observador.pt - 8 jul. 14:42
Estudo indica que gelo espacial não é como se pensava
Estudo indica que gelo espacial não é como se pensava
Novo estudo contradiz a suposição que o gelo no espaço é como o gelo na Terra. Esta descoberta tem também implicações na teoria sobre como a vida começou na Terra.
O gelo formado no espaço não é o que se supunha anteriormente, pois a sua estrutura contém pequenos cristais em vez de ser um material completamente desordenado, de acordo com uma investigação.
Embora o gelo na Terra tenha uma estrutura altamente ordenada, os cientistas presumiam que o gelo no espaço não a possuía, uma vez que temperaturas mais frias significam que não tem energia suficiente para formar cristais durante o processo de congelação.
No entanto, cientistas da University College London (UCL) e da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, publicaram um estudo na Physical Review B que contradiz esta suposição.
A equipa estudou a forma mais comum de gelo no universo, o chamado gelo amorfo de baixa intensidade, que existe nos cometas, luas geladas e nuvens de poeira onde se formam estrelas e planetas.
O estudo dá uma “boa ideia” de como é a forma mais comum de gelo no universo a “nível atómico”, observou Michael Davies, da UCL e um dos autores do artigo citado na segunda-feira pela agência Efe.
Este conhecimento é importante porque o gelo está envolvido em muitos processos cosmológicos, incluindo a formação dos planetas, a evolução das galáxias e a movimentação da matéria pelo universo.
Esta descoberta tem também implicações para uma teoria sobre como a vida começou na Terra. A panspermia sugere que os blocos de construção da vida foram transportados num cometa gelado, graças ao gelo amorfo de baixa intensidade.
Davies explicou que, por ter uma estrutura específica, este tipo de gelo “seria um material de transporte menos adequado” para as moléculas da origem da vida, uma vez que esta estrutura parcialmente cristalina tem menos espaço para estes ingredientes se incorporarem.
No entanto, observou, a teoria “pode ainda ser válida, pois existem regiões amorfas no gelo onde os blocos de construção da vida poderiam ser capturados e armazenados”.
A equipa realizou simulações dos modelos computacionais e descobriu que os que melhor se ajustavam às medições das experiências anteriores eram os do gelo que não era totalmente amorfo, mas sim que possuía muitos cristais minúsculos incrustados nas suas estruturas desordenadas.
Entre outros testes, a equipa “congelou” modelos computacionais de água, arrefecendo-os até -120 graus Celsius a diferentes taxas.
Descobriram que o gelo, que era 20% cristalino e 80% amorfo, parecia corresponder à estrutura do gelo amorfo de baixa densidade.
A equipa de investigação observou que as suas descobertas levantam muitas outras questões sobre a natureza do gelo amorfo, como, por exemplo, se o tamanho dos cristais varia consoante o modo como se forma e se o gelo verdadeiramente amorfo é possível.
Este tipo de gelo foi descoberto na sua forma de baixa densidade na década de 1930, quando os cientistas condensaram vapor de água numa superfície metálica arrefecida a -110 graus Celsius.
O seu estado de alta densidade foi descoberto na década de 1980, quando o gelo comum foi comprimido a quase -200 graus Celsius e o gelo de média densidade em 2023.