observador.pt - 8 ago. 23:56
Guterres diz que decisão israelita de tomar Gaza representa uma "perigosa escalada" e apela a um cessar-fogo imediato
Guterres diz que decisão israelita de tomar Gaza representa uma "perigosa escalada" e apela a um cessar-fogo imediato
Líder da ONU diz que decisão de Netanyahu irá pôr "ainda mais em perigo" os civis e reitera o apoio à solução de dois Estados, uma vez que "Gaza deve continuar a ser parte de um Estado palestiniano".
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, advertiu esta sexta-feira de que a decisão israelita de ocupar a Faixa de Gaza começando pela capital “representa uma perigosa escalada” do conflito que porá “ainda mais em perigo” os civis, reféns incluídos.
“[António Guterres] está profundamente alarmado com a decisão do Governo israelita de ‘tomar o controlo da cidade de Gaza’ (…). Poderá agravar as já catastróficas consequências para milhões de palestinianos”, declarou a sua porta-voz adjunta, Stephanie Tremblay, num comunicado.
.@antonioguterres is gravely alarmed by the decision of Israel to "take control of Gaza City".
He reiterates his appeal for a permanent ceasefire, unimpeded humanitarian access & for the immediate and unconditional release of hostages.
Full statement: https://t.co/wpJsrgrbNm
— UN Spokesperson (@UN_Spokesperson) August 8, 2025
O líder das Nações Unidas, que recordou que os palestinianos da Faixa de Gaza “continuam a sofrer uma catástrofe humanitária de proporções aterradoras”, afirmou que esta é uma “nova escalada [que] resultará em mais deslocações forçadas, mortes e destruição maciça, agravando o sofrimento inimaginável da população palestiniana em Gaza”.
Reiterou, por isso, o seu apelo para um cessar-fogo imediato e para a entrada de ajuda humanitária no enclave palestiniano, instando simultaneamente as autoridades israelitas a cumprirem as suas obrigações ao abrigo do Direito Humanitário Internacional.
Guterres recordou que o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) declarou que o Estado de Israel tem a obrigação de “pôr termo à sua presença ilegal nos territórios palestinianos ocupados — que abrangem a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental — o mais rapidamente possível”.
“Não haverá uma solução sustentável para este conflito sem o fim da ocupação ilegal e sem uma solução viável de dois Estados. Gaza é e deve continuar a ser parte integrante de um Estado palestiniano”, concluiu.
O gabinete de segurança do Governo israelita anunciou esta sexta-feira a aprovação de um plano para a ocupação total da Faixa de Gaza, a começar pela cidade de Gaza, situada no norte da Faixa de Gaza e com cerca de um milhão de habitantes, metade da população do enclave.
Os habitantes da cidade de Gaza serão deslocados para sul até 7 de outubro, data do segundo aniversário do ataque do Hamas a Israel, que fez cerca de 1.200 mortos e 251 reféns e desencadeou no mesmo dia a guerra israelita ainda em curso no território palestiniano.
Até agora, bombardeamentos e ofensivas terrestres fizeram mais de 61.000 mortos e 150.000 feridos, na maioria civis, além de milhares soterrados sob os escombros, segundo os mais recentes dados das autoridades locais, considerados pela ONU fidedignos.
Prosseguem também diariamente as mortes por fome, causadas pelo bloqueio de ajuda humanitária durante mais de dois meses, seguido da proibição israelita de entrada no território de agências humanitárias da ONU e organizações não-governamentais (ONG).
Alguns mantimentos estão desde então a entrar a conta-gotas e a ser distribuídos em pontos considerados “seguros” pelo exército, que regularmente abre fogo sobre civis palestinianos desesperados para obter comida, fazendo milhares de mortos e feridos.
Há muito que a ONU declarou o território mergulhado numa grave crise humanitária, com mais de 2,1 milhões de pessoas numa “situação de fome catastrófica” e “o mais elevado número de vítimas alguma vez registado” pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo. Já no final de 2024, uma comissão especial da ONU tinha acusado Israel de genocídio em Gaza e de estar a usar a fome como arma de guerra – acusação logo refutada pelo Governo israelita, mas sem apresentar quaisquer argumentos.
Se tiver uma história que queira partilhar sobre irregularidades na sua autarquia, preencha este formulário anónimo.
Se tiver uma história que queira partilhar sobre irregularidades na sua autarquia, preencha este formulário anónimo.