesas.

Luís Laginha de Sousa reconhece que “o propósito da Sandbox não é tornar o mercado mais atrativo, porque não intervimos no valor acrescentado do mercado, mas facilitar o caminho que dá acesso a esse mercado”. João Duque acrescenta que a iniciativa tem “o mérito muito interessante de podermos aprender a errar sem as consequências de errar no teste final”.

A segunda edição da Sandbox Market4Growth representa assim uma oportunidade renovada para aproximar as empresas portuguesas do mercado de capitais, numa altura em que a necessidade de diversificação das fontes de financiamento se torna cada vez mais premente para o tecido empresarial nacional.

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