Observador - 7 ago. 00:13
Mercado Único Europeu, precisa-se …
Mercado Único Europeu, precisa-se …
Segundo um estudo do FMI, estima-se que as barreiras no Mercado Único sejam equivalentes a tarifas de 45% nos bens e 110% nos serviços, o que limita muito os fluxos comerciais entre os países da UE.
Segundo a estimativa rápida recentemente divulgada pelo INE, a economia portuguesa acelerou, em termos homólogos, de 1,7% no primeiro trimestre para 1,9% no segundo trimestre de 2025.
Numa análise inicial, a aceleração aparenta ser positiva. Porém, omite que o investimento e as exportações abrandaram. A aceleração da economia portuguesa foi impulsionada sobretudo pelas importações de bens e serviços, a abrandarem mais do que as exportações, traduzindo-se assim numa redução do contributo negativo da procura externa líquida.
Também o Eurostat, no mesmo dia, divulgou as estimativas rápidas para os países da União Europeia. Entre os 15 países com dados disponíveis, Portugal foi o quinto país que registou maior crescimento económico em termos homólogos e o segundo em cadeia, apenas ultrapassado pelos nossos vizinhos espanhóis, que se mantêm, nos últimos anos, como uma das economias desenvolvidas mais dinâmicas, o que naturalmente beneficia Portugal.
Pela negativa, evidencia-se o modesto crescimento das três principais economias da União Europeia, que em conjunto representam mais de 52% do PIB comunit��rio. Em termos homólogos, a Alemanha e a Itália cresceram apenas 0,4% e a França 0,7%. Em cadeia os resultados ainda são piores, com a economia alemã e italiana a retraírem 0,1%.
A dinâmica económica da União Europeia é mais importante do que nunca para Portugal dada a incerteza dos fluxos comerciais com os EUA.
Mesmo com a política comercial mais restritiva adotada pelos EUA, os seus principais parceiros comerciais continuarão a exportar para este mercado. No entanto, as dificuldades serão maiores e as empresas devem procurar outras alternativas para escoarem os seus produtos.
A diversificação dos mercados de destino das exportações é, sem dúvida, uma das opções a equacionar. A AEP tem vindo a defender essa estratégia há vários anos e tem contribuído ativamente para a sua concretização. Através do BOW – Business On the Way, projeto que apoia as empresas portuguesas na diversificação de mercados, em 2024 a AEP promoveu a participação de 180 empresas em 27 ações, entre feiras internacionais e missões empresariais, em 20 mercados distintos.
Porém, também é justo reconhecer que o mercado dos EUA é um mercado especial. Além da sua grande dimensão, o perfil dos consumidores é singular, designadamente pelo elevado poder de compra, o que dificulta a reorientação deste tipo de exportações de bens para outros mercados.
O mercado da União Europeia é uma das soluções para acomodar este perfil de exportações com maior valor acrescentado, a par dos mercados do Reino Unido, Canadá, Japão, Coreia do Sul, entre outros.
Contudo, além das principais economias europeias continuarem estagnadas e algumas com graves problemas financeiros que se poderão fazer sentir nos próximos tempos – como o exemplo da França, com significativos défices orçamentais e externos -, ainda existem muitas barreiras internas ao Mercado Único, que inibem os fluxos de comércio entre os países comunitários.
Em fevereiro de 2025, o ex-presidente do Banco Central Europeu Mario Draghi escreveu um artigo no Financial Times, citando um estudo do FMI, em que estima que as barreiras no Mercado Único sejam equivalentes a tarifas de 45% nos bens e 110% nos serviços, o que limita muito os fluxos comerciais entre os países da União Europeia. O relatório Draghi aponta o Mercado Único como uma das prioridades estratégicas a ser adotada pela União Europeia. Porém, até agora, pouco ou nada se tem feito.
Num contexto em que os desafios externos se adensam, não será a altura de olhar mais para dentro e, com bom senso e ambição, completar finalmente o Mercado Único?