observador.pt - 8 jul. 14:28
Justiça europeia abre nova investigação à União Nacional e à extrema-direita europeia por desvio de fundos
Justiça europeia abre nova investigação à União Nacional e à extrema-direita europeia por desvio de fundos
Está a ser investigado o alegado gasto indevido de 4,3 milhões de euros em fundos europeus entre 2019 e 2024 por partidos do grupo Identidade e Democracia, ao qual o Chega se juntou antes da extinção.
A Procuradoria Europeia abriu uma investigação ao partido francês União Nacional, liderado por Marine Le Pen e Jordan Bardella, e aos seus aliados de extrema-direita em Bruxelas, suspeitos de várias irregularidades financeiras, foi hoje anunciado.
“A Procuradoria Europeia abriu uma investigação”, anunciou o porta-voz do organismo que funciona como Ministério Público da União Europeia, sem adiantar mais pormenores “para não comprometer os resultados da investigação”.
Juntamente com os seus parceiros do Identidade e Democracia (ID) — antigo grupo político de direita a extrema-direita do Parlamento Europeu, substituído pelo grupo Patriotas pela Europa precisamente há um ano —, o partido francês é suspeito de ter “gastado indevidamente” mais de 4,3 milhões de euros entre 2019 e 2024.
A suspeita foi levantada num relatório do departamento de assuntos financeiros do Parlamento Europeu, divulgado por vários órgãos de comunicação social no início de julho.
De acordo com o documento, revelado pelo jornal francês Le Monde, pelo programa televisivo alemão ‘Kontraste’, pela revista alemã Die Zeit e pelo semanário austríaco Falter, a maior parte deste montante beneficiou duas empresas ligadas a pessoas próximas Le Pen: o seu antigo assessor Frédéric Chatillon e a sua mulher Sighild Blanc, que obtiveram contratos lucrativos sem passarem por concurso.
O relatório avança ainda que a agência de comunicação e-Politic, alegadamente responsável pela campanha eleitoral da candidatura de Marine le Pen às presidenciais de 2017, recebeu 1,7 milhões de euros após um anúncio de concurso “meramente formal”, marcado por “graves problemas de conformidade”, segundo o departamento que investigou o caso.
Os autores do relatório acreditam que “todas estas despesas (…) são irregulares”, assim como as da empresa Unanime, que embolsou mais de 1,4 milhões de euros em trabalhos de impressão, que foram, alegadamente, subcontratados a um custo mais baixo, permitindo um lucro estimado em 260.000 euros.
Marine Le Pen já tinha sido condenada em França num caso separado conhecido como o ‘caso dos assessores parlamentares europeus’.
No final de março, Le Pen foi considerada culpada de desvio de fundos europeus que serviram, de acordo com o tribunal, para financiar os assessores do seu partido entre 2004 e 2016.
A condenação — a quatro anos de prisão, dois efetivos e dois com pulseira eletrónica, a pagar uma multa de 100 mil euros e a ficar impossibilitada de candidatar a eleições durante cinco anos — poderá ter acabado com as suas expectativas de avançar para as presidenciais francesas de 2027.
Falta, no entanto, conhecer a decisão do tribunal de recurso, marcada para o verão de 2026, sendo que, na semana passada, a líder de extrema-direita alegou desconhecer o novo caso contra a sua família política.
Entre os membros do Identidade e Democracia durante este período constaram o Lega Nord, partido italiano de Matteo Salvini, o Partido pela Liberdade, força política neerlandesa liderada por Geert Wilders, e o Alternativa para a Alemanha. O partido Chega, de André Ventura, também aderiu ao I&D, em 2020, mas nunca chegou a representação no grupo no Parlamento Europeu por não ter elegido deputados durante este período.