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O país que aplaude bombeiros... mas investe noutras prioridades

O país que aplaude bombeiros... mas investe noutras prioridades

Portugal merece mais do que cinzas. Merece ação. E merece líderes que saibam escolher as prioridades certas.

Todos os anos, sem falhar, Portugal volta a arder. Florestas destruídas, vidas em risco, casas perdidas, bombeiros exaustos e comunidades inteiras a viver com medo. É a mesma tragédia, repetida, como se fosse inevitável. Mas não é. O que é inevitável é o fracasso de quem continua a adiar soluções.

Portugal é um dos países da Europa com maior área florestal — mais de um terço do nosso território. Isto não é apenas um dado estatístico. É uma riqueza natural, económica e social que precisa de ser protegida. Mas continuamos a falhar na prevenção. E o tempo das promessas que não saem do papel já acabou.

É urgente mudar de atitude. Precisamos de um plano nacional de prevenção sério, sólido e coordenado. Um plano que envolva todos: cidadãos, autarquias, empresas, Governo e, claro, o Presidente da República. Todos temos um papel. Desde o presidente da junta, que conhece o terreno e as pessoas pelo nome, até ao Governo central, que tem meios e responsabilidades de coordenação. Não pode haver desculpas, nem jogos de empurra, para um tema que continua a ser tratado com indiferença e amadorismo.

A pergunta é simples: se sabemos que vai arder, porque é que nunca estamos preparados? Dinheiro não falta. O que falta são prioridades.

Foi recentemente anunciada a construção da nova sede do Banco de Portugal, um projeto avaliado em 192 milhões de euros. Trata-se de um investimento feito com fundos próprios do banco — não diretamente com verbas do Orçamento do Estado. Mas é dinheiro público. O Banco de Portugal entrega todos os anos centenas de milhões de euros ao Estado, através da distribuição dos seus lucros. E quanto mais gasta internamente, menos sobra para essa transferência.

Por isso, a questão é legítima: num país onde faltam meios para prevenir incêndios, será que faz sentido que as prioridades passem por erguer sedes monumentais? Cada euro conta. Cada decisão de investimento público, direta ou indireta, deve ser ponderada com responsabilidade.

Portugal precisa de líderes que saibam escolher as prioridades certas e não tenham medo de agir. Proteger vidas e florestas tem de estar acima de projetos de betão.

Aplaudir os bombeiros depois das tragédias já não chega. É preciso investir a sério em formação contínua e especializada, equipamentos de ponta e valorização do trabalho dos bombeiros. Estes investimentos não são despesas. São garantias de segurança, de resiliência e de respeito.

Defendo a criação de um Serviço Nacional Obrigatório — nada a ver com o antigo serviço militar — onde os jovens, depois de formados, possam dar um contributo real ao país em áreas como a proteção civil, apoio social, requalificação ambiental e, claro, prevenção de incêndios. Este é um investimento na cidadania e no futuro

Enquanto candidato à Presidência da República, assumo um compromisso claro: não serei um observador passivo. Um Presidente tem a obrigação de agir, de pressionar, de liderar pelo exemplo. Promoverei o diálogo entre partidos, para uma reforma séria do sistema de proteção civil e apoio aos bombeiros; exercerei pressão institucional para que o Governo aumente o investimento em formação e equipamentos; darei voz a quem está no terreno, ouvindo autarcas, associações de bombeiros e especialistas, para que as decisões políticas reflitam a realidade do país. Portugal não pode ser o país que só reage depois da tragédia.

A prevenção não é responsabilidade exclusiva do Estado. Todos temos um papel. Desde o presidente da junta que conhece o terreno como ninguém, até ao cidadão comum. Precisamos de fomentar um espírito de participação ativa e corresponsável.

Também por isso, defendo a criação de um Serviço Nacional Obrigatório — nada a ver com o antigo serviço militar — onde os jovens, depois de formados, possam dar um contributo real ao país em áreas como a proteção civil, apoio social, requalificação ambiental e, claro, prevenção de incêndios. Este é um investimento na cidadania e no futuro. Não se trata apenas de formar bons profissionais, mas bons cidadãos. Tudo conta. As alterações climáticas vão tornar estes fenómenos mais frequentes e mais violentos. Fingir que podemos continuar a adiar soluções é um luxo que já não temos.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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