observador.ptObservador - 8 ago. 00:08

Invisibilidade Planeada – A Enfermagem e o Poder Público

Invisibilidade Planeada – A Enfermagem e o Poder Público

Num país onde os enfermeiros são a espinha dorsal dos cuidados de saúde, o silêncio sobre o seu papel nos documentos oficiais é ensurdecedor.

Há poucos dias, o estudo “Continuidade e Mudança nas Políticas Públicas em  Portugal��, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, mostrou uma das faces  da “amigocracia” reinante na política portuguesa, habitualmente utilizada pelos governantes para controlarem a direção das políticas públicas: as  reorganizações administrativas, as alocações orçamentais e as nomeações  para cargos dirigentes, garantindo o meio e o conteúdo, mas apenas raras  vezes a competência e o mérito.

É o tradicional “banco de favores”, como descreve Paulo Coelho na sua obra “O  Zahir”, onde se trata esta metáfora, poderosa nas redes do poder, na garantia  de apoio e da sua reciprocidade, onde em vez de dinheiro os “depósitos” são gestos, ajudas, conexões, dos quais se espera que esses favores sejam retribuídos,  não necessariamente pela mesma pessoa, mas pelo universo social que se construiu.

Prova  dessa cultura “geneticamente modificada” é o relatório anual do Programa  Nacional de Vacinação, onde nas suas 65 páginas meticulosa e sabiamente  redigidas, não é mencionada, uma única vez, a palavra “enfermeiros” ou  “enfermagem”. Não se trata de omissão ou desatenção, é um reflexo de uma  cultura institucional que continua a marginalizar quem está na linha da frente.

Este apagamento ganha outra leitura quando analisamos o estudo referido no  início deste artigo, que revela a cultura de “amigocracia”. É aqui que a  invisibilidade se transforma em consequência política: escolhas que silenciam,  decisões que excluem, mérito e competências que se descartam.

A ligação, que justamente temos de fazer, entre este estudo e este relatório  alerta para a invisibilidade como efeito político. Quando um grupo fundamental  como os enfermeiros não é referido em relatórios estratégicos, isso não é  apenas uma falta de reconhecimento, é, potencialmente, uma consequência  calculada dos meandros do poder.

A ausência do conhecimento da enfermagem nos discursos estruturantes da  saúde não é acidental, é consciente, é intencional e atravessa todo o sistema e  em toda a sua estrutura, e como tal, exige uma resposta urgente. Reconhecer  este padrão é o primeiro passo para quebrá-lo. Porque um sistema que não  nomeia, também não protege. E sem proteção, não há progresso.

Urge tornar visível o papel essencial da enfermagem na saúde pública  portuguesa, há que pressionar pelo reconhecimento do importante papel da enfermagem nos documentos estratégicos, nas políticas de saúde e nas  decisões governamentais.

Como diz o povo “quem não aprece esquece” e o persistente esquecimento e  invisibilidade da enfermagem nos discursos e documentos estruturantes da  saúde em Portugal tem de acabar porque a enfermagem é demasiado  importante para a saúde e não pode ficar esquecida.

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