Joana Andrade - 8 ago. 16:15
Ventura é uma cópia de José Mourinho
Ventura é uma cópia de José Mourinho
O líder do Chega alimenta-se, com deleite e volúpia, dos ataques que todos o atores políticos, jornalísticos e comentadores lhe fazem. Cada ataque é mais uma dúzia de votos no bolso, atendendo ao que se tem visto nas últimas eleições e ao que se passa nas redes sociais, onde Ventura é praticamente o José Mourinho da política.
Não tenho memória de um fenómeno idêntico, mas as ‘forças’ têm-se unido para contribuir para o impensável há meia dúzia de anos: André Ventura aproxima-se cada vez mais do cargo de primeiro-ministro. Há seis ou sete anos, quando o entrevistei pela primeira vez, achei que tinha um certa loucura, no que dizia respeito às suas ambições políticas – não era o único que me surpreendia com os cenários futuros que idealizava. Já em 2021 ou 2022, quando me disse que vai ser primeiro-ministro, provoquei-o perguntando-lhe se estávamos a beber o mesmo vinho à refeição. Mas eu também me tinha rido dele quando foi eleito deputado único e me disse que iria subir muito nas eleições seguintes: elegeu 12 deputados. Depois passou para 50 e nas vésperas das últimas eleições, em todos os debates televisivos em que entrou, foi uma nódoa, um incompetente, mentiroso, racista e xenófobo para a quase totalidade dos analistas que encheram longas horas de televisão para comentarem um debate que teve à volta de 50 minutos. Só que nas eleições de 18 de maio deste ano, Ventura conseguiu que 1.437.881 portugueses votassem no Chega, elegendo 60 deputados. O Chega ficou a 533.677 votos da AD e a 4.313 do PS, embora tenha conseguido eleger mais dois deputados do que os socialistas.
De 2024 para 2025, o Chega subiu 268.045 votos. E subiu como? Com os ataques sucessivos que políticos, jornalistas e comentadores lhe fazem, alimentando-o dessa forma. O líder do Chega parece um toureiro no meio da arena a picar os seus ‘opositores’, leia-se jornalistas, comentadores, políticos e por aí fora. E ao chamar os ‘adversários’ para o meio da ‘arena’, estes vão permitindo a Ventura executar chicuelinas e verónicas na perfeição – leia-se ganhar mais milhares de votos. Quanto mais o atacam, mais o povo lhe pede outra chicuelina. Faz-me um pouco confusão as pessoas não perceberem isso, se o querem desacreditar não é, seguramente, com ataques primários. Precisavam de fazer o jogo do líder do Chega e puxá-lo, em vez de serem puxados, para o meio da arena.
Ventura faz-me lembrar, cada vez mais, José Mourinho no início da sua carreira como treinador principal. Rezam as crónicas que o treinador setubalense espicaçava os seus jogadores, enchendo as paredes do balneário com entrevistas dos jogadores que iam enfrentar na semana seguinte, onde os adversários davam conta da vontade de vencer o FC Porto. «Vocês vão permitir isto?», questionava aquele que ficou conhecido no Reino Unido como ‘special one’. É um facto que Mourinho conseguiu ganhar duas Ligas dos Campeões com equipas relativamente ‘modestas’: FC Porto e Inter Milão. Depois disso, conseguiu mais uma Liga Europa pelo Manchester United e uma Liga Conferência pela Roma, competições que ele num passado não muito distante considerava menores. Mas alcançou o topo do mundo futebolístico, andando há anos a tentar alcançar o topo de novo. Se isso será possível, muitos duvidam. Voltando a André Ventura, o seu jogo irá permitir-lhe chegar a primeiro-ministro? É duvidoso, mas cada vez mais parece possível, atendendo às chicuelinas que vai fazendo na arena mediática.
Na semana passada publicámos um texto sobre o relatório de 2024 da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, que foi finalmente tornado público. Não vi nenhum político do Governo, ministra da Justiça ou da Administração Interna, por exemplo, a explicar os números divulgados, permitindo que se façam diferentes leituras. Há factos que são indesmentíveis, como o número de violadores presos ter aumentado quase 50%, ou que o número de estrangeiros que cometeram homicídios também disparou. Fugindo ao tema, vão dar espaço a quem? A André Ventura, como é óbvio.
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