www.publico.ptpublico.pt - 9 ago. 18:23

Três mortos em ataque terrorista a aldeia em Cabo Delgado

Três mortos em ataque terrorista a aldeia em Cabo Delgado

ONG Save the Children diz que mais de 30 mil crianças fugiram dos ataques extremistas no Norte de Moçambique nas duas últimas semanas.

Dois paramilitares 'naparamas' e um popular foram mortos por alegados terroristas na aldeia de Nankumi, distrito de Ancuabe, província moçambicana de Cabo Delgado, disseram este sábado à Lusa fontes da comunidade.

O ataque aconteceu na noite de quinta-feira, a cerca de cinco quilómetros da localidade de Sunate (Silva Macua), e culminou com a morte das três pessoas, após a invasão da comunidade pelos rebeldes, relataram as fontes.

"Mataram três pessoas, dois 'naparamas', sendo um comandante e um civil", disse uma fonte a partir de Silva Macua.

Acrescentou que, os corpos dos 'naparamas' foram encontrados no mesmo dia, a escassos quilómetros da aldeia, e na sexta-feira foi encontrado o terceiro corpo.

Localizada ao longo da estrada Nacional 1, a aldeia de Nankumi acolhe deslocados da insurgência que afecta Cabo Delgado desde 2017, tendo esta incursão precipitado a fuga de famílias para a localidade de Silva Macua.

"Fugiram todos de Nankumi para Silva Macua, é triste, mas os terroristas continuam a circular", lamentou outra fonte.

Elementos associados ao grupo extremista Daesh reivindicaram hoje novos ataques nos distritos de Ancuabe e Balama, com pelo menos uma pessoa decapitada, num momento de crescente violência e milhares de deslocados naquela província moçambicana.

A reivindicação, feita através dos canais de propaganda do Daesh, refere que uma aldeia de Ancuabe foi atacada na sexta-feira, com os rebeldes a afirmarem que “capturaram um elemento das milícias locais”, depois “decapitado”.

No dia anterior, mas no distrito de Balama, os insurgentes, alegadamente pertencentes ao grupo Ahlu-Sunnah wal Jama`a (ASWJ), associado ao Daesh, reivindicam ter incendiado a casa de um “comandante das milícias” locais, numa aparente referência aos guerrilheiros ‘naparamas’, que também combatem estes grupos.

Outras reivindicações dos últimos dias, confirmadas por fontes locais da Igreja Católica, apontam para casas e igrejas incendiadas em vários pontos de Cabo Delgado, desde o final de Julho, incluindo a decapitação de vários “cristãos” entre a população.

Os ‘naparamas’ são paramilitares moçambicanos que surgiram na década de 1980, durante a guerra civil, aliando conhecimentos tradicionais e elementos místicos no combate aos inimigos, actuando em comunidade.

Em Cabo Delgado, estas milícias apoiam as Forças de Defesa e Segurança (FDS) no combate aos extremistas que actuam localmente desde 2017 e já provocaram mais de um milhão de deslocados em toda a província.

Mais de 57 mil pessoas foram deslocadas desde 20 de Julho na província moçambicana de Cabo Delgado após o recrudescimento de ataques de extremistas, segundo dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM).

De acordo com o mais recente relatório da OIM, com dados de 20 de Julho a 03 de Agosto, “a escalada de ataques e o crescente medo de violência” por parte de grupos armados não estatais nos distritos de Muidumbe, Ancuabe e Chiúre, “levaram ao deslocamento de aproximadamente 57.034 indivíduos”, num total de 13.343 famílias.

Incluem-se 490 grávidas, 1.077 idosos, 191 pessoas com problemas de mobilidade e 126 crianças separadas dos pais, que chegam a andar mais de 50 quilómetros, pela mata, noite e dia, sobretudo em direcção à sede do distrito de Chiúre, no sul da província de Cabo Delgado.

Crianças em risco

A ONG Save The Children estima que mais de 30 mil crianças tenham fugido da nova onda de ataques em Cabo Delgado nas últimas duas semanas.

"Estamos a testemunhar uma situação terrível no local, onde as necessidades das crianças superam em muito os recursos disponíveis", disse a directora nacional da Save the Children Moçambique, Ilaria Manunza, citada num comunicado daquela Organização Não-Governamental (ONG).

De acordo com a representante, os últimos ataques representam um "grande retrocesso" nos esforços para reconstruir a vida de crianças e famílias que têm vivido em conflito nos últimos oito anos. A maioria enfrenta insegurança alimentar e o risco de desnutrição é real.

O conflito tem causado um impacto "devastador" nas crianças que crescem em Cabo Delgado, havendo "relatos recorrentes de decapitações e sequestros, incluindo múltiplas vítimas infantis" e as crianças separadas das famílias são particularmente vulneráveis.

Apelando à ajuda da comunidade internacional, a Save The Children lembra que as crianças deslocadas "correm maior risco de violência, exploração, abuso, casamento infantil e recrutamento por grupos armados não estatais".

O ministro da Defesa Nacional admitiu no final de Julho preocupação com a onda de novos ataques, adiantando que as forças de defesa estão no terreno a perseguir os rebeldes armados.

“Como força de segurança não estamos satisfeitos com o estado atual, tendo em conta que os terroristas nos últimos dias tiveram acesso às zonas mais distantes do centro de gravidade que nós assinalámos”, disse o ministro Cristóvão Chume, aos jornalistas.

NewsItem [
pubDate=2025-08-09 19:23:11.0
, url=https://www.publico.pt/2025/08/09/mundo/noticia/tres-mortos-ataque-terrorista-aldeia-cabo-delgado-2143487
, host=www.publico.pt
, wordCount=734
, contentCount=1
, socialActionCount=0
, slug=2025_08_09_156946693_tres-mortos-em-ataque-terrorista-a-aldeia-em-cabo-delgado
, topics=[moçambique]
, sections=[actualidade]
, score=0.000000]