publico.pt - 9 ago. 17:26
Putin atravessa estreito de Bering para encontro com Trump e finta TPI
Putin atravessa estreito de Bering para encontro com Trump e finta TPI
Zelensky não tem lugar à mesa da negociação sobre cessar-fogo, mas diz que ceder território está fora de questão. De férias em Inglaterra, J.D. Vance recebe conselheiros europeus e ucranianos.
Depois de alguma especulação sobre o local do encontro entre Donald Trump e Vladimir Putin, o Presidente norte-americano anunciou que a reunião para discutir o conflito na Ucrânia irá realizar-se no dia 15, no Estado norte-americano do Alasca, onde a distância mais curta da Rússia são cerca de 3,8 quilómetros.
“A Rússia e os EUA são vizinhos próximos, com fronteiras comuns. Parece bastante lógico que a nossa delegação atravesse simplesmente o Estreito de Bering e que uma cimeira tão importante e tão esperada entre os líderes dos dois países seja realizada lá”, disse este sábado o assessor do Kremlin, Yury Ushakov, sem fazer qualquer referência ao mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) emitido contra Putin, que restringe a capacidade de movimentos do líder russo.
Os Estados Unidos, tal como países como a China, Israel e Turquia, não reconhecem a jurisdição do TPI, pelo que o encontro, que pode ser decisivo para o futuro da guerra na Ucrânia, não representa qualquer risco para Putin, que em Março de 2023 foi acusado de estar envolvido no envio de crianças ucranianas para a Rússia, para serem encaminhadas para adopção.
Na sexta-feira, Trump deu a entender aos jornalistas que a Ucrânia poderá ter de ceder território para alcançar a paz com a Rússia. “Haverá alguma troca de territórios, para o bem de ambos”, afirmou o Presidente dos EUA.
A CBS News também deu conta que a Casa Branca está a tentar convencer os líderes europeus a aceitarem um acordo que levaria a Ucrânia a ceder vastas áreas do seu território, incluindo Donetsk, Lugansk, Zaporijjia e Kherson, o que vem em linha com o que foi noticiado pela Reuters no início da semana, citando fontes do Kremlin.
A reacção de Volodymyr Zelensky foi rápida. Citado pela BBC, o Presidente ucraniano garantiu que “os ucranianos não vão entregar as suas terras aos ocupantes” e que qualquer decisão que “não envolva a Ucrânia” é “impraticável”.
Mas enquanto parece claro que EUA e Rússia vão discutir sozinhos as condições do cessar-fogo, aos ucranianos resta sentarem-se a uma espécie de mesa dos pequeninos com parceiros europeus e com o vice-presidente de Trump, J.D. Vance, que está de visita ao Reino Unido com a família.
O encontro deste sábado, que se acredita que ocorra em Chevening, a residência oficial do ministro do ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, David Lammy, em Kent, parece ter sido convocado a pedido dos EUA e deverá reunir os conselheiros de segurança nacional da Europa, Ucrânia e Estados Unidos, adianta a BBC.
Na plataforma X, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tem estado desde manhã a fazer actualizações das conversas que tem mantido com os líderes europeus e das demonstrações de apoio recebidas. Este sábado falou com líderes do Reino Unido, Dinamarca, Espanha, França, Estónia e Finlândia.
“Interesses económicos convergentes”Zelensky tem rejeitado sempre quaisquer pré-condições de paz que impliquem concessões territoriais, mas a pressão norte-americana pode retirar margem de manobra à Ucrânia se a Administração Trump cimentar a sua posição com o Kremlin. Eventualmente, Zelensky poderia ficar com o ónus de ser um obstáculo ao cessar-fogo.
De acordo com o comunicado divulgado pelo Kremlin este sábado, Trump e Putin vão “concentrar-se em discutir formas de alcançar uma solução sustentável para a crise da Ucrânia”, mas não só.
Notando que o Presidente dos EUA foi igualmente convidado a visitar a Rússia, Yuri Ushakov, destacou que os interesses económicos dos dois países “são convergentes no Alasca e no Árctico”, o que abre espaço a “projectos mutuamente benéficos de grande escala”.
Nada é dito sobre uma futura cooperação na Ucrânia, mas em Março (poucos dias depois do encontro desastroso entre Zelensky e Trump na Casa Branca), J.D. Vance deu uma entrevista à Fox News em que deixou claro que a melhor estratégia para acabar com o conflito na Ucrânia é aquela que traga vantagens económicas aos EUA.
“Se querem garantias de segurança reais, se querem realmente garantir que Vladimir Putin não invade novamente a Ucrânia, a melhor garantia de segurança é dar aos americanos vantagens económicas no futuro da Ucrânia”, afirmou Vance, que tem desvalorizado o papel dos europeus em conseguir acabar com a guerra, mas que é, com o ministro britânico David Lammy, o anfitrião do encontro de conselheiros de segurança deste sábado.