expresso.ptPedro Henriques - 7 ago. 07:00

Startups e inovação: onde traçar a linha vermelha?

Startups e inovação: onde traçar a linha vermelha?

É inegável que a inovação e o empreendedorismo implicam, por vezes, desafiar o estabelecido e puxar pelos limites. Mas há linhas que não devem ser cruzadas

Dois grandes players globais em Recursos Humanos, a Deel e a Rippling, estão no centro de um escândalo que tem agitado o setor tecnológico. Segundo processos judiciais, a Deel terá orquestrado um esquema de espionagem industrial contra a sua rival, recorrendo ao recrutamento de um “espião” interno para aceder sistematicamente a informações confidenciais.

. É possível ser disruptivo sem transgredir a lei ou abdicar da ética. Nos negócios, tal como no desporto, a competição saudável pode ser um dos grandes motores para o crescimento (veja-se o exemplo da rivalidade Messi vs. Ronaldo). Mas, quando há jogo sujo e precisamos de partir os joelhos aos adversários (como aconteceu, literalmente, no escândalo que envolveu Tonya Harding), a competição deixa de ser baseada no mérito. Surge então a velha questão: até que ponto os fins justificam os meios?

Fraudes e escândalos como os da Theranos e da Deel são graves e acabam por minar a confiança no sector a longo prazo. Contudo, existem casos de empresas bem-sucedidas, como a Uber, que chegaram a recorrer a táticas agressivas e controversas (tal como relatado em “Super Pumped”, de Mike Isaac) e, ainda assim, criam algo com valor no mercado. O balanço torna-se, por isso, difícil de apurar.

Até que ponto o impacto positivo compensa as cicatrizes éticas? Na minha perspetiva, as startups devem focar-se na criação de valor a longo prazo, privilegiando a credibilidade e a inovação genuína, em vez de soluções de curto prazo para responder a pressões do mercado. Inovação disruptiva e competitiva, sim, mas dentro dos parâmetros éticos e legais.

Apesar de o futuro até poder vir a ser das máquinas, no presente as empresas ainda são feitas de pessoas. Vale a pena perdermos os nossos valores, o nosso carácter… a nossa humanidade? Os trabalhadores quererão trabalhar para patrões sem escrúpulos? Num mundo em que os deepfakes esbatem a fronteira da verdade, e a reputação e a confiança são ativos tão valiosos quanto a própria inovação, é importante refletir sobre o que realmente queremos premiar.

Cabe-nos a nós, enquanto trabalhadores e consumidores, valorizar empresas que respeitam a ética e afastar-nos das que sistematicamente a ignoram. Apoiar quem ultrapassa linhas que deviam ser intransponíveis é, no fundo, ser cúmplice.

Se ambicionamos um futuro mais saudável, próspero e confiável para o ecossistema de startups, então a ética, a transparência e a responsabilidade têm de ser a regra, e não a exceção.

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