publico.pt - 9 ago. 18:45
Por sugestão da GNR, Dona Leonilda comprou uma ventoinha para enfrentar a onda de calor
Por sugestão da GNR, Dona Leonilda comprou uma ventoinha para enfrentar a onda de calor
Direcção-Geral da Saúde e GNR retomaram acções de promoção da saúde durante o período de calor em Portugal. Objectivo é disseminar boas práticas em visitas a pessoas com mais de 65 anos.
Leonilda Paiva comprou “há poucos dias” um ventilador, por 35 euros, para conseguir enfrentar estes dias de calor forte. A viúva de 77 anos tomou a decisão após uma das visitas regulares que militares da Guarda Nacional Republicana (GNR) fazem à sua habitação, em Pedroso, Vila Nova de Gaia. “Eles falaram do calor e eu juntei dinheiro para comprar a ventoinha”, conta a viúva, que vive com o filho numa pequena casa arrendada.
A visita de militares à casa de Leonilda Paiva integra-se no Projecto de Promoção da Saúde, que resulta de uma parceria entre a GNR e a Direcção-Geral da Saúde (DGS). Criada em 2024, a iniciativa retomou em Julho as acções do módulo de Verão “em todas as regiões” de Portugal continental. Segundo a DGS, o objectivo é “disseminar boas práticas de saúde junto da população” durante o período estival, quando as altas temperaturas podem oferecer riscos à saúde humana.
Gisela Leiras, chefe de divisão de literacia em saúde e bem-estar da DGS, explica ao Azul que o “embrião” deste projecto nasceu durante a pandemia de covid, quando foi necessário identificar líderes comunitários para transmitir à população local mensagens sobre o uso correcto de máscaras, por exemplo, ou as vias de transmissão do coronavírus.
“O nosso objectivo é pegar no que fizemos bem na pandemia e, agora, canalizar para as doenças crónicas”, explica Gisela Leiras. Os militares são valorizados como “micro-influenciadores”, uma vez que conhecem bem a comunidade e construíram uma relação de confiança com a população. Por isso, estão bem posicionados para, numa lógica de “sinergia” com a DGS, promover uma cultura de prevenção e “gerar alterações de comportamento” em prol da saúde.
Como se proteger durante o calor?- Beber pelos menos 1,5 litros de água ao longo do dia (equivalente a oito copos)
- Evitar bebidas alcoólicas, que proporcionam uma falsa sensação de hidratação
- Procurar lugares frescos, com sombras, circulação de ar ou climatização
- Permanecer duas a três horas em espaços realmente frescos, como bibliotecas ou centros comerciais
- Evitar exposição solar directa entre 11h00 e 17h00
- Aplicar protector solar com factor de protecção igual ou superior a 30
- Usar roupas de cor clara, leves e largas
- Optar por refeições leves, pouco condimentadas e frescas
Fonte: Direcção-Geral de Saúde
“Verões mais quentes”Leonilda Paiva é uma das cerca de cem pessoas com mais de 65 anos que, no concelho de Vila Nova de Gaia, foram sinalizadas como parte de um grupo que requer mais atenção – devido ao isolamento ou outro factor que as deixe mais vulneráveis. Durante as visitas à comunidade, os militares tentam transmitir mensagens ligadas à importância da hidratação, por exemplo, ou do arejamento das divisões da casa.
“À noite deixamos a janela aberta, mas com as persianas rebaixadas para refrescar o quarto. Há aqui muita humidade, as paredes estão tão escuras que parecem o quarto das bruxas”, conta Leonilda Paiva à porta de casa, vestindo uma blusa preta de alças. Durante o dia, recorre ao leque para aguentar o calor e, agora, à ventoinha recém-adquirida por sugestão dos seus “amigos” militares.
A viúva de 77 anos sente que os “os Verões estão cada vez mais quentes”, uma vez que “a humanidade anda a fazer muita asneira” – uma referência às alterações climáticas que a Terra enfrenta, devido às emissões de gases com efeito de estufa, oriundas sobretudo da queima de combustíveis fósseis.
As pessoas mais velhas constituem um grupo vulnerável às ondas de calor, uma vez que tendem a transpirar pouco e sentir menos sede, características que interferem com os mecanismos fisiológicos de termorregulação. O isolamento, a mobilidade reduzida, a pobreza energética e condições crónicas de saúde também podem desempenhar um papel importante na vulnerabilidade dos idosos às altas temperaturas.
O destino seguinte dos militares Maurício Vieira e Rui Peixoto, que efectuam as visitas de apoio a este grupo da população, é a casa de Maria Laurinda, uma viúva de 83 anos, que habita uma moradia relativamente próxima da Estrada Nacional 222. “Costumo dizer que vivo sozinha, mas não abandonada. Tenho muitas amigas e o meu filho vem aqui muitas vezes almoçar comigo”, explica Maria Laurinda, na sala de jantar.
Em seguida, Maria Laurinda explica quais são as várias estratégias para se manter protegida durante o Verão. Uma das adaptações que faz é a aposta em refeições leves. O almoço previsto para aquele dia, por exemplo, é salada de vagens com peixe cozido, com direito a uma fatia de melancia como sobremesa.
“A partir das 13h00, fecho sempre as persianas para não aquecer a casa e tenho aqui esta ventoinha para circular o ar. Mas o meu espaço mesmo é aqui no jardim, onde está mais fresquinho, e onde gosto de ler”, afirma Maria Laurinda, que trabalhou como professora em Vila Nova de Gaia e, hoje, dedica o tempo livre aos livros, às palavras cruzadas, ao sudoku e ao ioga.
Entre as estratégias partilhadas por membros da GNR durante as visitas à comunidade estão, por exemplo, a criação de um lembrete diário, seja em papel ou no despertador, para recordar que a partir das 11h00, e até à 17h00, não é recomendável estar directamente exposto ao sol. Outro desafio proposto é combinar com vizinhos ou familiares um passeio até espaços frescos, como bibliotecas ou centros comerciais, para permitir ao corpo reduzir o stress térmico.
Para encorajar boas práticas de saúde, os militares da GNR tiveram uma formação ministrada por profissionais de saúde, “com foco no impacto fisiológico do calor, nas estratégias de comunicação e de activação comportamental, bem como nas medidas preventivas a adoptar durante este período sazonal”, refere a DGS numa nota.