observador.ptobservador.pt - 9 ago. 22:03

Trump não despediu Powell mas já colocou um homem dos seus na Reserva Federal

Trump não despediu Powell mas já colocou um homem dos seus na Reserva Federal

Foi uma nomeação temporária, mas a escolha de um dos seus, Stephen Miran, para entrar por alguns meses no conselho da Fed pode ter efeitos duradouros.

Stephen Miran, doutorado em Economia pela Universidade de Harvard, foi o nome escolhido por Donald Trump para ocupar na Reserva Federal (Fed) o lugar deixado vago com a demissão surpresa de Adriana D. Kugler, que tinha sido nomeada por Biden em 2023 e cujo mandato só terminava em janeiro.

Sem justificação, Kugler não esteve já na última reunião de política monetária que decidiu manter os juros, mas mostrou divisão no seio dos governadores. No último discurso que fez tinha apoiado a manutenção das taxas “por algum tempo”, pelo efeito que as tarifas alfandegárias poderiam ter nos preços aos consumidores.

A Fed manteve, mesmo, os juros, ainda que Donald Trump não perca uma oportunidade para pressionar Jerome Powell a descer as taxas, com elementos da Casa Branca a colocar a eventual demissão do presidente da Fed como possível. Mais recentemente foi noticiada a investigação por parte de Washington aos gastos da Fed com a nova sede.

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E esse foi mais um dos argumentos de elementos da Administração Trump para admitirem poder haver uma demissão de Powell. O que não aconteceu até ao momento. O mandato de Powell termina em 2026 e a lista de potenciais sucessores já vai longa.

Não é, no entanto, preciso esperar por 2026 para que Trump “entre” na Fed. Com o lugar deixado vago por Kugler, o Presidente norte-americano escolheu um dos seus homens, e um dos apoiantes da política de tarifas alfandegárias, para ocupar essa posição. E ainda que seja um cargo temporário e que tenha, ainda, de passar pelo Congresso, pode deixar lastro, escreve o Wall Street Journal.

Stephen Miran, um ex-gestor de fundos de investimentos, tornou-se num dos principais conselheiros de Trump. O economista de 42 anos é, desde março, presidente do Conselho de Conselheiros Económicos da Casa Branca. Trump terá conhecido Miran  enquanto assessor de Steve Mnuchin – secretário do Tesouro na primeira presidência do republicano (2016-2020). Formado pela Universidade de Boston, em 2005, doutorou-se em Harvard em 2010 e passou os anos seguintes a trabalhar na área de fundos de investimento. É tido como um dos obreiros da política tarifária de Trump, sendo seu o documento referido como o “manual de instruções” para uma reestruturação completa do sistema do comércio global que até deu lugar ao Acordo de Mar-a-Lago, que visa essa redefinição que implicava a desvalorização do dólar mas sem comprometer a sua posição de moeda de reserva mundial.

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Miran também já tem histórico de ataques à Fed, tendo até criticado não abertamente a admissão por parte da Reserva Federal de que as tarifas trazem riscos económicos. Chegou a criticar a Fed pelo que diz ser o “pensamento de grupo” em relação à política monetária, mas também acusando-a de desvio de missão e erros regulatórios, tendo, mesmo, defendido regras que permitam atuar sobre o banco central, num documento divulgado no ano passado. Muitas das suas propostas foram vistas como podendo limitar a independência do banco central. Recomendou, ainda, que o mandato dos governadores passem a ser de oito anos, em vez dos atuais 14. E inclusivamente defendeu que o presidente pudesse remover algum governador antes do fim do mandato.

Agora, vai para dentro do “galinheiro”, se a sua nomeação for confirmada pelo Senado. E terá uma palavra a dizer sobre a política de taxas de juro que Donald Trump tem insistido que devia levar outro rumo.

Quando este lugar ficou aberto, Trump disse estar “muito contente”. E não esperou muito para anunciar a sua nomeação, ainda que Miran vá ocupar o cargo pelo período que falta completar o mandato de Kugler, ou seja, até final de janeiro. A 1 de fevereiro terá de haver designação para novo mandato. Nos jornais norte-americanos admite-se que a nomeação de agora poderá dar um sinal de quem Trump quer para presidente da Fed, a partir de maio 2026, para ocupar o cargo de Powell. Mas ainda não é certo que Jerome Powell, quando deixar a Presidência, não fique como governador, já que esse mandato específico só termina em 2028. Se se mantiver, Trump só tem de fazer uma nomeação para governador. E de entre os governadores tem de escolher o presidente. Mas fica com uma única hipótese de nomear a pessoa que queira para presidente.

Há sete lugares de governadores na Fed, mas a política monetária é decidida por 12 elementos — os governadores e rotativamente pelos presidentes de cinco bancos centrais regionais.

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