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O milagre da capitalização para salvar a sua reforma

O milagre da capitalização para salvar a sua reforma

As pensões vão baixar significativamente nos próximos anos, tornando cada vez mais importante construir um complemento de reforma. Automatizar a poupança e diversificar são elementos-chave.
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As reformas da Segurança Social enfrentam um futuro sombrio. O valor das pensões pagas pelo Estado vai cair dramaticamente para quase metade nos próximos anos, passando de um valor equivalente a 84,9% do último vencimento em 2025 para apenas 38,5% em 2050, segundo as últimas projeções da Comissão Europeia. Isto significa que, se nada for feito, os portugueses enfrentam o cenário de trabalharem mais anos para receberem uma pensão significativamente mais reduzida. Para quem está atualmente na vida ativa e só conta reformar-se dentro de 10 ou mais anos, esta perspetiva está longe de ser risonha.

A matemática é implacável: apenas 24% dos portugueses refere que poupa para a reforma, enquanto a generalidade (84,5%) deposita o seu futuro nas mãos do Estado, segundo o último Inquérito à Literacia Financeira do Banco de Portugal. Esta dependência exclusiva do sistema público de pensões é um erro que pode custar caro no futuro.

Para os futuros reformados, a solução passa por tomar as rédeas da sua reforma o mais cedo possível, recorrendo ao ativo mais indicado para o conseguir: as ações. De acordo com um trabalho académico, desenvolvido anualmente há vários anos por Elroy Dimson, Paul Marsh e Mike Staunton para o UBS com base em 36 mercados (Portugal inclusive), as ações tendem a apresentar um desempenho bem acima dos restantes ativos.

O último estudo dos três professores publicado este ano revela que, só nos últimos 50 anos, as ações foram capazes de oferecer uma rendibilidade média anual de 6,9% acima da inflação, face a uma rendibilidade de 4% das obrigações e de 0,6% de títulos semelhantes a depósitos a prazo.

O poder de começar cedo e de forma disciplinada

O sucesso para alcançar um complemento de reforma tranquilo e com menos esforço prepara-se no presente e tirando partido do mais fiel amigo dos investidores: o tempo. A diferença de começar a poupar aos 20 ou aos 35 anos é significativa. Imagine duas pessoas: a Maria, que começa a investir aos 20 anos, e António, que só começa aos 35, e ambos com um investimento inicial de 1.000 euros. Assumindo uma rendibilidade média anual real de 5% e uma taxa de inflação média de 2%, enquanto a Maria necessitará de poupar apenas 32 euros por mês para chegar aos 60 anos com 100 mil euros, o António precisará de poupar 116 euros mensais — quase o quádruplo.

Esta diferença explica-se pelo efeito da capitalização dos juros ao longo do tempo, conhecido como o “milagre” da capitalização. E começar cedo esta caminhada e seguir uma estratégia de investimento regular e disciplinada, permite também “arriscar” mais com segurança, porque o tempo ajudará a mitigar perdas momentâneas e a ‘abafar’ a volatilidade de curto prazo dos mercados.

De acordo com dados da OCDE, se em 2019 havia 37 idosos por 100 trabalhadores, em 2030 esse rácio deverá subir para 47, e em 2050 serão 69 idosos por 100 trabalhadores, um rácio 21% acima da média dos países da União Europeia.

O sistema da Segurança Social enfrenta uma enorme pressão por conta do preço da demografia. Se por um lado há cada vez menos nascimentos, por outro vive-se também mais tempo. Esta equação faz com que haja cada vez menos população a descontar e mais pensionistas a receber e durante mais tempo.

De acordo com dados da OCDE, se em 2019 havia 37 idosos por 100 trabalhadores, em 2030 esse rácio deverá subir para 47, e em 2050 serão 69 idosos por 100 trabalhadores, um rácio 21% acima da média dos países da União Europeia. Esta tendência implicará uma fatura mais pesada para as contas da Segurança Social que culminará com um aumento das contribuições (impostos) ou em novas reformas sobre o cálculo das pensões.

Estes números espelham claramente a necessidade de os portugueses procurarem uma forma de agregarem a sua reforma do sistema público com um complemento de reforma individual, para que quando os “Anos Dourados” chegarem, o nível de vida não tenha de cair a pique.

As reformas vão degradar-se e quem não quiser deixar o seu futuro dependente das decisões políticas deve começar já hoje a preparar a sua reforma, investindo regularmente em ações através de fundos de investimento ou fundos cotados, que oferecem diversificação do risco. E depois usar o tempo a seu favor. Alcançar uma reforma tranquila não é um sonho impossível. É uma realidade ao alcance de quem tiver a coragem de começar hoje, a disciplina de continuar amanhã e a sabedoria de confiar no tempo e no poder das ações.

Manual do investidor disciplinado
  1. Automatização da poupança e do investimento: Programe transferências mensais imediatamente após receber o salário para “alimentar” o complemento de reforma. Estudos mostram que quem automatiza poupa mais de 40% face a quem não o faz.
  2. Escolha de ativos: As ações são o ativo mais indicado para quem procura investir no longo prazo, mas nem todos os investidores têm tempo e conhecimento para acompanhar o mercado e as empresas em que investem. Por isso, investir em ações pela porta dos fundos de investimento e dos fundos cotados (conhecidos também como ETF) globais permitem obter uma exposição ao mercado acionista de forma diversificada sem gastar uma fortuna.
  3. Reinvestimento total: Sempre que recebe dividendos das ações, o rendimento é tributado à taxa de 28%. Para evitar este ‘corte’ e potenciar ainda mais o investimento, a opção deve recair para empresas que capitalizem os dividendos em novos investimentos ou em fundos de investimento que promovam a capitalização desses dividendos, em detrimento da distribuição.
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