observador.ptObservador - 8 ago. 00:03

Estamos preparados para tanta energia?

Estamos preparados para tanta energia?

Para Portugal continuar a ocupar uma posição de relevo a nível energético na UE tem de haver uma aposta no Porto de Sines, mas também nas vias de trânsito energético para o resto da União.

O vosso cronista, para além dos interesses recorrentes neste espaço (o projeto da construção de uma União Europeia e o futuro da relação transatlântica) tem também trabalho publicado sobre a relevância do Porto de Sines em questões energéticas, a importância de Portugal e da Península Ibérica na distribuição de energia na Europa, e o conceito de “solidariedade energética” na União Europeia (EU), e do futuro da produção de hidrogénio verde.

Estas três esferas de interesse cruzaram-se aquando da concretização (cuja efetivação está por ver) do acordo comercial entre a UE e os Estados Unidos (USA) da Administração Trump. É escusado estar a esmiuçar o eterno “quem é que ganhou e quem é que perdeu”, mas sim, desta vez, fazer uma pergunta direta ao governo português: estamos preparados para ser de ajuda no compromisso da EU de comprar as quantidades verdadeiramente gigantes de energia aos USA?

No recém-publicado press release “EU-US trade deal explained – energy aspects” da Comissão Europeia, pode-se ler, logo na primeira parte, que “Atualmente, 13 Estados-Membros** possuem a infraestrutura necessária para importar GNL. A UE tem ampla capacidade disponível para acomodar importações adicionais de GNL, incluindo dos EUA, para substituir as importações de gás russo”. Portugal encontra-se nesse grupo de países. O acordo agora firmado inclui a intenção de comprar, até 2028, gás natural liquefeito (GNL),

Além de dar a Trump uma vitória para este anunciar a nível doméstico, para a UE é o continuar do processo de independência energética da Rússia, propósito plasmado no Plano REPower EU, e no REPowerEU Roadmap. A (potencial) aquisição desta energia também ajudará a contribuir para o mix energético, à medida que UE avança para a descarbonização da sociedade e da indústria. Porém, para usar a energia temos de a receber, e distribuir. É aqui que o Porto de Sines entra nos cálculos da Comissão Europeia.

Comparado com a Bélgica, Alemanha, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Croácia, Itália, Lituânia, Malta, Países Baixos e Polónia, Portugal tem um dos mais importantes pontos de entrada de energia para a Europa em Sines, ao encontrar-se no centro de rotas inter e intraoceânicas, com ligações entre a Europa, a Ásia, a África e as Américas. Para além dos USA, Sines também serve de porto de entrada para GNL vindo da Nigéria, Trindade e Tobago, Catar e Austrália.

Porém, e focando-nos só nos USA, para atingir o valor de 700 mil milhões, sendo que, de recordar, além de GNL, temos petróleo e combustível nuclear, serão necessários volumes significativamente mais elevados do que os atuais. Naturalmente, isso causa apreensão na exequibilidade de tal compromisso, por ser quiçá “fisicamente impossível”, como sugerido pelo Head of Climate and Energy do European Environmental Bureau, ou que, com as flutuações de preço de GNL, principalmente com os preços cada vez mais baratos, isso significa ter de aumentar significativamente a entrada de energia, só para manter os valores atuais, muito menos os 700 mil milhões (750 mil milhões de dólares) prometidos (segundo o American Journal of Transportation).

Para Portugal continuar a ocupar uma posição de relevo a nível energético na UE, seja através do aumento da participação de energia renovável, ou de aposta na criação de um hub de hidrogénio verde em Sines, ou da entrada de material energético dos USA, tem de haver uma aposta no Porto de Sines, mas também nas vias de trânsito energético para o resto da União.

Existem planos, projetos, programas, mas, e como em muitas outras situações no nosso país (vejamos o caso do Plano de Recuperação e Resiliência) Portugal não pode continuar a não aproveitar oportunidades ou estar ao seu melhor quando mais é preciso. É imperativo que o governo português demonstre, com ações concretas e urgentes, que estamos, de facto, preparados para assumir a nossa quota-parte neste compromisso e capitalizar desta oportunidade estratégica.

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