rtp.pt - 8 jul. 12:11
Operação Marquês. O julgamento ao minuto
Operação Marquês. O julgamento ao minuto
José Sócrates começou esta terça-feira a ser interrogado no processo Operação Marquês, respondendo às questões do coletivo de juízes e dos advogados. À entrada do tribunal, o ex-primeiro-ministro condenou o Estado por "mudar as acusações", acusou os tribunais de não o quererem deixar recorrer e lançou farpas à comunicação social. Durante a sessão, José Sócrates rejeitou a amizade com o ex-banqueiro Ricardo Salgado.
Chegou ao fim esta terça-feira o segundo dia de julgamento da Operação Marquês, marcado pela relação de José Sócrates com o ex-banqueiro Ricardo Salgado. Os trabalhos no Campus de Justiça retomam amanhã pelas 09h30, com o antigo primeiro-ministro a continuar a prestar esclarecimentos sobre a PT e o BES.
Questionado pelo tratamento a Ricardo Salgado, ouvido durante as escutas, Sócrates disse utilizar a expressão muitas vezes e isso não significa amizade. "Eu tratei-o (por meu caro amigo) pela consideração que era necessário tratar", disse José Sócrates. "Utilizo a expressão muitas vezes e isso não significa amizade. É preciso estar de muita má-fé para tirar essa conclusão”, acrescentou.PUB Ouviu-se na sala do tribunal uma escuta entre Ricardo Salgado e José Sócrates de 30 de julho de 2014. Nessa chamada telefónica, o ex-primeiro-ministro diz ao antigo banqueiro que sempre teve com ele um relacionamento cordial e que o choca que “agora a direita o queira apagar das fotografias”.
Salgado responde que “eles estão a fazer uma limpeza geral”.
Numa outra escuta, de 8 de novembro de 2013, Sócrates diz ao ex-líder do BES que “é um dos grandes banqueiros deste país”.
No total foram ouvidas cinco escutas. Numa delas, Salgado convida Sócrates para um almoço e este aceita.
José Sócrates frisou perante a juíza que numa das conversas ficou evidente a divergência com Ricardo Salgado em relação à questão da Vivo.
A juíza Susana Seca questionou se não há incongruência entre o que disse acerca da animosidade e os almoços e jantares que os dois homens combinaram.
“Só há incongruência para quem quer ver incongruência”, respondeu o arguido. “Acho que fica claro que nunca tive nem tenho relação pessoal”. PUB O julgamento recomeçou com José Sócrates a introduzir o tema Ricardo Salgado. “A questão Ricardo Salgado é uma das mais extraordinárias fabricações da Operação Marquês”, considerou.
“É absolutamente espantoso que uma mentira destas tenha feito caminho durante este ano”, insistiu o arguido, assegurando depois que nunca foi próximo de Ricardo Salgado e que, enquanto era ministro, só o viu uma vez. “Nunca mais o vi até ser primeiro-ministro”.
“Não era meu amigo, nunca fui ao seu gabinete, não tinha o seu telefone e não sabia onde morava. Foi sempre uma relação entre alguém que liderava um banco e um primeiro-ministro”, frisou Sócrates.
O antigo chefe de Governo afirmou ainda que as relações entre o GES e o Governo eram de ostensiva hostilidade. PUB
O antigo primeiro-ministro começou hoje a prestar declarações no julgamento, da Operação Marquês. Avisa que não vai desistir e pede recurso para os tribunais europeus.
Fala em truques de magia das juízas para o condenar. PUB A jornalista da RTP Mariana Flor está a acompanhar o julgamento no Campus de Justiça, em Lisboa, e conta que José Sócrates e o coletivo de juízes entrarem em choque durante a manhã. Os trabalhos em tribunal são interrompidos pelas 12h30 para almoço e devem ser retomados pelas 14h00. PUB Sócrates disse ter sido acusado de agir em conluio para chumbar a venda da Vivo e para levar no futuro a uma associação da PT com outra empresa. “Esta acusação é tão amalucada que só serve para tentar salvar a primeira”, considerou.“Quer dizer que eu e todo o Governo fingimos oposição à venda, mas queríamos a venda da Vivo”, prosseguiu.
“O Ministério Público diz que eu agi para que o Estado pudesse fazer aquilo que dr. Salgado não queria que fizesse. É uma espécie de corrupção por masoquismo, fui pago para fazer aquilo que o corruptor não queria que se fizesse”.
Sócrates falou ainda numa decisão corajosa ao não permitir que a PT abandonasse o Brasil apenas com o intuito de que acionistas recebessem mais dividendos.
“A nossa presença no Brasil era absolutamente estratégica para dar escala à PT. A PT existia no mapa por ter a Vivo”, afirmou.
O ex-primeiro-ministro apresentou então aquela que disse ser outra prova, um despacho do Governo que garante ter sido igualmente escondido pelo Ministério Público e que ordena ao representante do Estado para se opor à venda da Vivo. PUB Depois de a juíza alertar que Sócrates não está a ser sintético ao “ler extensamente depoimentos que não são relevantes”, o ex-primeiro-ministro insistiu que está a tentar defender-se e voltou a acusar o Ministério Público de mentir.
Segundo José Sócrates, é falso que Ricardo Salgado tenha acordado consigo a defesa dos seus interesses.
“O que o meu Governo fez foi desenvolver uma política séria de combate ao monopólio que a PT tinha e fizemos várias ações para desagregar esse monopólio”, frisou, acrescentando que antes “nunca tinha havido estas coimas à PT”.
Afirmou ainda que a acusação “serviu para contar uma mentira política” e que não foi o seu Governo que levou à desgraça da PT, mas sim o Governo seguinte, “que foi cúmplice”. PUB Sócrates apresentou “a prova definitiva” que disse ter sido “escondida” pelo Ministério Público: o despacho do secretário de Estado das Finanças confirmando a abstenção do Governo.
“Se é verdade que Governo tinha intenção secreta então isso devia notar-se. Como votaram os representantes do Estado? Votaram ambos pela abstenção”, acrescentou.
A juíza alertou que quem avalia a prova é o tribunal. PUB O ex-primeiro-ministro disse ser vítima de uma “dupla acusação”, referindo-se à OPA da Sonae, e questionou onde estão as provas de que alguém recebeu dinheiro para manipular a assembleia-geral da PT.
“Eu vou defender a minha inocência. E como me defendo? Apresentando provas. Vou apresentar provas de que a acusação é falsa”, vincou.
A primeira prova é que “a Caixa votou contra” e antes realizou uma reunião do Conselho de Administração, disse, apresentando a ata da mesma.
“Esta decisão de votar contra a OPA da Sonae não é uma decisão pessoal, mas do Conselho de Administração”, sendo que Carlos Santos Ferreira, Maldonado, José Ramalho, Celeste Cardona, Norberto e Armando Vara discutiram e decidiram votar contra, acrescentou.
“Será que todos eles foram condicionados? Foram instruídos? Para unanimemente votar contra a OPA da Sonae, foram instruídos por mim?”, questionou.
“Estou em condições de concluir que tenho em minha defesa a prova testemunhal deles”. PUB José Sócrates quis falar de Ricardo Salgado, afirmando que já não o espanta “a insensibilidade dos tribunais e a cobardia de um Estado que quer julgar alguém que não está em condições de se defender”, referindo-se ao estado de saúde do antigo banqueiro.
“O que me espanta é o silêncio, o silêncio desta sala, não quero fazer parte da coligação de silêncio. Há muito tempo que me habituei a saudar a beleza da solidão”, afirmou. PUB José Sócrates, que levou consigo várias pastas para o tribunal, já está a ser ouvido. A juíza alertou que o arguido na Operação Marquês não é obrigado a falar e que não discute a pertinência nem a oportunidade da pergunta.
O ex-primeiro-ministro respondeu que o processo penal democrático se rege pela ampla defesa e é por essa razão que pretende usar da palavra.
“Mas há uma questão de método, já que nos próximos tempos, dias não sei, vou abordar todo o processo Marquês e as acusações contra mim são extensas. Penso que ganhávamos em dividir o processo por temas”, sugeriu.
A juíza recusou a proposta e vincou que é o tribunal que dirige a sessão. “Não vamos entrar em diálogo”, salientou a juíza, aceitando ainda assim dar a palavra a José Sócrates antes de lhe colocar questões biográficas e de enquadramento. PUB
José Sócrates começou esta terça-feira a ser interrogado no processo Operação Marquês, respondendo às questões do coletivo de juízes e dos advogados. À entrada do tribunal, o ex-primeiro-ministro condenou o Estado por "mudar as acusações", acusou os tribunais de não o quererem deixar recorrer e lançou farpas à comunicação social.
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