observador.ptobservador.pt - 8 jul. 14:15

Filipe Guerra, premiado tradutor das grandes obras russas, morre aos 77 anos

Filipe Guerra, premiado tradutor das grandes obras russas, morre aos 77 anos

Afirmando-se no meio literário pelas traduções diretas do russo de autores como Dostoievski, Tolstoi ou Tchekhov, em parceria com a mulher, Nina Guerra, o tradutor morreu aos 77 anos, este domingo.

Filipe Guerra morreu este domingo aos 77 anos. A notícia foi avançada pelo jornal Público, tendo a agência Lusa confirmando junto da Editorial Presença, grupo com o qual o tradutor trabalhava.

Além de ter traduzido para a Presença os grandes clássicos russos, Filipe Guerra e Nina Guerra assinaram também traduções para outras editoras como a Relógio d’Água ou a Assírio e Alvim e para o grupo Penguin

Numa publicação sobre a sua morte, o editor da Relógio d’Água, Francisco Vale, recordou o percurso da dupla de tradutores, numa colaboração de cerca de 30 anos, na tradução de autores como Tchékhov, Tolstói, Akhmátova, Béli, Zamiátin, Chmeliov, Búnin ou Maria Stepánova.

“A sua disponibilidade chegou ao ponto de contactar a editora para elogiar ou referir erros em traduções de russo que outros fizeram e nós publicámos. Com o tempo, aprendemos a apreciar o seu rigor, competência e generosidade”, escreveu Francisco Vale.

Para o editor, Filipe Guerra “é certamente um exemplo para as novas gerações de tradutores e tem um lugar reservado entre os principais colaboradores” da editora.

Também a Assírio e Alvim lhe dedicou palavras de homenagem, manifestando o seu pesar pela notícia e lembrando o “inesgotável tradutor” e “leitor exigente” que era Filipe Guerra.

Questionando o que seria de uma editora sem as suas pessoas e sem os seus leitores, a Assírio e Alvim agradece “em dívida” a Filipe Guerra, “pelo seu trabalho e amizade”.

Segundo o Público, que cita o filho do tradutor, Filipe Guerra terá morrido no dia 6 de julho, de doença prolongada, no Hospital Garcia de Orta, em Almada.

Nascido em 1948, formou-se em Filologia Românica na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, que acumulou com o curso de Linguística da Université Paris VIII (Vincennes).

Exerceu toda a sua atividade profissional ligada à cultura e ao livro, tendo trabalhado e feito parte da direção da Cooperativa Livreira Esteiros, a partir de 1975.

Filipe Guerra também escreveu e realizou programas radiofónicos semanais sobre livros na rádio, nomeadamente para a RDP1 e Antena 2, entre 1979 e 1982.

Paralelamente, colaborou com jornais e revistas literárias, nos quais publicou artigos da sua autoria.

Nos anos 1986 a 1989 Filipe Guerra desenvolveu trabalho de tradução literária na Editorial Progresso, em Moscovo, cidade onde conheceu Nina Guerra, que posteriormente se fixou em Lisboa.

Entre 1989 e 1991 fez trabalho de revisão literária e de tradução na Editorial Caminho, e a partir de 1994, passou a trabalhar em exclusivo na tradução do russo, em colaboração com Nina, contando com mais de 70 títulos traduzidos em conjunto.

Individualmente, Filipe Guerra fez traduções do francês, do espanhol e do italiano, num total de mais de 40 títulos traduzidos.

A dupla de tradutores recebeu em 2002 um prémio da Sociedade Portuguesa de Autores e do Pen-Clube Português pelas traduções das obras de Dostoiévski e Tchekhov, e em 2012 receberam o prémio especial do júri da revista LER/Booktailors pelas suas traduções literárias.

Entre as principais obras traduzidas por Filipe Guerra em coautoria com Nina Guerra contam-se Os Irmãos Karamázov, Crime e Castigo“, O Idiota, O Jogador, Noites Brancas ou O Duplo, de Dostoievski, Guerra e Paz, Anna Karenina ou Ressurreição, de Tolstoi, A Gaivota, O Tio Vânia, Três Irmãs ou O Jardim das Cerejeiras, de Tchekhov, a poesia completa de Óssip Mandelstam, ou Coração de Cão, de Mikhail Bulgákov.

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