eco.sapo.pt - 9 ago. 09:33
Como os três grandes estão a transformar os estádios em máquinas de dinheiro
Como os três grandes estão a transformar os estádios em máquinas de dinheiro
Benfica, FC Porto e Sporting estão a apostar nos estádios como zonas de entretenimento para atraírem mais adeptos. E estão a associar-se a bancos e fundos de investimento para acelerar estratégias.
Quando os adeptos do Sporting regressarem a Alvalade para a nova temporada, vão poder desfrutar de uma experiência que irá muito para lá do que se vai passar dentro das quatro linhas – e das quais os bicampeões guardam as melhores memórias nas últimas duas épocas.
Entre outras novidades, vão ter ao seu dispor um novo restaurante com vista privilegiada para o relvado, embora a promessa de uma “experiência gastronómica exclusiva num ambiente sofisticado” possa vir a não estar ao alcance do bolso de qualquer um.
Mais: os assentos da bancada central do piso 2 poente vão dar lugar a “poltronas de excelência”, cada uma disponibilizando uma TV-tablet individual que permitirá verificar no momento se era mesmo penálti ou se o golo foi bem invalidado.
Tudo isto faz parte do plano de renovação do estádio dos leões numa aposta de 50 milhões de euros que inclui ainda um reforço da capacidade em mais dois mil lugares com o fim do fosso, um espaço lounge e ainda um elevador panorâmico.
“Estamos a reinventar a experiência do dia de jogo em Portugal”, explicou o vice-presidente dos leões, André Bernardo, quando anunciou o projeto há um ano com o objetivo de duplicar as receitas para 170 milhões de euros até 2034.

O Sporting não é o único. FC Porto e Benfica também anunciaram recentemente planos para dinamizar os seus estádios, todos seguindo os passos que os grandes clubes europeus já estão a dar lá fora.
Os exemplos mais recentes vêm de Madrid e Barcelona, onde os dois gigantes do futebol mundial estão prestes a concluir trabalhos das obras de renovação dos míticos Santiago Barnabéu e Camp Nou em investimentos acima dos mil milhões de euros. Inter Milão, AC Milan, Roma, Manchester United e Chelsea são outros grandes clubes europeus que se preparam para fazer o mesmo caminho. A ideia é que os estádios possam ser usados 365 dias por ano e não apenas nos dias de jogo.
“Embora estejam ainda atrás dos maiores clubes europeus em termos de exploração comercial das infraestruturas, os clubes portugueses estão a dar passos significativos para colmatar essa diferença”, adianta Daniel Sá, diretor executivo do IPAM.
“Em termos de margem, estão condicionados a quatro parâmetros”, acrescenta Paulo Reis Mourão, professor de Economia da Universidade do Minho, apontando “a versatilidade da infraestrutura (estádio e área envolvente), a elasticidade de preços e de rendimento dos adeptos e simpatizantes, a dinamização dos parceiros estratégicos assim como a permeabilidade do público à ideia (que pode levar o seu tempo)” como fatores que os responsáveis dos três grandes têm de colocar do outro lado da equação quando têm de vender o clube a terceiras partes.
Com o processo de centralização dos direitos televisivos dos jogos definitivamente em cima da mesa e regras financeiras cada vez mais apertadas, os maiores clubes nacionais procuram diversificar as fontes de receitas e reduzir a dependência da venda de jogadores para se manterem competitivos a nível internacional.
As contas das últimas cinco temporadas mostram que as transferências de jogadores representam cerca de 40% das receitas totais de Benfica, FC Porto e Sporting. Dinheiro necessário para manter as (frágeis) contas dos três grandes à tona, mas cuja volatilidade os deixa muitas vezes à mercê de más épocas desportivas.
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Fundos associam-se, bancos de foraO Benfica foi o último a anunciar grandes planos para o seu estádio — de resto, já habituado a receber concertos das maiores estrelas da música como Tailor Swift ou Imagine Dragons. O “Benfica District” é o projeto com o qual o presidente Rui Costa procura ser reeleito nas eleições marcadas para outubro e que se adivinham das mais disputadas na história das águias.
Além do aumento da capacidade da ‘Catedral’ para 70 mil lugares, o investimento de 220 milhões de euros prevê a reformulação de toda a zona envolvente com a construção de três novos pavilhões, um hotel e um teatro. O anúncio do Benfica há duas semanas não faz por menos: “O Benfica District é um projeto transformador para o espaço do Estádio da Luz, posicionando aquele território como um destino nacional e internacional de excelência para o desporto e o entretenimento”. Quando estiver pronto vai adicionar cerca de 40 milhões de euros em receitas adicionais aos cofres das águias.
Rui Costa revelou na altura que esta empreitada em nada beliscará a capacidade financeira do clube para reforçar a equipa. Mas de onde virá o dinheiro?
Os bancos cortaram a exposição ao futebol na última década, mas as necessidades de financiamento dos clubes mantiveram-se, abrindo a porta aos grandes fundos de investimento internacionais.
No caso do “Benfica District”, os encarnados estão a negociar um acordo com a Fortitude Capital, liderado pelo banqueiro ex-Goldman Sachs António Esteves, que vê grande potencial nas componentes imobiliária, hoteleira, comercial e desportiva do projeto. Em cima da mesa estará um modelo de partilha de risco e retorno entre clube e fundo.
O Benfica poderá não ser a única parceria da Fortitude, que revelou à agência Bloomberg que já conseguiu captar cerca de 500 milhões de euros para investir na melhoria dos estádios de futebol em Portugal.

Antes dos encarnados, foram os portistas a associarem-se a um fundo de investimento para potenciarem as receitas do Estádio do Dragão. Há um ano, o FC Porto anunciou um acordo com a Ithaka para a exploração comercial das infraestruturas portistas num negócio que pode valer 100 milhões de euros.
Também num modelo de partilha de risco e receita, a Ithaka vai gerir todos os aspetos comerciais relacionados com o estádio, incluindo os naming rights do Estádio do Dragão, um negócio pouco desenvolvido em Portugal, mas que gera milhões aos clubes europeus.
“Culturalmente, os adeptos dos três grandes resistem à ideia de alterar o nome dos seus estádios, que estão profundamente ligados à identidade dos clubes”, lembra Daniel Sá.
“Mais cedo ou mais tarde, o naming right vai impor-se naturalmente no futebol nacional. A forma como clubes e sócios lidarão com essas questões, além de ser algo fluido nas atuais gerações, também obrigará a uma gestão de comunicação das várias entidades. Há vários estádios Axa ou Allianz espalhados pelo mundo e essa titulação não parece beliscar o amor-próprio do adepto mais conservador”, observa Paulo Reis Mourão.
Clubes apostam nas empresas-estádioNo âmbito do negócio com a Ithaka, os portistas avançaram para a criação de uma empresa estádio (stadco). Não é uma novidade no futebol europeu, outros clubes já importaram o modelo americano, que há muito vê o desporto como um negócio do entretenimento e do imobiliário. O Sporting acabou de fazer o mesmo que o rival do Norte.
Ao contrário do negócio do futebol, as stadcos apresentam um perfil de risco muito mais baixo, gerando um retorno previsível a longo prazo.

Foi através da sua stadco — a Dragon Notes — que a SAD portista, no âmbito da reestruturação financeira, conseguiu levantar no ano passado um empréstimo de 115 milhões de euros no mercado norte-americano através do banco de investimento JPMorgan Chase, pagando metade do juro que pagaria se se tivesse financiado junto de um fundo de private equity.
Os leões deverão seguir as mesmas pisadas. Criaram nos últimos meses a Sporting Entertainment, a stadco leonina que irá ser responsável pela gestão e exploração comercial do Estádio de Alvalade. O clube também está a negociar um financiamento de 100 milhões de euros junto do JPMorgan. A temporada de futebol ainda está a arrancar, mas o dinheiro não para.