publico.pt - 9 ago. 13:52
Trump quer impor tarifas sobre o ouro e preço bate recorde
Trump quer impor tarifas sobre o ouro e preço bate recorde
Metal precioso bateu recorde na sexta-feira, depois de ter sido noticiado que os EUA pretendem impor tarifas sobre a importação de barras de ouro. Em Abril, este produto estava isento de tarifas.
O ouro voltou a quebrar recordes no final desta semana, um movimento que tem sido recorrente nos mercados financeiros ao longo deste ano, numa altura de incerteza económica. Desta vez, a valorização do metal precioso é explicada por mais uma decisão comercial do Presidente dos Estados Unidos da América (EUA): na sexta-feira, a Administração de Donald Trump anunciou a imposição de tarifas sobre as importações de ouro, recuando em relação à posição que havia sido tomada meses antes.
A decisão foi conhecida depois de o Financial Times avançar que os EUA irão taxar a importação de barras de ouro de um quilo ou de 100 onças (o equivalente a cerca de 2,8 quilos). De acordo com o jornal britânico, a decisão foi formalizada pela autoridade alfandegária e fronteiriça norte-americana (CBP, na sigla em inglês) através de um decreto datado de 31 de Julho, que determina que este tipo de ouro deve passar a ser classificado com um código alfandegário que não está incluído na lista de isenções de tarifas.
Até agora, recorda o jornal britânico, este metal precioso tem estado sempre de fora das ameaças de tarifas por parte de Donald Trump, até porque constitui um importante activo e uma disrupção na forma como é negociado poderá ter um impacto significativo sobre o sistema financeiro. Em Abril, quando anunciou pela primeira a intenção de impor aquilo a que chamou de "tarifas recíprocas" a quase todos os parceiros comerciais dos EUA, a Casa Branca isentava o ouro de quaisquer taxas aduaneiras novas.
Como tem acontecido por várias vezes ao longo dos últimos meses, Trump voltou atrás nesta intenção. A decisão terá particular impacto sobre os mercados financeiros globais, mas, também, sobre a Suíça, onde estão algumas das maiores refinarias de ouro do mundo e que é um dos maiores exportadores de barras de ouro e a quem os EUA também pretendem impor uma tarifa de 39% sobre todos os produtos (para além das tarifas específicas agora anunciadas sobre o ouro). Segundo o Financial Times, no período de 12 meses terminado em Junho deste ano, a Suíça exportou um total de 61,5 mil milhões de dólares em ouro para os EUA.
Após estas notícias, a Casa Branca divulgou uma nota de imprensa a dar conta de que pretende "emitir uma ordem executiva, no futuro próximo, para clarificar a desinformação quanto às tarifas sobre barras de ouro e outros produtos específicos". Para já, contudo, não adiantou mais detalhes sobre este assunto, nem explicou por que considera que está a ser difundida "desinformação" sobre o tema, uma actuação que também tem sido habitual.
Por esta altura, contudo, o primeiro impacto já se fazia sentir nos mercados financeiros. Na sexta-feira, os contratos de futuros negociados em Nova Iorque atingiram os 3534 dólares por onça (medida mais utilizada na cotação do ouro nos mercados financeiros, equivalente a cerca de 31 gramas), um novo máximo histórico. Mais tarde, o ouro acabou por atenuar os ganhos, mas manteve-se próximo deste valor recorde, nos 3458 dólares por onça.
A preocupar os mercados está, sobretudo, o facto de que o ouro é, historicamente, tido como um activo de refúgio para períodos de maior incerteza, um cenário que pode mudar se passar a ser taxado pelos EUA. "Isto levanta a questão sobre se haverá formas alternativas de celebrar estes contratos de futuros de ouro, em termos de produto e localização, ou se outros centros de refinação de ouro vão tornar-se mais relevantes", comenta uma analista do UBS, citada pelo Financial Times.